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Por Fernando Eichenberg, Especial Para O GLOBO — Paris

Garantir a presença do presidente Lula em Paris para participar da Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global foi tratado pelo anfitrião do evento, o líder francês Emmanuel Macron, como uma missão prioritária. Depois de quatro anos de governo Bolsonaro, nos quais os contatos políticos de alto nível com a França foram suspensos, Macron festejou a volta ao poder de seu "velho conhecido" Lula, com quem reivindica uma relação de amizade, para relançar a parceria entre os dois países. Nesta nova lua de mel, no entanto, também há lugar para discordâncias. Hoje, Brasília e Paris divergem, principalmente, nas questões do conflito na Ucrânia e do acordo de livre comércio União Europeia-Mercosul.

A viagem presidencial a Paris não era uma unanimidade entre setores do governo brasileiro, e chegou-se a cogitar do envio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como o representante do país na cúpula. Macron não mediu esforços em sua empreitada. Enviou a Brasília, em maio, Amélie de Montchalain, representante da França junto à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), para convencer as autoridades brasileiras da importância da reunião parisiense. Poucos dias depois, durante o encontro dos países do G7, em Hiroshima, no Japão, postou um tuíte de uma foto abraçado a Lula, mencionando a cúpula na capital francesa.

No almoço de trabalho que terão juntos nesta sexta-feira, no suntuoso décor do Palácio do Eliseu, Macron espera convencer Lula a se reaproximar da abordagem europeia e americana da guerra na Ucrânia. O Brasil é contra as sanções econômicas impostas à Rússia e o envio de armamentos para Kiev, e tenta se impor como um mediador para a negociação da paz. A França defende assegurar a defesa do território ucraniano sob todas as condições, e não aceitar nenhum tipo de acordo com o regime de Vladimir Putin que não inclua a retirada total das tropas russas das áreas invadidas.

No governo francês, ainda que se tenha uma certa aceitação de que Lula procuraria, legitimamente, agir de forma independente na cena internacional, há uma total incompreensão em relação à posição brasileira no conflito ucraniano. O sentimento é compartilhado pelo jornal francês de tendência esquerdista Libération, que ilustra sua capa desta sexta-feira com um enorme retrato do presidente brasileiro sob o título "Lula, la decepção", e os dizeres: "O presidente brasileiro, em dificuldade em seu próprio país e na cena internacional, onde suas posições antiatlantismo são criticadas, está em visita a Paris".

Ironicamente, dois compromissos foram acrescentados na agenda de Lula nesta sexta: antes do almoço com Macron, ele se reunirá com Jean-Luc Mélenchon, presidente de honra do partido de esquerda radical França Insubmissa, e, logo após a refeição, com a prefeita socialista de Paris, Anne Hidalgo, duas personalidades políticas que se impuseram como fortes opositores ao macronismo.

No menu da conversa palaciana, está igualmente prevista uma franca conversa sobre o acordo UE-Mercosul. Os deputados franceses aprovaram no último dia 13, por 281 votos a favor e 58 contra — no espectro da esquerda ecologista ao campo conservador ­—, uma resolução contra a ratificação do acordo nos moldes hoje estabelecidos. Os parlamentares avalizaram a posição do governo Macron, de endurecimento das obrigações ambientais e de adoção do Acordo de Paris sobre o clima, selado em 2015, como requisito inegociável para a assinatura da parceria comercial, que se arrasta em negociações há mais de 20 anos.

A "side letter", um adendo que, na prática, amplia e modifica o documento, apresentada neste tom em março pela UE atrapalhou as perspectivas de uma solução para o acordo até o final deste ano. Na véspera de sua chegada em Paris, o presidente brasileiro foi presenteado com uma tribuna publicada na imprensa, assinada por parlamentares ecologistas, acusando o acordo UE-Mercosul de "neoliberal devastador"e de "verdadeira fábrica de desregulação do clima, desmatamento e contaminação do meio ambiente e dos organismos, destruição da agricultura camponesa e colonização das terras dos povos indígenas, gerando desigualdade e concentração de riqueza".

Em Paris acompanhando a agenda de Lula, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, endossou as recentes declaração do presidente acusando o protecionismo europeu:

— Não temos problema nenhum em relação às questões ambientais, mas quando se faz uma "side letter" depois de fechar o acordo, a impressão que dá é de que se trata muito mais de um elemento para postergar uma decisão do que propriamente uma preocupação. O Brasil reafirmou todos os seus compromissos ambientais. Não tem nenhum item da agenda ambiental em que o Brasil não se insira de forma notável.

Haddad poderá ter na sexta uma reunião com o ministro da Economia francês, Bruno Le Maire, para discutir o tema. Ontem, Le Maire se esquivou de comentar as divergências entre o bloco europeu e os países do Mercosul:

— O objeto da visita [do presidente Lula] é o pacto para um novo quadro financeiro, é nisso que contamos com ele. Há uma cooperação formidável entre a França e o Brasil, pelo momento vamos deixar de lado os temas comerciais e cuidar sobretudo do apoio aos países mais pobres. O presidente Lula terá uma discussão com o presidente Macron amanhã (hoje) sobre este tema, deixemos eles conversarem — disse ao GLOBO, pouco antes de sua intervenção na cúpula.

Em Paris, Lula viveu seu momento de popstar diante de uma multidão no Champ de Mars, em frente à Torre Eiffel, no Power our Planet, um show de "música e ativismo", assim definido por seus organizadores, a ONG Global Citizen, e que teve Billie Eilish, Lenny Kravitz e H.E.R. como atrações.

— Vamos ser muito duros contra toda e qualquer pessoa que quiser derrubar uma árvore para plantar soja, milho ou criar gado. Amazônia é um território soberano do Brasil, mas ao mesmo tempo, ela pertence a toda a humanidade e, por isso, faremos todo e qualquer esforço para manter a floresta em pé — disse o presidente, sob aplausos, ao reafirmar o compromisso de desmatamento zero na região até 2030.

Sua participação foi um convite do músico Chris Martin, vocalista do grupo Coldplay, curador internacional do festival desde 2015. Os dois se encontraram em março no Rio, e na ocasião o presidente ganhou um violão autografado e contou que conversaram sobre meio ambiente, proteção da Amazônia, combate à fome e sustentabilidade.

Nesta sexta pela manhã, antes do almoço com Macron, Lula fará uma intervenção no encerramento da Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global. O governo francês não esconde suas ambições de incluir o Brasil em seu projeto de refundar as relações Norte-Sul em torno de um nova arquitetura financeira internacional, capaz de conjugar a luta contra a pobreza e uma transição energética que esmoreça o aquecimento global, a poluição do planeta e a destruição da biodiversidade.

Nenhum país deveria ter que escolher "entre combater a pobreza e proteger o planeta", disse Macron na abertura do encontro, que reúne cerca de cinquenta chefes de Estado e de governo, organizações internacionais e ONGs. "Devemos assumir um choque de financiamento público" e "precisamos de muito mais financiamento privado", enfatizou.

Lula teve um almoço tête-à-tête ontem com Dilma Rousseff, presidente do banco dos Brics, no hotel onde está hospedado na capital francesa, e reuniões com os líderes da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e de Cuba, Miguel Díaz-Canel Bermúdez. Também conversou com Sultan al Jaber, presidente da COP28, que ocorrerá em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, de 30 de novembro a 12 de dezembro. Já o encontro com o primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, foi organizado como uma sinalização para a comunidade internacional de que, além de uma guerra no coração da Europa, há outras situações de crise no mundo para as quais não se dá a devida atenção.

O Brasil pretende ajudar o Haiti seja por meio do Conselho de Segurança da ONU ou de forma bilateral. Nesta sexta, Lula terá, à tarde, uma bilateral com a República do Congo e, à noite, um jantar oferecido pelo príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman.

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