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Por Carmélio Dias — Rio de Janeiro

Vinte e cinco dias embaixo do oceano, sem contato com o mundo exterior, sem ver a luz do sol. Assim foi a parte mais desafiadora da viagem feita pelo Tikuna (S-34) — maior e mais moderno submarino em operação da Marinha do Brasil— para participar de exercício militar conjunto com a marinha dos Estados Unidos, no ano passado. A bordo da embarcação, em meio ao imenso oceano, espaço é um bem raro e precioso. Para quem não possui treinamento específico, a sensação nos alojamentos, corredores e demais compartimentos é de inevitável claustrofobia.

O drama vivido pelos cinco ocupantes do submersível Titan despertou inevitável interesse sobre os desafios de quem decide experimentar mergulhos profundos em espaços tão exíguos. Para efeitos comparativos, a embarcação que leva turistas para explorar os destroços do Titanic a quase 4 mil metros de profundidade tem pouco mais de um décimo do comprimento total do Tikuna, que mede, externamente,pouco mais de 62 metros de ponta a ponta.

Veja como é o Tikuna, submarino da Marinha do Brasil

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A viagem do Titan, embora programada para descer a uma distância muito maior do que qualquer um dos cinco submarinos da frota brasileira é capaz de atingir, deveria durar apenas algumas horas. Não se sabe ao certo qual tipo de preparação os passageiros receberam para embarcar no submersível. Já o treinamento dos submarinistas brasileiros, para missões bem mais longas, inclui, além da formação regular da Marinha, um ano adicional de curso específico no Centro de Instrução e Adestramento Almirante Áttila Monteiro Aché (Ciam), informalmente chamado de “escola de submarinos” no meio militar.

Entre as muitas habilidades exigidas do candidato a ocupar um assento na tripulação de um submarino brasileiro, a aptidão psicológica é considerada preponderante.

— É uma capacitação que envolve a parte técnica, que é bem pesada. A cobrança é muito grande, mas não é só isso. Tanto oficiais quanto praças vão sendo avaliados na parte psicológica ao longo do processo, porque a gente tá ali mergulhado, num ambiente confinado, com poucas pessoas, sem celular, sem contato praticamente nenhum com o mundo externo. Não é fácil realmente. Depois que submerge nosso contato é apenas por meio de mensagens que recebemos do comando da força, então essa parte psicológica é muito verificada na nossa formação — explica o capitão de mar e guerra Luiz Eduardo Cetrim Maciel, comandante da Base de Submarinos da Marinha, em Niterói.

Na rotina de um submarinista que passa por todas as etapas de treinamento, há pouco tempo para pensar na falta de espaço ao redor ou nos riscos da operação. As tarefas são divididas em turnos de quatro horas de trabalho por oito de descanso ou atividades extras. Exercícios físicos são bem-vindos desde que estacionários, como abdominais ou flexões. Corridas e caminhadas, por motivos óbvios, estão fora de cogitação. Mesmo fora do turno normal de trabalho, no entanto, é exigida prontidão permanente.

— Na rotina do submarinista a gente tem pouco tempo para pensar em problemas externos. Temos uma escala de serviço relativamente puxada, mas dá para você fazer suas refeições normalmente, para descansar, estudar, ler. Só o contato com o mundo externo que não existe, esquece. Ficamos o tempo todo focados e em prontidão. A gente precisa confiar plenamente um no outro, cada válvula que um militar nosso abre ou fecha a gente está confiando a nossa vida nas mãos dele — diz o comandante Cetrim.

O exemplo da válvula não é exagerado. Em mais de 100 anos operando submarinos — os primeiros submersíveis brasileiros remontam ao ano de 1914 — o mais grave acidente registrado foi o do Tonelero S-21, em dezembro do ano 2000. A embarcação estava fundeada no cais do Arsenal de Marinha do Rio, no Centro, na altura da Praça Mauá, onde passava por reparos. Uma sequência de falhas em válvulas do sistema hidráulico causou um alagamento que levou o submarino, avaliado à época em 150 milhões de dólares, a pique. Os nove militares que estavam a bordo conseguiram sair ilesos. O Tonelero foi içado do fundo, mas teve sua “aposentadoria” antecipada.

— Todas as ocorrências que envolvem submarinos na Marinha do Brasil são levadas para o Ciama. Um grupo de oficiais analisa aquele acidente ou incidente e busca propor medidas para evitar que aquilo volte ocorrer — explica o comandante — Existem riscos, claro, mas todos os militares estão ali porque foram muito bem treinados física e psicologicamente para exercerem suas funções e, sobretudo, realmente têm gosto pelo fazem — completou.

Imagens do retorno do Tikuna ao Brasil após o exercício realizado em águas norte-americanas, em outubro do ano passado, mostram tripulantes e seus parentes emocionados pelo reencontro após o longo período de afastamento — ao todo foram 209 dias de missão. Submarinistas gostam de dizer que, ao ingressar na profissão e vivenciar, ao limite, experiências tão intensas de confinamento, passam a viver com duas famílias: uma em terra, outra a bordo.

— Tenho muita saudade da vida operativa num submarino. É um ambiente fraterno em que a gente desenvolve muita confiança um no outro e convive como família mesmo. Eu gosto muito, faria tudo de novo — disse o comandante Cetrim.

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