Um relatório divulgado nesta quinta-feira revelou que o ex-primeiro-ministro do Reino Unido Boris Johnson enganou deliberadamente os parlamentares britânicos a respeito das festas organizadas durante a quarentena da pandemia de Covid-19 na residência oficial em Downing Street, em Londres, quando ele era chefe de governo. As conclusões do comitê que investigou o escândalo que ficou conhecido como “partygate” levaram o ex-premier a renunciar ao mandato parlamentar, na semana passada.
O documento de 108 páginas produzido pelo Comitê de Privilégios da Câmara dos Comuns apresenta um veredicto condenatório sobre a honestidade e a integridade de Boris, que acusou o órgão de usar o processo contra ele para expulsá-lo do Parlamento. O relatório afirma que o comportamento do então premier de mentir aos parlamentares que o questionavam — incluindo sobre as violações publicamente documentadas de políticas de quarentena — foi deliberado e que ele cometeu “sério desrespeito” à Casa.
“O desrespeito foi ainda mais sério porque foi cometido pelo primeiro-ministro, o mais alto cargo do governo”, conclui o texto que indica, ainda, que “não há precedente de um primeiro-ministro ter sido descoberto enganando deliberadamente a Câmara”. Além disso, diz o relatório, “ele enganou a Câmara em um tema de grande importância para a Câmara e para o público, e o fez repetidamente”
Caso o ex-premier não tivesse renunciado ao mandato parlamentar, a punição recomendada pelo comitê seria sua suspensão por 90 dias, uma das opções mais severas permitidas no regulamento. O relatório também recomendou que o passe parlamentar de Boris seja revogado, impedindo que ele visite o Parlamento como seria permitido normalmente.
Na segunda-feira, parlamentares vão ser chamados a votar para decidir se endossam o relatório. Isso pode servir como uma espécie de julgamento para a carreira política do ex-premier — ou expondo divisões persistentes dentro do Partido Conservador, caso alguns parlamentares do partido rejeitem o documento, ou consolidando a derrocada de Boris, se a maioria apoiar as conclusões do comitê.
'Assassinato político'
Boris Johnson voltou a denunciar, nesta quinta-feira, o que chamou de "armação política" de uma comissão que teve maioria de integrantes do seu próprio Partido Conservador. O ex-premier acusou o comitê de ser "antidemocrático" e de desfechar "a facada final em um assassinato político prolongado".
O objetivo do comitê era determinar se Boris mentiu de maneira intencional ao Parlamento quando afirmou que as restrições existentes durante a pandemia de Covid-19 haviam sido respeitadas nas festas celebradas em Downing Street e outros prédios do governo, durante os confinamentos de 2020 e 2021.
Em março, Boris Johnson negou perante a comissão que havia mentido aos parlamentares e jurou sobre a Bíblia dizer "toda a verdade e nada além da verdade". O escândalo do "partygate" foi um dos principais responsáveis pelo desgaste que levou à renúncia de Boris em julho do ano passado.
Na época, ele alegou que as reuniões em Downing Street, muitas delas regadas a álcool, respeitaram todas as normas sanitárias. Após a divulgação de um relatório interno sobre o caso contradizendo sua versão, porém, o ex-primeiro-ministro acabou admitindo sua "responsabilidade". Ele se justificou dizendo em depoimento à comissão que acreditava estar respeitando as diretrizes anti-Covid e que as violações ao distanciamento social eram necessárias aos propósitos do trabalho.
Desde dezembro de 2021, o ex-premier garantiu aos deputados em várias ocasiões que as regras que ele mesmo havia imposto para combater a pandemia — que deixou 220 mil mortos no Reino Unido — haviam sido respeitadas "em todos os momentos" em seus escritórios. (Com New York Times e AFP)