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Por Marina Gonçalves

A derrota do presidente chileno, Gabriel Boric, na eleição para eleger o novo Conselho Constituinte, pode acabar isolando ainda mais seu governo, que já contava com dificuldades no Congresso, onde não tem maioria. Mas não é apenas a esquerda quem sai perdendo do processo: todo o sistema político perde força diante da vitória esmagadora da extrema direita, representada por José Antonio Kast, derrotado por Boric nas eleições presidenciais em 2021, e já um potencial candidato para 2026.

A direita tradicional representada pelo ex-presidente Sebastián Piñera, e que vinha aos poucos perdendo relevância, também sai menor, após ceder espaço para o Partido Republicano, criado por Kast, analisam especialistas chilenos ouvidos pelo GLOBO. Por outro lado, o próprio Kast terá desafios importantes pela frente, e precisará se afastar do discurso extremista e fazer concessões se quiser chegar ao poder.

Pouco mais de um ano após tomar posse, Boric não conseguiu aumentar seu apoio político e conta com rejeição de mais da metade da população. Mas sua coalizão de centro-esquerda, a Unidade para o Chile, ficou na segunda posição com 28,4% dos votos, o equivalente a 17 assentos no conselho, à frente da direita tradicional, unida na frente Chile Seguro, que contará com apenas 11 conselheiros. Já o Partido Republicano, criado por Kast, contará com 22 assentos no conselho responsável por redigir a Constituição que irá substituir a herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), o que ainda lhe garante poder de veto.

Para o sociólogo e analista político Axel Callís, ao vincular a aprovação de uma nova Constituição ao sucesso de sua gestão, o presidente chileno acabou sendo diretamente afetado pela vitória de Kast no domingo.

— O governo Boric, que já era um governo de minoria no Parlamento, perde agora bastante apoio politico por parte dos partidos que o respaldaram ao longo do processo da Constituinte — avalia. — Em curto prazo, terá que tratar de negociar como a direita mais tradicional e, em longo prazo, é mais provável que seu governo seja um governo administrativo, que não conseguirá aprovar a agenda política que o elegeu.

Extrema direita teve vitória acachapante na eleição para Conselho Constitucional chileno — Foto: Arte O Globo
Extrema direita teve vitória acachapante na eleição para Conselho Constitucional chileno — Foto: Arte O Globo

A verdade é que nem a extrema direita chilena esperava uma vitória tão esmagadora: foram 3,47 milhões de votos, ou 35% do total de válidos. Comparado a Jair Bolsonaro e Donald Trump, Kast sempre foi contra a aprovação de uma nova Constituição. Mas, aproveitou o clima da opinião pública desfavorável a Boric, com um forte discurso anti-imigração, para ganhar os holofotes.

Para especialistas, no entanto, para ter verdadeiro sucesso ao fim do processo — o novo texto será submetido a um referendo em dezembro —, Kast precisará negociar.

— Kast é um político de carreira e não apenas um populista como muitos acreditam, e conseguiu se situar no espaço politico abandonado por Piñera. Ouvindo seu discurso de domingo, e de outros políticos do Partido Republicano, acredito que ele será obrigado a sentar e conversar. Ele sabe que politicamente o país precisa fechar essa etapa, o que também convém a Boric. Há agora uma convergência de interesses políticos, por distintos motivos, para que haja uma nova Constituição — acredita o advogado e cientista político Carlos Huneeus, que não acredita que a nova Carta Magna será ainda mais conservadora que a atual.

A escolha do novo conselho que irá redigir o texto para a nova Constituição acontece oito meses após os chilenos rejeitarem por ampla margem a proposta de reforma elaborada pela Convenção Constitucional anterior, que tinha uma maioria de esquerda e de independentes.

Por isso, Callís também defende que Kast precisará demonstrar que pode governar, seu maior desafio para chegar à Presidência.

— Ele nunca se colocou em um cenário em que teria que construir e ser protagonista de uma nova Constituição. Sempre achou que seria uma oposição dura. Mas a Constituição atual favorece o status quo. Se ele pretende chegar ao governo, precisará assumir esse papel — afirma.

O tom de Kast mudou após os resultados. Em seu discurso, disse que "hoje é o primeiro dia de um futuro melhor para o nosso país" e reiterou que o "Chile derrotou um governo fracassado". Já Boric reconheceu o "inegável crescimento do Partido Republicano", mas deu um conselho a Kast: "Quero convidar o Partido Republicano a não cometer o mesmo erro que nós cometemos".

— A proposta de uma nova Carta magna é um processo autônomo, que não tem nada a ver com o presidente em si — pondera Daniela Campos Letelier, membro da rede de Politólogas e acadêmica da Universidade Andrés Bello. — O desafio de Boric é se manter à margem do processo. Apesar de sua coalizão ter conseguido alta representatividade, a extrema direita terá o poder de veto e sabemos que a correlação de forças não será igual. Seria muito estranho que uma Carta Magna mais conservadora fosse assinada por Gabriel Boric.

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