Mundo
PUBLICIDADE

Por Mark Landler, The New York Times — Londres

O longo e amargo imbróglio do príncipe Harry com os tabloides britânicos terá um novo capítulo nesta semana: o filho rebelde do rei Charles III será testemunha em um tribunal londrino na terça-feira, parte do processo que move contra o grupo editorial Mirror. O duque de Sussex, título real do 5º na linha de sucessão ao trono, acusa a publicação de ter grampeado seu celular há mais de uma década.

Um filho da Casa de Windsor ser testemunha é por si só um marco: será o primeiro integrante da realeza britânica a fazê-lo desde o século XIX. E seus parentes não devem gostar muito disso.

Harry pode enfrentar perguntas embaraçosas sobre sua vida pessoal antes de conhecer sua mulher, Meghan, além de indagações sobre sua relação com outros integrantes da família real. Desde que o casal abandonou suas funções reais em 2020, mudou-se para a Califórnia, deu uma explosiva entrevista à apresentadora Oprah Winfrey acusando parentes de racismo e lançou uma autobiografia e uma docussérie na Netflix. A má relação com o rei Charles III e o príncipe William é notória.

O príncipe deveria ter ido ao tribunal nesta segunda, o primeiro dia do julgamento, após o juiz determinar que ele deveria estar disponível para começar a prestar depoimento durante a tarde. Seus advogados afirmaram que precisariam de três horas para dissecar os pontos-chave de seus argumentos, mas o outro lado afirmou que seria rápido para rebatê-los, o que daria tempo para as testemunhas começarem a ser ouvidas hoje.

Coroação de Charles III: Teste seus conhecimentos sobre a monarquia

De acordo com o advogado de Harry, David Sherborne, o príncipe voou de Los Angeles para Londres após o aniversário de sua filha, Lilibet, que completou 2 anos no domingo, mas deslocá-lo não é tão simples devido à segurança. De acordo com o advogado, "não foi antecipado que as declarações iniciais não levariam o dia todo".

— Era esperado que poderiam. E foi por isso que eu instruí que a primeira testemunha deveria estar disponível — afirmou o juiz Timothy Fancourt, afirmando estar "um pouco surpreso" com a ausência de Harry.

Historicamente, membros da realeza britânica preferiram selar acordos para resolver seus problemas judiciais a se submeterem ao escrutínio de um tribunal. William, por exemplo, optou por esta via após acusar o News Group, conglomerado do magnata australiano Rupert Murdoch, de grampear seu telefone, recebendo "uma grande quantia de dinheiro", afirmou seu irmão mais novo em documentos apresentados à Justiça no início deste ano, referentes a um caso paralelo.

Quem também optou por um acordo foi o príncipe Andrew, o terceiro dos quatro filhos da rainha Elizabeth II, mas para escapar do banco dos réus. Em fevereiro do ano passado, pagou dezenas de milhares de dólares para a advogada Virginia Giuffre, à época com 38 anos. O nobre era acusado de ter abusado sexualmente da mulher há mais de duas décadas, quando ela tinha apenas 17 anos.

Até o momento, Harry não dá indícios de que planeja desistir de suas acusações contra o Mirror, e parece transformar a cruzada contra os tabloides britânicos em uma das bandeiras da sua vida pública. Ele diz responsabilizar os jornais pela morte de sua mãe, a princesa Diana, em um acidente em 1997 após ser perseguida por fotógrafos.

Além do Mirror, Harry processa o News Group, responsável pelos jornais The Sun e The Times, e contra a editora responsável pelo Daily Mail. O príncipe também processa o Ministério do Interior britânico, o Home Office, por remover sua proteção policial após ele e Meghan romperem com a monarquia.

Em uma carta para os editores dos tabloides em abril de 2020, o casal acusou os veículos de irresponsabilidade, afirmando que destroem a vida das pessoas "sem razão alguma, além de o fato das fofocas obscenas impulsionarem a receita publicitária".

O processo contra o Mirror é focado nas acusações de que o jornal grampeou o celular de Harry, além dos aparelhos de seu irmão, assessores e de uma ex-namorada durante o início dos anos 2000. O príncipe é um dos quatro reclamantes — entre eles dois atores que participaram da popular série de televisão britânica, Coronation Street.

Advogados do Grupo Mirror afirmam que Harry e os outros três co-autores esperaram demais para apresentar o processo, referente a incidentes que ocorreram entre 1991 e 2011. O Mirror admitiu em 2014 que grampeou os aparelhos, e em fevereiro do ano seguinte publicou uma desculpa em sua primeira página aos prejudicados pela ação.

O julgamento promete ser um espetáculo midiático, pondo os holofotes na vida de solteiro do príncipe antes de casar e ter filho — além de Lilibet, ele e Meghan tem um menino, Archie, de 4 anos. Entre os nomes nos autos está o de sua ex-namorada, Chelsy Davy.

Chelsy Davy, de chapéu preto, deixa a Abadia de Westminster após casamento do príncipe William com a princesa Catherine, em 2011 — Foto: Fiona Hanson/AFP
Chelsy Davy, de chapéu preto, deixa a Abadia de Westminster após casamento do príncipe William com a princesa Catherine, em 2011 — Foto: Fiona Hanson/AFP

Em um documento, Sherborne disse que detalhes obtidos das mensagens de voz que Harry deixou para Davy geraram matérias invasivas, que prejudicaram o relacionamento dos então namorados.

Em uma ocasião, houve uma série de ligações estranhas para o celular de Davy em setembro de 2009. Dentro de alguns dias, dois jornais do Grupo Mirror publicaram as manchetes "Chelsy's Harry'd Enough" — um trocadilho do nome do príncipe com a a expressão "Chelsy's Had Enough", algo como "Chelsy está de saco cheio" — e "Chelsy Breakup 'Was on Cards'", ou "A separação de Chelsy é provável". Ambos discutiam as minúcias do rompimento iminente do relacionamento.

Apesar de tomarem medidas extremas para manter os detalhes de suas vidas privadas sob sigilo — medidas que incluíam fazer Davy viajar com um pseudônimo — o advogado de Harry afirmou que repórteres com frequência apareciam nos lugares onde o casal combinava de se encontrar.

"Isso fez com que o casal perdesse a confiança em vários amigos e pôs o relacionamento sob intensa pressão", escreveu Sherborne, afirmando que a situação causou "grande angústia e vergonha" no príncipe. As preocupações, afirmou a defesa, incluíam também questões de segurança.

David Sherborne, advogado do príncipe Harry, chega ao tribunal para primeiro dia de audiência — Foto: Daniel Leal/AFP
David Sherborne, advogado do príncipe Harry, chega ao tribunal para primeiro dia de audiência — Foto: Daniel Leal/AFP

Além de argumentar que Harry demorou demais para abrir o processo, o Mirror questiona a acusação de que hackeou o celular de Davy. Os advogados do tabloide afirmam que as ligações estranhas provavelmente foram feitas para que a mulher comentasse as notícias de que o fim do relacionamento do casal era iminente.

Em 2009, funcionários de um outro jornal, o News of the World, de Murdoch, receberam penas de prisão por grampear telefones. De acordo com os advogados do Mirror, isso por si só faz ser improvável que os jornalistas corressem o risco de interceptar as ligações de Harry ou sua então namorada.

O depoimento de Harry também pode ser comprometedor para Piers Morgan, que antes de se tornar uma figura notória na televisão britânica, foi editor do Daily Mirror de 1995 a 2004, período em que os grampos supostamente ocorreram. Morgan há anos nega qualquer envolvimento em atividades irregulares ou ordens para que pautas baseadas em tais materiais fossem produzidas.

Os advogados do príncipe, por sua vez, dizem ser improvável que os grampos ocorressem sem o consentimento de Morgan, que se tornou nos últimos anos um crítico ferrenho de Harry e Meghan. Quando perguntado recentemente por um repórter da emissora ITV sobre o julgamento, ele afirmou:

— Eu não irei aceitar receber aulas sobre invasão de privacidade do príncipe Harry, alguém que passou os últimos três anos cruel e cinicamente invadindo a privacidade da família real para seu vasto ganho comercial, e falou um monte de mentiras sobre ela — disse ele.

Mais recente Próxima 'Boom supersônico': vídeos flagram estrondo de caças F-16 que perseguiram avião nos EUA

Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY

Mais do Globo

Trabalhador de 28 anos tentava salvar máquinas da empresa e foi cercado pelo fogo

Brasileiro morre carbonizado em incêndio florestal em Portugal

Marçal prestou depoimento nesta segunda-feira (16) sobre o episódio

Novo vídeo: ângulo aberto divulgado pela TV Cultura mostra que Datena tentou dar segunda cadeirada em Marçal

Polícia Civil deve cumprir mandados de prisão contra os suspeitos ainda esta semana

Incêndios florestais no RJ: 20 pessoas são suspeitas de provocar queimadas no estado

Além de estimativas frustradas, ministro diz que comunicação do BC americano levou analistas a vislumbrar possibilidade de subida na taxa básica americana

Haddad vê descompasso nas expectativas sobre decisões dos BCs globais em torno dos juros

Ministro diz que estes gastos fora do Orçamento não representariam violação às regras

Haddad: Crédito extraordinário para enfrentar eventos climáticos não enfraquece arcabouço fiscal

Presidente irá se reunir com chefes do STF e Congresso Nacional para tratar sobre incêndios

Lula prepara pacote de medidas para responder a queimadas

Birmingham e Wrexham estão empatados na liderança da competição

'Clássico de Hollywood': time de Tom Brady vence clube de Ryan Reynolds pela terceira divisão inglesa

Projeto mantém medida integralmente em 2024 e prevê reoneração a partir de 2025

Lula sanciona projeto de desoneração da folha de pagamento de setores intensivos em mão de obra

Empresas de combustível foram investigadas pelo Ministério Público por esquema de fraudes fiscais

Copape e Aster pedem recuperação judicial para tentar reverter cassação de licenças pela ANP