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Por O Globo e agências internacionais — Vilna

Os países do Grupo dos Sete (G7), espinha dorsal do apoio Ocidental à Ucrânia, anunciaram nesta quarta-feira compromissos de longo prazo para ajudar Kiev em sua resistência à invasão russa. A promessa, contudo, não substitui a adesão ucraniana à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), disse o presidente Volodymyr Zelensky em Vilna, na Lituânia, durante o encerramento da cúpula da aliança atlântica.

O plano de Zelensky, que teve uma agenda extensa de reuniões com os principais chefes de governo do G7, era sair da Lituânia com um convite formal de ingresso na aliança militar, criada no fim da Segunda Guerra Mundial para conter o avanço da influência soviética em direção ao Ocidente. Os aliados, contudo, optaram por não fazê-lo neste momento, lançando no lugar o instrumento para a ajuda de longo prazo.

Por ele, os Estados se comprometem a ajudar Kiev a ter Forças Armadas "sustentáveis e capazes de defender a Ucrânia agora e deter agressões russas no futuro", com a assistência militar, apoio ao desenvolvimento da indústria ucraniana e treinamento de tropas. Prevê ainda maior compartilhamento de inteligência e cooperação, além de apoio à ciberdefesa.

A ideia é mostrar que Moscou deve abandonar a ilusão de que o apoio a Kiev eventualmente perderá fôlego, conforme a guerra se prolonga, as atenções se dissipam e a fadiga começa a ofuscar o interesse. Os aliados preveem ainda medidas para fortalecer a economia ucraniana, que criem um ambiente adequado para as reformas demandadas para que o país ingresse na Otan.

A promessa, na prática, é um marco em que cada país posteriormente adotará acordos bilaterais para detalhar quais armas serão entregues. Em caso de ataques futuros, o grupo também se compromete a agir para fornecer de forma "rápida e sustentada assistência de segurança e equipamentos militares modernos", além de impor custos econômicos à Rússia.

O presidente Joe Biden, que posteriormente teve uma reunião bilateral com Zelensky, deve propor um modelo similar ao que Washington tem com Israel, com quem tem um compromisso de investir US$ 3,8 bilhões de segurança em ajuda militar ao longo de uma década.

— Posso apenas imaginar a frustração. Eu sei, vocês estão muito frustrados sobre quis coisas chegam a vocês suficientemente rápido, sobre o que chega para vocês e como estamos procedendo. Mas prometo: os EUA estão fazendo tudo a seu alcance para entregar aquilo que vocês precisam do jeito mais rápido possível — disse Biden no encerramento da reunião.

Biden referia-se à frustração ucraniana após os 31 países-membros da Otan emitirem na terça um comunicado afirmando que "o futuro da Ucrânia está no Otan", mas que o ingresso só ocorrerá quando "os aliados concordarem e as condições forem cumpridas". De acordo com o documento, as condições mencionadas incluem avaliações regulares, por representantes da Otan, de critérios relacionados a compromissos democráticos e integração militar com o bloco.

Antes mesmo da divulgação do documento, o tom desagradou Zelensky, que chamou o posicionamento de "absurdo" pois só incentivaria a Rússia a continuar suas agressões. Nesta quarta, ao chegar em Vilna, afirmou ser "compreensível que a Ucrânia não possa se juntar à Otan durante a guerra", mas que seria ideal haver um convite formal para o ingresso.

Mais tarde, em uma entrevista coletiva ao lado do secretário-geral da Otan, Jens Stolteberg, afirmou que as promessas do G7 não são um substituto para o ingresso ucraniano na aliança, mas sim "garantias de segurança no nosso caminho para a integração":

— Tenho confiança de que, depois da guerra, Ucrânia estará na Otan. Faremos todo o possível para que isso ocorra — disse o mandatário, horas após reforçar em um discurso em praça pública na Lituânia que "a Otan dará segurança à Ucrânia".

As prioridades ucranianas para a cúpula, ele havia afirmado, eram "novos pacotes de auxílio para o nosso Exército no campo de batalha", "um convite para a Otan, pois precisamos do entendimento de que teremos esse convite quando a situação de segurança permitir". Outro ponto, disse ele, seria "discutir garantias de segurança para a Ucrânia no nosso caminho para a Otan".

A insistência gerou críticas no secretário de Defesa britânico, Ben Wallace, que disse que Kiev deve demonstrar mais gratidão à ajuda que o Ocidente vem fornecendo. Ele afirmou que, durante uma visita a Kiev no ano passado, foi apresentado com uma lista de armas:

— Sabe, nós não somos a Amazon. Eu disse isso para eles ano passado, quando dirigi 11 horas para receber uma lista.

Tom similar, mas mais contudo, foi adotado pelo conselheiro de Segurança Nacional americano, Jake Sullivan. Também em um evento na Lituânia, disse que o "povo americano de fato merece algum grau de gratidão pela disposição do governo dos EUA de se prontificar, e do resto do mundo também.

As declarações foram posteriormente amenizadas pelo premier britânico, Rishi Sunak, e outros chefes de governo, que ressaltaram que Zelensky já fez múltiplos agradecimentos. O próprio presidente ucraniano amenizou o tom no fim do dia ao dizer que "as promessas do G7 abrem novas oportunidades de segurança para Kiev" e agradecer nominalmente aos pares no palco.

Mais tarde, em uma reunião privada com Biden, agradeceu Washington por seu "grande apoio" de bilhões de dólares em armamentos, financiamento e ajuda humanitária, afirmando que "o dinheiro foi gasto para nossas vidas".

"[Tivemos uma reunião] muito boa, poderosa", tuitou Zelensky ao fim do encontro, afirmando que conversaram ao menos pelo dobro do tempo previsto. "Se o protocolo não tivesse interrompido, teríamos falado ainda mais. Todos os tópicos. Ajuda a longo prazo. Armas. Política. Otan. Nós vemos claramente como acabar esta guerra com nossa vitória comum."

Temores sobre adesão

O texto final do comunicado foi considerado uma vitória de Biden, que na semana passada declarou que a Ucrânia ainda não estaria pronta para aderir à Otan, ressaltando que antes o país precisa cumprir algumas pré-condições, como mais salvaguardas democráticas.

Outra preocupação americana e de outros atores de peso, como a Alemanha, é que, no cenário atual, uma adesão imediata também equivaleria a pôr todo o bloco em guerra com a Rússia devido ao Artigo 5° do Tratado, que versa sobre as garantias de defesa territorial coletiva dos países-membros. Estar sob o guarda-chuva da cláusula é algo que Kiev considera fundamental para evitar novas agressões russas.

— Não vemos Estados-membros da Otan em guerra, morrendo, sofrendo, defendendo seu próprio país. Por isso entendemos que as melhores garantias para a Ucrânia são estar na Otan — disse Zelensky.

Por si só, o plano do G7 despertou reações negativas no Kremlin, que disse por meio de seu porta-voz, Dmitry Peskov, que os termos poriam em risco a segurança da Rússia. Em seus comentários diários à imprensa, ele disse que as garantias farão com que a Europa seja "muito mais perigosa durante anos e anos".

— Ao propor essas garantias de segurança à Ucrânia, esses países estarão atacando a segurança da Rússia — disse ele, que prometeu também "contramedidas" caso os ucranianos usem as controversas bombas fragmentárias cujo envio foi anunciado por Biden na semana passada, algo também dissensual entre os aliados.

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