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Por O Globo — Roma

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez críticas à perseguição de religiosos na Nicarágua, afirmando que pretende falar com o presidente Daniel Ortega sobre o assunto. Durante entrevista coletiva ao fim de sua viagem para a Itália, o petista disse que irá tentar ajudar, mas que "essas coisas não são fáceis" e que "nem todo mundo é grande para pedir desculpas".

Ao ser indagado sobre a democracia deteriorante no país centro-americano e à perseguição à figuras da Igreja, Lula disse que Ortega deveria ter "coragem" de admitir que errou:

— Vou tentar ajudar, mas essas coisas nem sempre são fáceis — disse Lula. — Nem todo mundo é grande para pedir desculpas. A palavra "desculpas" é simples, mas exige muita grandeza reconhecer que cometeu uma coisa errada. Não é todo homem que tem coragem de dizer: "errei, vou mudar de posição". É um trabalho de convencimento.

Lula diz que falará com Ortega sobre perseguição a religiosos

Lula diz que falará com Ortega sobre perseguição a religiosos

O petista, contudo, afirmou que falará com Ortega sobre a situação do bispo Rolando Alvarez, um forte crítico do regime. Ele que foi condenado a mais de 26 anos prisão em fevereiro, após se recusar a deixar o país junto com outros 222 prisioneiros políticos que Manágua enviou aos Estados Unidos. As acusações incluem traição, atentar contra a integridade nacional e disseminar notícias falsas.

— Acho que a Igreja está com um problema na Nicarágua, há padres e bispos presos. A única coisa que a Igreja quer é que eles sejam liberados para vir para a Itália — disse Lula. — Pretendo falar com Daniel Ortega a respeito de liberar o bispo. Não há porque ele ficar impedido de exercer sua função na Igreja.

Lula não deixou claro se o Papa Francisco pediu para que intervisse na situação — o presidente e o Partido dos Trabalhadores têm boa relação com Manágua — ou se tenta mediar a situação por conta própria. Em março, o Pontífice argentino afirmou que o regime nicaraguense é uma "ditadura grosseira" e que seu presidente tem "desequilíbrio", declarações que levaram Manágua a afirmar que considera romper os laços diplomáticos com a Santa Sé.

As críticas de opositores e ativistas à postura do governo Lula sobre o assunto, entretanto, têm sido vocais. Na quarta, por exemplo, mais de 50 dissidentes e vítimas do regime Ortega protestaram contra o posicionamento brasileiro na Organização dos Estados Americanos (OEA). A organização multilateral deve votar nesta semana uma resolução para condenar o regime centro-americano, mas o grupo crê que o Itamaraty tenta modificar o texto para amenizá-lo, segundo noticiado pelo colunista Jamil Chade, do Uol.

No início do ano, o país não apoiou uma declaração proposta pelo Canadá e assinada por 54 países sobre as ações antidemocráticas de Ortega na OEA, da qual a Nicarágua não faz mais parte. No entanto, o início da cassação de cidadanias por Ortega— repetindo algo que Augusto Pinochet (1973-1990) implementou no Chile — forçou a diplomacia brasileira a se disponibilizar para receber quem fosse vítima da medida.

Até que isso ocorresse, contudo, o silêncio de semanas gerou constrangimento: a sinalização veio na ONU apenas depois de forte pressão internacional e críticas pela hesitação petista de condenar as violações de direitos humanos no país. Em fevereiro, por exemplo, o embaixador da União Europeia no país, Ignacio Ybáñez, compartilhou em suas redes sociais um artigo crítico à postura de Lula em relação a regimes autoritários de esquerda na região.

Os vínculos do presidente com Manágua são antigos: esteve lá ainda como líder sindical, no início dos anos 1980. Foi em uma reunião na casa do escritor Sergio Ramírez — ás da Revolução Sandinista que derrotou a ditadura de Anastasio Somoza, em 1979, e vice-presidente do primeiro governo de Daniel Ortega (1985-1990) — por exemplo, que conheceu Fidel Castro, então presidente cubano.

A Nicarágua vive um dos mais brutais regimes autoritários da América Latina: o país fez apenas 23 de 100 pontos na avaliação deste ano da organização americana Freedom House sobre a liberdade no mundo. O Brasil, para fins comparativos, marcou 73.

Após integrar a guerrilha sandinista contra a ditadura dos Somoza nos anos 1970 e 1980, Ortega, ao lado de sua mulher e vice-presidente, Rosario Murillo, converteu-se em um líder de um regime que tem características dinásticas e policiais e onde opositores políticos são perseguidos.

A guinada autoritária se intensificou após os protestos antigoverno de 2018, cuja repressão violenta pelo regime deixou mais de 300 mortos. A Igreja, por sua vez, se vê frequentemente na mira após seus padres darem abrigo a manifestantes durante os protestos de cinco anos atrás.

Segundo o Observatório Pró-Transparência e Anticorrupção, entre abril de 2018 e maio do ano passado houve ao menos 190 agressões contra a organização religiosa na Nicarágua. Ao menos 11 padres foram presos na cruzada, e outros tiveram sua entrada vetada ao retornarem para o país.

O Papa vem pedindo a soltura de Álvarez desde sua detenção, junto com outros quatro sacerdotes, dois seminaristas e um funcionário da diocese. Em 2019, ele havia pedido também a libertação do bispo auxiliar de Manágua, Silvio José Baéz, que foi uma figura-chave na ajuda aos manifestantes há cinco anos. Ele hoje vive no exílio.

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