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Por O Globo — Roma

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender uma reforma no sistema de governança global, afirmando que "é uma moda" os países do Conselho de Segurança da ONU invadirem os outros sem autorização. Em uma entrevista coletiva ao fim de sua viagem à Itália, o petista se lembrou da invasão americana no Iraque e da guerra que o presidente russo, Vladimir Putin, trava na Ucrânia.

De acordo com Lula, para que o conflito de 16 meses no Leste Europeu chegue ao fim, é importante que ambos lados cedam — caso contrário, seria uma rendição. O presidente brasileiro voltou ainda a defender a criação de seu clube da paz de países neutros para negociar uma saída para o conflito, afirmando que americanos e europeus estão demasiadamente envolvidos.

— É uma moda as pessoas que participam como membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU invadir outros países sem pedir licença a ninguém. Os Estados Unidos invadiram o Iraque, a Inglaterra e a França invadiram a Líbia. Agora, o Putin invade a Ucrânia. Eles não poderiam estar fazendo isso — disse Lula. — A geopolítica que formatou a ONU em 1945 não existe mais. O mundo mudou, as pessoas mudaram.

As críticas de Lula à composição atual do Conselho de Segurança são perenes, e particularmente frequentes durante suas visitas à Europa. Na Espanha em abril, por exemplo, afirmou que os cinco membros permanentes — China, Rússia, Estados Unidos, Reino Unido e França — "são os maiores produtores de armas do mundo e os maiores participantes de guerra do mundo" e defendeu a criação de um "G20 da paz".

Segundo o presidente Lula, ambos lados acham que estão na frente na guerra da Ucrânia, mas há vidas sendo ceifadas e não é possível, afirmou ele, crer que a "luta será infinita". O conflito já durou demais, e isso é algo que "os dois lados devem levar em conta", completou.

— O mundo tem 800 milhões de seres humanos que vão dormir toda noite sem ter o que comer, e não é justo gastar bilhões de dólares ou de euros com guerra. É desnecessário quando a gente poderia estar vivendo em um momento de paz — afirmou o presidente.

De acordo com Lula, o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, teve uma reunião com o Vaticano sobre seus planos de criar um clube de paz para negociar uma saída para o conflito. O ex-chanceler também participará no sábado de uma reunião na Dinamarca com representantes de vários países para discutir a situação da guerra.

O maior desafio, afirmou, é convencer Putin e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que "o melhor negócio para essa guerra é tentar acabar com ela". É necessário, complementou, achar um "denominador comum" que leve ambos à conclusão de que é necessário parar o conflito.

— Ninguém mais aceita a nova guerra fria que está sendo estabelecida pelos EUA e pela China. Ninguém mais quer guerra. Conversei muito sobre a guerra, e estou de acordo com o Papa Francisco. É preciso que haja gente discutindo a paz — disse Lula, afirmando que conversas levam tempo, "mas quando o ser humano está disposto a fazer, ele faz".

Os americanos e europeus, disse o presidente, estão demasiadamente envolvidos no conflito russo-ucraniano, e por isso não estão em condições de se sentar à mesa para demandar uma saída pacífica, mas países neutros como o Brasil, a China, a África do Sul e a Índia poderiam fazê-lo. Para haver um acordo, contudo, afirmou que ambos lados precisam ceder:

— Um acordo de paz não é uma rendição, os dois envolvidos têm que ganhar alguma coisa — disse Lula, lembrando que o Brasil condenou na ONU a invasão russa e defendeu a integridade do território ucraniano em um voto às vésperas do primeiro aniversário da guerra. — Se você tem uma proposta em que alguém tem que ceder 100%, isso é rendição.

A devolução integral dos territórios invadidos é uma demanda do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para sentar-se à mesa de negociações. Os russos, contudo, se recusam à fazê-lo — demandam não só a Península da Crimeia, anexada unilateralmente em 2014, como Luhansk e Donestk, no Leste, e Kherson e Zaporíjia, no Sul, que passaram por processos similares no ano passado.

Apesar da retórica conciliadora de Lula, contudo, o desencontro de Lula com Zelensky às margens da reunião do G7 para qual ambos foram convidados em maio no Japão gerou desconfortos para o Itamaraty. A reunião entre os dois não ocorreu após um vaivém de versões, de acordo com informações apuradas pelo GLOBO.

O governo brasileiro havia sido informado ao menos duas vezes que o ucraniano poderia aparecer no evento, e chegou a apresenta três horários para uma reunião solicitada por Kiev. Os ucranianos posteriormente teriam sugerido, ainda segundo a versão brasileira, adiantar a conversa para as 17h e, mais tarde, para as 15h. Depois dessa última troca de mensagens entre as delegações, relatou uma fonte brasileira, os ucranianos “ficaram mudos e sumiram”.

Após o desencontro, Lula afirmou que não estava decepcionado, mas "chateado" e que "Zelensky é maior de idade, sabe o que faz". Zelensky, por sua vez, disse que "definitivamente não foi por nossa causa" que a bilateral não ocorreu.

O incidente ocorreu cerca de um mês após Lula causar mal-estar diplomático ao dizer que os americanos e seus aliados europeus precisam parar "de incentivar a guerra" e equiparou as responsabilidades russas e ucranianas pelo conflito. As frases estimularam críticas de Washington e de Bruxelas, com os americanos acusando Lula de "repetir a propaganda russa".

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