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Por O Globo e agências internacionais — Kiev e Moscou

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse na quinta-feira que a aguardada contraofensiva militar de seu país ainda precisa de “um pouco mais de tempo” — o mais recente de uma série de sinais amarelos sobre as capacidades ucranianas de retomar territórios ocupados. Moscou parece ter aprendido com erros prévios e está mais bem preparada, porém também lida com problemas que vão da falta de munição à dificuldade de recrutamento, passando pelos supostos avanços ucranianos em Bakhmut, o epicentro da guerra.

Direto ao ponto: Quais são as limitações russas e ucranianas no conflito?

Sinais ruins

Blefes também são tática de guerra e Zelensky pode apenas desejar abaixar a guarda russa, mas há outros indícios de problemas para os ucranianos. O primeiro deles é geográfico: a lama.

Toda primavera o gelo do inverno derrete, mas como ainda não está suficientemente quente para derretê-lo, a terra fica enlameada e praticamente intransponível. E neste ano a temporada de bezdorizhzhia — palavra em ucraniano para se referir à situação, que quer dizer "sem estradas" — está particularmente longa.

A vantagem é dos russos, que já ocupam as posições almejadas por Kiev, e tem a natureza como um obstáculo adicional. O cálculo de por onde exatamente invadir, atacando o adversário em seu calcanhar de Aquiles, também é complexo e demanda planejamento. Os pormenores da estratégia não vieram à tona, mas especula-se que Kiev tentará liberar Zaporíjia, no Sul, além de isolar a Península da Crimeia, anexada em 2014.

Mas Zelensky não é o primeiro a apontar problemas. Na semana passada, o ministro da Defesa, Oleksii Reznikov, já havia dito ao jornal americano Washington Post que a expectativa ao redor da contraofensiva "está superestimada ao redor do mundo".

Documentos do Pentágono vazados em abril também sinalizavam preocupações americanas, relatando fraquezas na defesa aérea e no arsenal da Ucrânia. Os materiais de fevereiro e março afirmavam que as defesas aéreas de médio alcance usadas para proteger os soldados ucranianos na linha de frente seriam “completamente reduzidas até 23 de maio”.

O temor ucraniano é que um desempenho ruim na contraofensiva aumente a pressão para negociações de paz. Kiev demanda que os russos abandonem todos os territórios ocupados, incluindo a Península da Crimeia, anexada unilateralmente em 2014. Moscou rechaça tais termos.

Munições escassas

Com quase 15 meses de guerra, a falta de munições é um problema que não poupa ninguém. Os russos negam problemas, mas são frequentes os apelos do grupo mercenário Wagner para que o Kremlin o abasteça com munições.

O líder da organização, Yevgeny Prigojin, havia na semana passada ameaçado abandonar Bakhmut a menos que recebesse os projéteis. Apesar de a ação paramilitar gerar tensões na defesa russa — o protagonismo que os mercenários vêm assumindo gera descontentamento —, as remessas supostamente chegaram dias depois e Prigojin desistiu.

Por outro lado, o jornal Washington Post estimou em abril que os soldados do ucranianos disparavam 7,7 mil projéteis de artilharia por dia — ou seja, um a cada seis segundos. Cálculos mostram que o número russo pode ser três vezes maior.

As armas ucranianas são em sua maioria soviéticas, e abastecê-las há anos é um problema. Logo, Kiev tem dependência cada vez maior dos projéteis de 155 mm fornecidos pelo Ocidente, apesar de haver menos armas para usá-los.

Possíveis soluções

Os americanos esperam produzir 90 mil projéteis por mês, os europeus prometeram uma leva de um milhão e os britânicos encabeçam uma força-tarefa para encontrar e comprar munições soviéticas pelo mundo. Tudo isso, contudo, leva tempo.

Encabeçados por Washington, aliados já enviaram para a Ucrânia mais de US$ 70 bilhões (R$ 345,2 bilhões) em ajuda militar, mas as armas vêm em lotes. Entre eles, sistemas modernos de defesa antiaérea, lança-foguetes, mísseis e tanques blindados — alguns países europeus mandaram inclusive caças.

Os britânicos anunciaram nesta semana o envio de vários mísseis do tipo Storm Shadow, de longo alcance. Os potentes tanques Abrams, prometidos pelos EUA, não devem chegar a tempo da contraofensiva.

Soldados ucranianos cavam trincheiras perto da cidade ucraniana de Bakhmut — Foto: Dimitar Dilkoff
Soldados ucranianos cavam trincheiras perto da cidade ucraniana de Bakhmut — Foto: Dimitar Dilkoff

Limitações humanas

Por meses os ucranianos não precisaram se preocupar com recrutamento, já que dezenas de milhares de cidadãos se voluntariaram para a guerra. Agora, contudo, vêm convocando cada vez quem decidiu ficar no país sem se alistar.

Os americanos estimam que hoje haja ao redor de 500 mil militares ucranianos, contando os na ativa e de reserva. Os russos, acredita-se, ficam na casa de 1,3 milhão.

Na desvantagem numérica, Kiev foca na qualidade. Para preparar os advogados, cabeleireiros e programadores, por exemplo, a UE dobrou no início do ano suas capacidades de treinamento.

Baixas enormes

Mas ambos efetivos são comprometidos por baixas enormes. Segundo os documentos vazados pelos americanos, estima-se que entre 15,5 mil e 17,5 mil soldados ucranianos tenham morrido desde que a guerra eclodiu. Os feridos ficam entre 109 mil e 113,5 mil.

Os russos mortos ficariam entre 35,5 mil e 43 mil, com feridos entre 154 mil a 180 mil. Ambas contagens, contudo, provavelmente são subestimadas.

Soldados ucranianos caminham em estrada perto de Bakhmut — Foto: Dimitar Dilkoff/AFP
Soldados ucranianos caminham em estrada perto de Bakhmut — Foto: Dimitar Dilkoff/AFP

O Kremlin também tem problemas de mobilização: em setembro, Putin convocou 300 mil reservistas, gerando protestos pontuais pelo país. Muitos deles foram mandados para o campo de batalha sem o treinamento adequado, com baixas enormes.

Novas convocações são uma ideia mal recebida internamente e, para evitá-las, parece haver um aumento no recrutamento da população prisional.

Bakhmut, o epicentro

Grande parte das baixas mais recentes vem de Bakhmut, batalha mais prolongada desta guerra. O imbróglio é letal para ambos, mas a estimativa é de que apenas os russos percam diariamente entre 100 e 500 soldados.

Um comandante militar ucraniano afirmou na quarta que seus soldados conseguiram avançar 2 km na região após semanas sem grandes mudanças na linha de frente. Há indícios de que a troca de fogo se intensificou, mas a veracidade da informação não pôde ser confirmada.

Os ucranianos negam que esta seja a grande ofensiva, apesar de Prigojin dizer o contrário. Ele acusa os russos de abandonarem a região, deixando seus homens sozinhos dentro da cidade, comparando a situação a um “moedor de carne”.

Moscou afirma que tudo está "sob controle" e que alegações no sentido contrário "não correspondem à realidade". O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, entretanto, reconheceu que a incursão na Ucrânia é uma operação militar "muito difícil".

Desfile esvaziado

Em Zaporíjia, no sul, outro sinal de recuo (ou de antecipação para a contraofensiva ucraniana): os russos planejam retirar 3,1 mil pessoas, 2,7 mil delas empregadas da central nuclear homônima, a maior da Europa. Segundo a Energodar, estatal energética ucraniana, isso representaria um grande risco para o funcionamento da planta.

A tradicional parada militar do Dia da Vitória, que marca o aniversário do triunfo soviético sobre os nazistas na Segunda Guerra Mundial, também chamou atenção no dia 9. Outrora uma plataforma para Putin demonstrar seu poderio militar, com desfiles de tanques e enormes paradas militares, este ano teve contingente esvaziado, com os militares na batalha, e apenas um tanque vintage.

Pelo país, marchas em memória das vítimas de guerra foram canceladas, e a Praça Vermelha foi fechada para o público. Indício da preocupação com a segurança, megarreforçada após um suposto ataque de drone contra o Kremlin no dia 3, mas também de que o apoio popular à guerra pode não ser tão unânime quanto Putin tenta provar.

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