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Por O Globo e agências internacionais — Roma

O Papa Francisco, de 86 anos, deixou nesta sexta-feira a Policlínica Gemelli, em Roma, depois de passar nove dias internado devido a uma cirurgia abdominal. De cadeira de rodas, o religioso acenou e sorriu para fiéis que o aguardavam na porta do centro médico após sua terceira hospitalização em dois anos — a mais recente havia sido em março —, frequência que desperta preocupações com sua saúde.

O jesuíta argentino deixou a Gemelli — conhecida como hospital dos Papas, com uma ala em seu 10º andar só para atendê-los — por volta das 8h45 (3h45 no Brasil), chegando ao Vaticano cerca de 15 minutos depois. Repórteres e fotógrafos se espremeram na porta da policlínica para tentar falar com o Pontífice, que não parou.

Antes de sentar-se no banco do carona de seu carro, ele cumprimentou o cirurgião responsável por corrigir sua hérnia incisional, procedimento para o qual foi hospitalizado no último dia 7, Sergio Alfieri. Uma repórter da emissora estatal RAI disse ter perguntado como o Papa estava e, enquanto era levado na cadeira de rodas, ele respondeu:

— Estou bem e ainda vivo — afirmou o Pontífice, cuja agenda deve ser retomada nos próximos dias, com compromissos que incluem uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na próxima quarta.

Papa Francisco se despede e agradece ao médico Sergio Alfieri — Foto: Alberto PIZZOLI / AFP
Papa Francisco se despede e agradece ao médico Sergio Alfieri — Foto: Alberto PIZZOLI / AFP

O Papa também comentou brevemente o naufrágio de um navio com centenas de imigrantes, principalmente mulheres e crianças, na costa da Grécia, afirmando que o incidente é "muito dolorido".

Alfieri, por sua vez, disse a repórteres que o chefe da Igreja Católica o agradeceu, cumprimentou a equipe médica e conversou com um profissional da saúde que não passa bem:

— Foi um momento muito emocionante — afirmou o cirurgião.

No caminho até o Vaticano, a comitiva do Papa fez uma breve parada na Basílica de Santa Maria Maior, a primeira igreja do Ocidente dedicada a Maria, onde geralmente reza sempre que retorna de viagens. Após ingressar no prédio em sua cadeira de rodas, parou rapidamente para cumprimentar um grupo de freiras que se reuniam em assembleia.

Ao chegar a Santa Sé, entrou pela porta lateral, perto do apartamento onde vive, e cumprimentou policiais. Em nenhum dos dois momentos falou com a imprensa.

Francisco gesticula aos fiéis antes de entra no carro — Foto: Alberto PIZZOLI / AFP
Francisco gesticula aos fiéis antes de entra no carro — Foto: Alberto PIZZOLI / AFP

No fim de semana, Alfieri havia dito que a equipe médica havia orientado o Papa a não correr com sua recuperação e que permanecesse internado até que o pós-operatório estivesse avançado — caso contrário, poderia precisar de outro procedimento. Na sexta, o médico havia lembrado que o jesuíta precisaria se recuperar "como todo mundo" que passa por procedimentos cirúrgicos.

Os nove dias de internação, afirmou o Vaticano, ocorreram conforme o esperado, e o Papa foi aumentando gradualmente suas atividades. De cadeira de rodas, visitou pacientes de oncologia infantil e neurocirurgia pediátrica para agradecê-los pelas "várias cartas, desenhos e mensagens" que recebeu durante seus dias internado.

Papa Francisco terá acompanhamento médico em sua recuperação em casa — Foto: Alberto PIZZOLI / AFP
Papa Francisco terá acompanhamento médico em sua recuperação em casa — Foto: Alberto PIZZOLI / AFP

Um dos compromissos do Papa na quarta-feira será sua reunião com Lula, a primeira desde que o petista voltou ao poder em janeiro — o último encontro dos dois havia sido em 2020. Ao GLOBO, um interlocutor do governo brasileiro disse que a audiência será como "um encontro de velhos conhecidos" e que a agenda incluirá temas como políticas sociais, aquecimento global e a proposta brasileira de criar um clube da paz para negociar um fim para a guerra na Ucrânia.

O Papa e o presidente brasileiro se conhecem há mais de 20 anos, quando o jesuíta ainda era o cardeal Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires. Com a ajuda do amigo Alberto Fernández, presidente da Argentina, Lula viajou em dezembro de 2020 — cerca de um mês após deixar a prisão em Curitiba, onde ficou por 19 meses — para se encontrar com o Pontífice no Vaticano.

Cirurgias como a que o Papa realizou geralmente não são feitas de forma emergencial, mas fortes dores abdominais o haviam feito recorrer ao Fundo de Assistência Sanitária, a clínica médica localizada dentro do Vaticano, na véspera do procedimento. Ele foi levado às pressas para a Gemelli, onde uma tomografia confirmou que havia risco de obstrução abdominal.

Francisco já havia no passado recusado uma cirurgia no joelho para não se submeter à anestesia geral, mas dessa vez foi convencido a fazê-lo, retornando ao hospital no dia 7, após sua audiência geral. Segundo o Vaticano, o Papa fora diagnosticado com laparocele, ou hérnia incisional, que geralmente ocorre na cicatriz de um procedimento cirúrgico prévio no abdômen.

Para corrigi-la, foi realizado um procedimento chamado de laparotomia, ou cirurgia de barriga aberta. O médico fez uma incisão no local da hérnia, buscando movê-la e fechar o orifício indesejado. Houve também uma subsequente cirurgia plástica para a reconstrução com prótese da parede abdominal.

Há pouco menos de dois anos, o Papa havia feito uma cirurgia pré-agendada para tratar de uma diverticulite, inflamação na parede do intestino grosso que causa espessamento da parede do órgão, deixando-o mais estreito. A equipe médica esperava poder realizá-la por laparoscopia, técnica menos invasiva, mas achou mais prudente abrir a barriga do paciente após constatar que o quatro estava mais grave do que o previsto.

O Papa também já havia sido internado em março deste ano, após passar mal durante uma audiência. Na época, noticiou-se que Francisco havia sido diagnosticado com bronquite aguda, mas em uma visita à Hungria no mês passado o religioso disse que sofreu de uma forma "aguda e grave" de pneumonia localizada na parte inferior do pulmão.

O quadro despertou preocupação mais acentuada porque o religioso teve a maior parte do pulmão direito removida aos 21 anos devido a uma uma pneumonia grave. Ele também sobre de osteoartrite, também chamada de artrose, do joelho direito — quadro que dificulta sua locomoção, forçando-o a usar muletas, cadeiras de rodas e cancelar uma série de compromissos.

A expectativa de Alfieri é de que agora, depois do novo procedimento abdominal, Francisco tenha maior conforto para realizar suas viagens porque agora "é um Papa mais forte". Ele deve ir a Portugal para a Jornada Mundial da Juventude dos dias 2 a 6 de agosto e viajar até a Mongólia entre 31 de agosto e 4 de setembro.

As especulações sobre a possibilidade de uma abdicação se intensificaram após a morte de seu antecessor, o Papa Bento XVI, em 31 de dezembro. Em 2013, o alemão quebrou um tabu de seis décadas ao abrir mão do comando da Igreja, admitindo que a idade avançada e a saúde frágil já não lhe davam mais condições para liderar a instituição.

Em uma entrevista no fim do ano passado, Francisco afirmou que assinou uma carta de renúncia há quase uma década para o caso de eventualmente a saúde precária o impedir de desempenhar suas funções. Antes, já havia dito que não descartava renunciar ao trono de São Pedro caso percebesse que não tem mais condições de fazer seu trabalho.

O Papa sinaliza, entretanto, que a hipótese de renúncia não está em seu horizonte. Durante a viagem para a Hungria em abril, por exemplo, afirmou que seus problemas médicos não devem impedir que sua agenda de viagens continue. Meses antes, ao receber jesuítas da República Democrática do Congo, afirmou crer que o o trono de São Pedro é ad vitamin, termo em latim que quer dizer vitalício.

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