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Por Rafael Garcia — São Paulo

O Telescópio Espacial James Webb completa um ano em operação nesta semana num clima de entusiasmo. Após alguns meses produzindo imagens bonitas, “jogando para a torcida”, os cientistas já começam a divulgar estudos que têm impacto científico real sobre a compreensão do cosmo.

O centro que gerencia o projeto da Nasa em parceria com outras instituições, o Space Telescope Science Institute (STScI), já lista 750 estudos feitos diretamente com dados e imagens coletados pelo James Webb. Uma segunda frente de artigos científicos já trabalha também em interpretar o que o telescópio está enxergando.

Dos dois campos de pesquisa mais populares, a busca de vida fora da Terra e a compreensão das origens do Universo, o segundo foi o mais impactado até aqui. Uma descoberta importante foi semeada logo pela primeira imagem realizada pelo telescópio, em 11 de julho de 2022: a foto mais profunda já feita do Universo.

James Webb detectou galáxias que estão entre as mais distantes já vistas  — Foto: Divulgação
James Webb detectou galáxias que estão entre as mais distantes já vistas — Foto: Divulgação

Quanto mais distante uma galáxia está, mais antiga é a imagem que se vê dela, porque a velocidade da luz é finita. A mais profunda detectada ali pelo James Webb tem 13,1 bilhão de anos de idade: uma relíquia arqueológica cósmica, considerando que o Universo nasceu com o Big Bang há 13,8 bilhão de anos.

O James Webb foi projetado para enxergar nessa distância em parte por enxergar luz infravermelha muito bem. À medida que a luz viaja dos rincões do espaço até aqui, a expansão do Universo estica o comprimento das ondas luminosas, que diminuem de frequência. Por isso, em astronomia, enxergar longe significa enxergar bem o vermelho e as “cores invisíveis” abaixo dele.

O Webb já começou a mapear a distribuição das galáxias dos primeiros dois bilhões de anos do Universo.

Ordem inesperada

Aquilo que se esperava ver nos confins do cosmo, porém, não está muito em conformidade com a expectativa dos cientistas. Num Universo inicial com maior concentração de matéria, a lógica implica que as galáxias provavelmente estariam disputando espaço, com colisões e interações numa frequência muito maior. Mas não foi isso que se viu.

— Nossa previsão inicial era ver muitas galáxias com formas irregulares, com várias delas se fundindo, mas o que a gente percebeu é que na verdade a morfologia dessas galáxias mais distantes se parece muito com a do nosso universo local — afirma o astrônomo brasileiro Leonardo Ferreira, da Universidade de Victoria (Canadá).

Ferreira liderou dois desses estudos, peças de quebra-cabeça num cenário que está surpreendendo os teóricos da cosmologia, que esperavam um universo diferente numa época tão remota. É como se o cosmo tivesse “queimado a largada” do Big Bang, o que não faz sentido. Essa inconsistência deve levar teóricos à prancheta para refinar seus modelos.

Não é só nas regiões remotas do cosmo, porém, que o Webb tem se destacado. Na astrofísica de estrelas mais próximas, ele tem revelado detalhes, por exemplo, de como é a morte de estrelas como o Sol. Uma observação impactante do Webb foi a da nebulosa Anel do Sul, uma nuvem de gás e fragmentos ejetada de uma estrela que morreu lentamente.

Um consórcio internacional de 69 cientistas se reuniu para analisar dados do Webb sobre o objeto e concluiu que a estrela em questão não morreu solitária. Ela era, na verdade, um sistema binário de estrelas companheiras, que durante o processo de inchaço e expulsão de gás ao final de suas vidas provavelmente enovelou mais duas outras estrelas próximas.

Morte tumultuada

A interação produziu um padrão complexo de arcos e filamentos no espaço que só agora o Web conseguiu mostrar com clareza, por isso foi possível inferir esse cenário caótico usando modelos de computador. A astrônoma Denise Gonçalves, do Observatório do Valongo/UFRJ, foi coautora da descoberta e crê que esse tipo de evento não é exceção.

— A gente acredita que isso é uma coisa muito mais típica do que rara — diz a cientista. — Quando a gente olha para todas as nebulosas planetárias que a gente conhece na galáxia, elas não são todas redondinhas. E para tirar a “esfericidade” da morfologia delas precisamos invocar mais de uma estrela no centro. Agora a gente sabe que podem ter várias estrelas.

Além da cosmologia e da astrofísica de estrelas, o Webb promete revolucionar a busca da existência de vida fora da Terra. O telescópio já conseguiu identificar a presença de moléculas de carbono que embasam a química orgânica em torno de outra estrela. O desafio agora é achar substâncias como CO2 e metano dentro de planetas específicos, meta que fica para os próximos anos.

Alvos para o James Webb não faltam. Para o astrônomo Cassio Leandro Barbosa, professor do Centro Universitário FEI, o bom desempenho do telescópio no primeiro ano eleva a expectativa para os próximos.

— A missão do James Webb já foi estendida. Além dos cinco anos prioritários, esperam operar por mais cinco, e existe até perspectiva de que chegue a 20 anos — explica. — Além disso, o telescópio conseguiu atingir uma resolução cerca de dez vezes melhor do que a prevista.

É só o começo: seis descobertas incríveis do telescópio James Webb

Teia primordial

No Universo atual, com 13,8 bilhões de anos de idade, as galáxias não estão distribuídas uniformemente. Elas se agrupam ao longo de filamentos de força gravitacional, lembrando o traçado de uma teia de aranha. Cientistas usaram imagens do James Webb para observar um grupo de 10 galáxias distantes (circuladas nesta imagem), de quando o cosmo tinha só 0,8 bilhão de anos. Já naquela época, as galáxias se agrupavam daquela maneira.

Imagem do James Webb captou galáxias distantes de quando o universo tinha 0,8 bilhão de anos. — Foto: NASA, ESA, CSA, Feige Wang (University of Arizona), and Joseph DePasquale (STScI)
Imagem do James Webb captou galáxias distantes de quando o universo tinha 0,8 bilhão de anos. — Foto: NASA, ESA, CSA, Feige Wang (University of Arizona), and Joseph DePasquale (STScI)

Nuvens exoplanetárias

O telescópio James Webb foi o primeiro a conseguir enxergar a evidência de um planeta fora do Sistema Solar que possui nuvens. Catalogado com a sigla VHS 1256 b, esse mundo que fica a 40 anos-luz da Terra tem uma atmosfera de vapor d'água, metano e monóxido de carbono com uma movimentação turbulenta que o faz variar de brilho. Essa oscilação é que permitiu ao Webb detectar suas características.

ilustração conceitualiza as nuvens rodopiantes identificadas pelo Telescópio Espacial James Webb na atmosfera do exoplaneta VHS 1256 b. — Foto: NASA, ESA, CSA, Joseph Olmsted (STScI)
ilustração conceitualiza as nuvens rodopiantes identificadas pelo Telescópio Espacial James Webb na atmosfera do exoplaneta VHS 1256 b. — Foto: NASA, ESA, CSA, Joseph Olmsted (STScI)

Cometa a vapor

Com seu espectrógrafo de alta precisão para luz infravermelha, um instrumento que decompõe a luz em diferentes frequências, o James Webb consegiu detectar vapor pela primeira vez em um cometa que tem a ponta de sua órbita no cinturão de asteroides. Isso significa que essa região do Sistema Solar possui água preservada de tempos primordiais, e que parte da água da Terra pode ter se originado dali.

Conceito artístico do Cometa 238P/Read mostra o cometa do cinturão principal sublimando – seu gelo de água vaporizando conforme sua órbita se aproxima do sol. — Foto: NASA, ESA
Conceito artístico do Cometa 238P/Read mostra o cometa do cinturão principal sublimando – seu gelo de água vaporizando conforme sua órbita se aproxima do sol. — Foto: NASA, ESA

Clareando a vista

Quando o Universo tinha cerca de 380 milhões de anos, os primeiros átomos neutros que se formavam se acumularam num gás tão denso que a luz não podia atravessá-lo. O cosmo ficou opaco. Com cerca de 1 bilhão de anos, porém, ele voltou a ficar transparente. Uma observação do Webb mostrou que as primeiras estrelas emitiram uma radiação forte que “reionizou” esse gás, decompondo os átomos e abrindo espaço para a luz.

Por observações a partir do James Webb, cientistas encontraram evidências de que galáxias que existiam 900 milhões de anos após o big bang ionizaram o gás ao seu redor, tornando-o transparente. — Foto: NASA, ESA, CSA, Simon Lilly (ETH Zürich), Daichi Kashino (Nagoya University), Jorryt Matthee (ETH Zürich), Christina Eilers (MIT), Rob Simcoe (MIT), Rongmon Bordoloi (NCSU), Ruari Mackenzie (ETH Zürich); Image Processing: Alyssa Pagan (STScI) Ruari Macken
Por observações a partir do James Webb, cientistas encontraram evidências de que galáxias que existiam 900 milhões de anos após o big bang ionizaram o gás ao seu redor, tornando-o transparente. — Foto: NASA, ESA, CSA, Simon Lilly (ETH Zürich), Daichi Kashino (Nagoya University), Jorryt Matthee (ETH Zürich), Christina Eilers (MIT), Rob Simcoe (MIT), Rongmon Bordoloi (NCSU), Ruari Mackenzie (ETH Zürich); Image Processing: Alyssa Pagan (STScI) Ruari Macken

Precursora orgânica

Observando um sistema estelar em formação a 1.350 anos-luz, o James Webb conseguiu detectar a presença de uma substância importante para ambientes como o da Terra. O metil, que consiste de um átomo de carbono ligado a três de hidrogênio, é molécula de carga positiva precursora da química orgânica. Essencial na sucessão de eventos que levam ao surgimento da vida, talvez ela não seja tão rara.

Imagem tirada pela NIRCam (Câmera de infravermelho próximo) do James Webb mostra uma parte da Nebulosa de Orion conhecida como Orion Bar. — Foto: ESA/Webb, NASA, CSA, M. Zamani (ESA/Webb), and the PDRs4All ERS Team
Imagem tirada pela NIRCam (Câmera de infravermelho próximo) do James Webb mostra uma parte da Nebulosa de Orion conhecida como Orion Bar. — Foto: ESA/Webb, NASA, CSA, M. Zamani (ESA/Webb), and the PDRs4All ERS Team

Cosmo profundo

A primeira imagem divulgada pelo telescópio James Webb, em julho de 2022, que demandou mais de 12 horas de observação fixa, é a observação mais profunda já realizada do Universo. Essa imagem parece cheia de galáxias, mas muitas estão na verdade distantes umas das outras, em profundidades diferentes. Aquelas longínquas são de quando o cosmo tinha só 0,7 bilhão de anos e devem ajudar astrônomos a entender como ele era nessa época.

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