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Por O Globo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reunirá na quarta-feira com o Papa Francisco no Vaticano, reunião que foi descrita por um interlocutor do governo brasileiro como um "encontro de velhos conhecidos". De uma carta enquanto Lula esteve na prisão a declarações do argentino questionando os motivos da Operação Lava-Jato para prender o petista, as interações da dupla retratam um bom relacionamento que o ex-presidente Jair Bolsonaro nunca conseguiu ter com o chefe da Igreja Católica.

Apesar de trocas variadas ao longo dos anos, os dois só se encontraram pessoalmente uma vez desde que Francisco ascendeu ao trono de São Pedro, em março de 2013, após a renúncia de seu antecessor, o Papa Bento XVI. O Pontífice, que teve alta na sexta após uma internação de nove dias devido a uma cirurgia no abdômen, recebeu Lula no Vaticano em fevereiro de 2020.

Lula tinha sido solto da prisão em Curitiba, onde passou 19 meses, havia cerca de 90 dias — a viagem à Europa foi a primeira que realizou desde a soltura, após autorização judicial. O encontro, na casa de hóspedes Santa Marta, dentro da Cidade do Vaticano, foi intermediado pelo presidente da Argentina, Alberto Fernández, um grande amigo e aliado do presidente brasileiro.

Durante a conversa de quase uma hora, os dois discutiram temas relacionados ao combate à pobreza. Lula estava acompanhado de uma pequena comitiva que incluía seu hoje assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim, e seu fotógrafo oficial, Ricardo Stuckert.

Durante o encontro, fontes afirmaram à época ao Globo, Francisco teria dito a Lula que estava feliz de vê-lo solto, mas não fez maiores comentários sobre os motivos por trás da prisão do petista. Com o passar dos anos, contudo, o Papa foi mais vocal em suas opiniões sobre a Lava-Jato.

Em uma entrevista no fim do ano passado ao jornal espanhol ABC, ele afirmou que o processo posteriormente anulado que condenou o petista "começou com notícias falsas na mídia" que "criaram uma atmosfera que favoreceu a colocação de Lula em um julgamento".

Indagado pela publicação, ele disse que o processo era "paradigmático" e alertou que notícias falsas sobre líderes políticos e sociais "podem destruir uma pessoa". Segundo o Pontífice, "um julgamento deve ser o mais limpo possível, com tribunais de primeira classe, sem nenhum interesse que não seja o de garantir uma justiça limpa".

— Esse caso do Brasil é histórico. Não estou me envolvendo em política, eu só falo sobre o que aconteceu — afirmo o Papa.

Em outra entrevista em março deste ano, esta à emissora argentina C5N, o Pontífice afirmou que Lula foi condenado sem provas e disse que o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff foi injusto, chamando-a de "mãos limpas" e uma "excelente mulher".

Ao ser questionado sobre o chamado lawfare — conceito que significa uso abusivo da Justiça para fins políticos, argumento usado pelo PT para criticar a atuação da força-tarefa da Lava-Jato — na América Latina, o Papa lembrou da condenação do petista.

— O lawfare abre caminho nos meios de comunicação. Deve-se impedir que determinada pessoa chegue a um cargo. Então, o pessoal os desqualifica e metem ali a suspeita de um crime. Então, faz-se todo um sumário, um sumário enorme, onde não se encontra [a prova do delito], mas para condenar basta o tamanho desse sumário. — disse ele. — 'Onde está o crime aqui?' 'Mas, sim, parece que sim...' Assim condenaram Lula.

Em seguida, o líder católico perguntou ao repórter sobre o que aconteceu com Dilma Rousseff. E ele mesmo respondeu, após o jornalista dizer que a ex-presidente foi destituída por "um ato administrativo menor":

— Não puderam (comprovar). Uma mulher de mãos limpas, uma excelente mulher.

O argentino também mandou ao menos uma carta ao atual presidente brasileiro durante o tempo em que o destinatário esteve atrás das grades. Em maio de 2019, o site oficial de Lula divulgou uma correspondência em que o Pontífice lamenta as "duras provas" pelas quais o político passava, manifestando solidariedade pelas mortes de sua então mulher, Dona Marisa; do irmão Genivaldo Inácio da Silva; e do neto de 7 anos, Arthur Araújo Lula da Silva. A carta pedia coragem para "não desanimasse" e "continuasse confiando em Deus".

A correspondência teria sido uma resposta a uma mensagem de Lula, que teria escrito ao chefe do Vaticano no mês anterior para agradecer por sua contribuição na defesa dos direitos dos mais pobres e relatar seu estado de ânimo sobre o contexto sociopolítico do Brasil. Em sua réplica, o Papa teria apontado que tais considerações sobre a política brasileira lhe seriam "de grande utilidade".

Na antecipação do encontro desta quarta, Lula e o Papa conversaram por telefone no último dia 31. Durante a chamada, o religioso agradeceu o petista por seus esforços para pôr um fim na invasão russa da Ucrânia, e o presidente brasileiro convidou-o para retornar ao Brasil.

Bolsonaro não se encontrou ou falou por telefone com o Papa em nenhum momento do seu governo. Após os atos golpistas de 8 de janeiro contra prédios dos Três Poderes em Brasília, o jesuíta afirmou que estava "pensando no Brasil" e condenou o enfraquecimento da democracia nas Américas.

A primeira viagem de Francisco após virar Papa foi ao Rio, para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). O evento já estava marcado desde antes mesmo de a fumaça branca anunciando seu nome sair da chaminé da Basílica de São Pedro, mas na época Francisco disse que "'Deus quis" que sua viagem inaugural fosse ao país e a seu continente natal.

Além do argentino, Lula teve a oportunidade de se reunir com dois outros Papas. Com João Paulo II, houve um encontro em 1980, quando o presidente ainda era sindicalista, e outro em 1989. Já com Bento XVI foram dois encontros, em 2007 e 2008, ambos no Vaticano.

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