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Por Eliane Oliveira — Brasília

Não é apenas a falta de voos diretos que afasta o Brasil da África. A ausência de estratégia no último governo fez com que a região ampliasse laços com países como China, Espanha, Índia, Rússia e Turquia. Para tentar reverter isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer fazer ao menos duas rodadas de viagens ao continente nos próximos meses, visitando oito países.

Mas, ao contrário do que ocorria em seus dois primeiros mandatos, quando o estreitamento das relações do Brasil com o continente tinha por objetivo corrigir um déficit diplomático, Lula concluiu que não basta “repetir receitas do passado”, como diz a interlocutores, e é fundamental atualizar a política externa brasileira voltada para a África. Segundo um interlocutor do governo brasileiro, desta vez, o relançamento das relações do Brasil com a África, seguindo a vertente da política de integração Sul-Sul, trará uma mistura de assistência — quando Lula, em seus dois primeiros mandatos, fazia doações de remédios para Aids, transferia tecnologia da Embrapa, entre outros acordos de cooperação mais sociais — com economia.

Comércio exterior com o continente africano — Foto: Arte O Globo
Comércio exterior com o continente africano — Foto: Arte O Globo

Segundo um interlocutor da área diplomática, entre os países que deverão ser visitados pelo presidente brasileiro, em duas rodadas que começam no início do segundo semestre, estão Angola, África do Sul, Moçambique, Senegal, Gana, Etiópia, Nigéria e São Tomé e Príncipe. Há, ainda, a perspectiva de reabertura da embaixada em Serra Leoa e de abertura de uma representação do Brasil em Ruanda.

A linha da diplomacia brasileira é relançar as relações entre Brasil e África, que foi praticamente deixada em segundo plano pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Entre as datas previstas para as visitas de Lula pelo continente estão agosto, quando acontecerá a reunião do Brics, em Johannesburgo (África do Sul), e fevereiro, na Etiópia, durante reunião dos países da União Africana. Espera-se que, já em agosto, Lula tenha encontros bilaterais com diversos chefes de Estado e de governo da África às margens da reunião do Brics.

Em uma avaliação interna, o continente africano tem grande potencial econômico e comercial e ainda pode contribuir com o Brasil em temas importantes da agenda internacional. Lula defende, inclusive, que a África esteja presente no G20 — o grupo que reúne as maiores economias do mundo e será presidido pelo Brasil em 2024 — através da União Africana. Em seus dois mandatos anteriores, o presidente foi à região 12 vezes e visitou 23 países.

No ano passado, a exportação do Brasil para a África foi recorde da série histórica: US$ 12,75 bilhões. O resultado, porém, engana, porque é apenas um pouco maior do que os US$ 12,2 bilhões registrados em 2011, no primeiro ano do governo Dilma. Já a corrente de comércio (soma das exportações com as importações) foi de US$ 21,3 bilhões em 2022, praticamente o mesmo patamar de 2010, último ano do segundo mandato de Lula, quando somou US$ 20,5 bilhões, e bem abaixo de 2013, melhor ano da série, quando atingiu US$ 28,5 bilhões. O continente representou 3,5% da corrente de comércio do Brasil no ano passado, abaixo dos 5,9% de 2014. As relações comerciais pouco avançaram de lá para cá e há países em que o intercâmbio praticamente não existe nas estatísticas, como São Tomé e Príncipe.

No mês passado, o chanceler Mauro Vieira participou de uma reunião, em Cabo Verde, dos países que integram a Zona de Paz e de Cooperação do Atlântico Sul (Zopacas). Há cerca de dez dias, o chanceler brasileiro deu início a um périplo que começou em Angola, seguindo para a África do Sul e depois para a Etiópia, país que sedia a União Africana.

— Nos meus contatos desde a posse, é muito animadora a resposta dos líderes africanos à volta do presidente Lula, e o número de convites que já recebemos para visitas de alto nível é um sinal claro desse interesse. Com o apoio da diplomacia presidencial, e em resposta a esse interesse, o Brasil vai recuperar, com trabalho e diplomacia, o espaço perdido na África nos últimos anos. Esse trabalho já começou, e vai ser intensificado nos próximos meses — disse o chanceler.

Dados da Afrochamber (câmara de comércio Brasil-África) mostram que, em 2021, o estoque de investimentos brasileiros no continente africano foi de US$ 1,7 bilhão. Já o total investido no Brasil pelos países da região foi de US$ 321 milhões.

1,4 bilhão de habitantes

Rui Mucaje, presidente da Afrochamber, disse que a África está cada vez mais no centro das conversações globais, e o Brasil, como uma referência mundial no agronegócio, é um potencial parceiro para os mercados africanos. Nascido em Angola, Mucaje ressaltou que o continente africano tem hoje 1,4 bilhão de habitantes — similar à população da China.

— Países como a Nigéria, com uma população de mais de 200 milhões de habitantes, e a Guiné Equatorial, com cerca de 1 milhão de pessoas, demonstram a diversidade de realidades que compõem este grande mosaico continental — afirmou.

Ele lembrou que, até a década de 1990, houve um grande boom na inserção de produtos brasileiros nos países africanos, principalmente de máquinas e equipamentos. Esses números estão crescendo novamente, acompanhados pela expansão em serviços de engenharia, geralmente ligados à presença de empresas de construção civil brasileiras.

— É notável a presença da China como um player global nas relações com o continente, o que é justificado pela apatia das demais nações em não terem uma política econômica voltada para os países africanos — disse Mucaje.

Busca de nichos

Para Dawisson Belém Lopes, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Minas Gerais, a reaproximação do Brasil com a África é fundamental. A seu ver, o continente vem sendo negligenciado, enquanto China, Rússia, Índia, Turquia e outras nações expandiram suas relações bilaterais com a região.

— Essa expansão das relações não deve ser nostálgica, nem vista como o pagamento de uma dívida histórica, e sim com uma perspectiva pragmática — disse .

Ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, na China e na Alemanha, Roberto Abdenur reforça a ideia de que o Brasil tem uma dívida histórica com os países africanos, particularmente com as ex-colônias portuguesas.

— Foi incrível, lamentável, o total “apagão” do Brasil em relação à África durante os quatro anos de Bolsonaro como pária no plano internacional.

Para ele, o terreno que Lula vai agora trilhar é muito diferente das condições vigentes durante suas primeiras gestões. Como reconhece o governo e alertam especialistas, de lá para cá a China se faz intensamente presente em toda a região, nos planos político-diplomático, comercial e econômico. Neste último caso, mediante a concessão de grandes volumes de financiamento para projetos de infraestrutura e outros empreendimentos como construção civil, mineração e produção agrícola.

— O Brasil agora passa, de certo modo, a competir com a China, mas temos que fazê-lo mediante o encontro de “nichos” onde temos condições favoráveis de atuação: por exemplo, cooperação técnica, formação de profissionais, formatação de políticas públicas de sentido social e ambiental, educação, intercâmbio cultural, técnicas inovadoras do agronegócio. E por aí vamos.

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