A avaliação do governo da França é a de que a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas mesas de negociação sobre a Venezuela mudou a dinâmica do debate, segundo apurou O GLOBO, se comparada a novembro passado. Na segunda, o petista sentou-se pela primeira vez com representantes do governo e da oposição venezuelana, após críticas consecutivas sobre declarações e acenos vistos como favoráveis ao governo de Nicolás Maduro.
A reunião de terça em Bruxelas, sede da Cúpula União Europeia (UE) com a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), foi orquestrada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, que convidou representantes da oposição venezuelana, Gerardo Blyde, e de Caracas, Delcy Rodriguez. Participaram também os presidentes da Argentina, Alberto Fernandez, e da Colômbia, Gustavo Petro.
Para o Palácio do Eliseu, Lula é um elemento novo, porém determinante, já que o Brasil representa a principal potência demográfica e econômica da América Latina. O país, avaliam os franceses, tem peso para influenciar a resolução da crise venezuelana e conseguir um acordo entre as partes.
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O governo Lula em imagens
![Com a ausência do antecessor, Lula subiu a rampa e recebeu a faixa das mãos do povo — Foto: Hermes de Paula/Agencia O Globo](https://s2-oglobo.glbimg.com/EqbCWhuudTm2jEpWkX4f8ZGV6qs=/0x0:5103x3402/648x248/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/R/f/1ZHsDUTiWJW51ydDdJ1g/101640195-pa-brasilia-bsb-01-01-2023-posse-lula-show-apoiadores-cerimonia-de-posse-d.jpg)
![Com a ausência do antecessor, Lula subiu a rampa e recebeu a faixa das mãos do povo — Foto: Hermes de Paula/Agencia O Globo](https://s2-oglobo.glbimg.com/HVw_ZYALTzcWH5-cFf2IeFrKD7E=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/R/f/1ZHsDUTiWJW51ydDdJ1g/101640195-pa-brasilia-bsb-01-01-2023-posse-lula-show-apoiadores-cerimonia-de-posse-d.jpg)
Com a ausência do antecessor, Lula subiu a rampa e recebeu a faixa das mãos do povo — Foto: Hermes de Paula/Agencia O Globo
![Lula se emocionou ao discursar contra a fome, que prometeu erradicar novamente — Foto: Evaristo Sa/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/rnzEttM0tw3Y618VloWHCDkYvEE=/0x0:3359x2239/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/S/e/CmTKXzTBW195t8LGA0fA/101640145-brazils-new-president-luiz-inacio-lula-da-silva-l-gets-emotional-next-to-his-wife-first-l.jpg)
![Lula se emocionou ao discursar contra a fome, que prometeu erradicar novamente — Foto: Evaristo Sa/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/uLaXDldWwu1mQCknfjtcs9MhXSI=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/S/e/CmTKXzTBW195t8LGA0fA/101640145-brazils-new-president-luiz-inacio-lula-da-silva-l-gets-emotional-next-to-his-wife-first-l.jpg)
Lula se emocionou ao discursar contra a fome, que prometeu erradicar novamente — Foto: Evaristo Sa/AFP
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![Presidente Lula, a primeira-dama Janja, em cerimônia de posse de Anielle Franco e Sônia Guajajara como ministras — Foto: Sergio Lima / AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/hoF1SNmhN_AQCssl6z_wI3q6xNk=/0x0:1430x954/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/K/S/Mwe4j7QEmm9aydAp4wuQ/101729329-l-r-brazilian-new-minister-of-indigenous-people-sonia-guajajara-new-minister-for-racia.jpg)
![Presidente Lula, a primeira-dama Janja, em cerimônia de posse de Anielle Franco e Sônia Guajajara como ministras — Foto: Sergio Lima / AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/wkETge3gnI3GwOnuRdEd5DF3ClA=/1430x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/K/S/Mwe4j7QEmm9aydAp4wuQ/101729329-l-r-brazilian-new-minister-of-indigenous-people-sonia-guajajara-new-minister-for-racia.jpg)
Presidente Lula, a primeira-dama Janja, em cerimônia de posse de Anielle Franco e Sônia Guajajara como ministras — Foto: Sergio Lima / AFP
![De volta ao mundo. Presidente Lula recebe o chanceler alemão Olaf Scholz no primeiro mês de governo — Foto: Cristiano Mariz/O Globo](https://s2-oglobo.glbimg.com/69f45RSKidcQA2eQ69N5wi0GKx8=/1128x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/d/k/lxY0ZCR2OZhP1yNsOWUg/101906929-mariz-brasilia-28-01-2023-luiz-inacio-lula-da-silva-olaf-scholz-chanceler-alemao-pre.jpg)
De volta ao mundo. Presidente Lula recebe o chanceler alemão Olaf Scholz no primeiro mês de governo — Foto: Cristiano Mariz/O Globo
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![No dia seguinte à tentativa frustrada de golpe de estado, Lula desce rampa do Palácio do Planalto com governadores e representantes dos Três Poderes — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo/09-01-2023](https://s2-oglobo.glbimg.com/OpPZZl9lM3OF8iRcZNrXK5E9a4M=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/u/J/TuTYiETmibP7jhC70Y5Q/101712026-mariz-pa-brasilia-09-01-2023-lula-rosa-weber-rampa-rosa-weber-janja-stf-pres.jpg)
No dia seguinte à tentativa frustrada de golpe de estado, Lula desce rampa do Palácio do Planalto com governadores e representantes dos Três Poderes — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo/09-01-2023
![Lula acompanha a situação dos Yanomami, povo que vive grave crise sanitária. — Foto: Ricardo Stuckert](https://s2-oglobo.glbimg.com/47HdaAoroYTNnBUMfVs2fjBbH7Y=/1024x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/e/M/WQ4wH4TNaLTrFBsoODrQ/whatsapp-image-2023-01-21-at-14.06.41.jpeg)
Lula acompanha a situação dos Yanomami, povo que vive grave crise sanitária. — Foto: Ricardo Stuckert
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![Lula, segundo à esquerda, entrega habitações do Minha Casa, Minha Vida na Bahia com o ministro das Cidades, Jader Filho (à direita da placa): disputa no MDB gera impasse em secretaria — Foto: Joédson Alves/Agência Brasil](https://s2-oglobo.glbimg.com/eqEwzy5PjQfVAYYqCHFyJyzG_rI=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/i/u/suSJiLQCa36HfFkFca8Q/102052990-santo-amaro-da-purificacao-ba-14-02-2023-o-presidente-luiz-inacio-lula-da-silva-part.jpg)
Lula, segundo à esquerda, entrega habitações do Minha Casa, Minha Vida na Bahia com o ministro das Cidades, Jader Filho (à direita da placa): disputa no MDB gera impasse em secretaria — Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
![Boa vizinhança. O presidente da Argentina, Alberto Fernández, recebe Lula na Casa Rosada — Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação](https://s2-oglobo.glbimg.com/2L_NU2XD_2WwZuqyAtM5jJH1ZZw=/768x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/F/a/rBnCZJSUazvF7DNQYh3Q/lulaalberto.jpg)
Boa vizinhança. O presidente da Argentina, Alberto Fernández, recebe Lula na Casa Rosada — Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação
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![Lula aproveitou visita ao Uruguai para se encontrar com o ex-presidente Pepe Mujica — Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação](https://s2-oglobo.glbimg.com/7xSfYxSo8fanLP7aG3bujpGi4Ho=/1024x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/1/x/4nMH2YQi6sdTuDu0ATBg/lula-mujica.jpg)
Lula aproveitou visita ao Uruguai para se encontrar com o ex-presidente Pepe Mujica — Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação
![Biden recebeu Lula e a primeira-dama Janja na Casa Branca na sexta-feira — Foto: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/eQxT_MMH0QiTN1Yrlcdh79vXaJ8=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/B/A/suuOQyTUqIMBcu5fNH6A/102014295-topshot-us-president-joe-biden-and-first-lady-jill-biden-r-welcomes-brazilian-presid.jpg)
Biden recebeu Lula e a primeira-dama Janja na Casa Branca na sexta-feira — Foto: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS/AFP
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A primeira reunião organizada por Macron ocorreu em novembro do ano passado, quando Blyde — liderança de oposição moderada na Venezuela — encontrou-se em Paris com o representante do chavismo Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional do país. Petro também estava presente no Fórum de Paris para a Paz, que ocorreu semanas após o segundo turno brasileiro, quando Lula ainda era presidente eleito e o Itamaraty estava sob o comando do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Como adiantado na segunda pelo GLOBO, o presidente brasileiro falou na reunião de quase duas horas na Bélgica sobre a importância de a Venezuela ter um processo eleitoral reconhecido por todas as partes. Também disse que só os venezuelanos podem resolver o problema do país e insistiu para que os dois lados cheguem a um acordo. Mais tarde, durante sua live semanal, afirmou que "discutiram um pouco a possibilidade de normalizar a situação na Venezuela".
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'Janela de oportunidade'
Os franceses levaram a oposição venezuelana ao encontro justamente por ver uma janela de oportunidade política para resolver a crise. Segundo avaliação de Paris, é preciso manter o Brasil engajado na questão da Venezuela para se ter uma boa dinâmica.
Durante a reunião, foi estabelecido que os dois lados devem entrar em um acordo para poder organizar eleições no ano que vem na Venezuela sob condições livres, justas, abertas e iguais. O ponto é considerado essencial pelos presentes para sair da crise e permitir o levantamento de sanções internacionais impostas contra a Venezuela após o reconhecimento internacional de Juan Guaidó como presidente venezuelano por mais de 50 países, incluindo o Brasil, do início de 2019 até janeiro de 2023.
Os participantes concordaram que, uma vez que seja alcançada uma solução para a crise, todas as sanções devem ser suspensas, inclusive as americanas — algo que permitiria ao país voltar a se engajar economicamente em maior escala. Para a oposição, a prioridade é ter garantias de um processo eleitoral livre, aberto, igual e transparente no ano que vem.
Em comunicado conjunto divulgado nesta terça, os líderes instaram o governo de Caracas e a oposição a retomarem as negociações no México "com o objetivo de chegarem a um acordo, entre outros pontos da agenda, sobre as condições para as próximas eleições".
A UE pediu também para enviar uma missão de observação eleitoral para o pleito, na linha do comunicado sobre a reunião. Há cinco dias, Rodríguez havia dito que Caracas não autorizaria a presença da missão na eleição, em que Maduro pretende se reeleger.
O anuncio foi visto como um retrocesso após os europeus enviarem representantes para acompanharem as eleições regionais de 2021 pela primeira vez em 15 anos. Na época, a missão identificou melhoras nas práticas eleitorais, embora tenha feito ressalvas sobre problemas a superar. Os observadores apresentaram 23 recomendações, entre as quais a melhora da autonomia da autoridade eleitoral e o fim das inabilitações de políticos de oposição.
No início do mês, o bloco europeu também expressou "preocupação" com a proibição de exercer cargos públicos imposta por 15 anos a María Corina Machado, principal pré-candidata de oposição, líder em várias pesquisas. O tema foi ressuscitado pelos franceses do encontro de ontem. A ex-deputada, que há anos é forte opositora do chavismo, aparecia com mais de 50% das intenções de votos nas primárias de oposição, marcadas para outubro, à frente do candidato Henrique Capriles, mais moderado — e também inabilitado — e tem arrastado multidões nos atos que promove pelo país.
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Após críticas
O encontro com representantes da oposição pela primeira vez em sete meses de mandato veio após o presidente brasileiro ser criticado por declarações vistas como pró-Maduro. Na cúpula do Mercosul, durante o início do mês na Argentina, por exemplo, criticou a tentativa de isolamento do país, que enfrenta uma série de denúncias de violações de direitos humanos, por parte do restante da América do Sul — na mesma ocasião, outros mandatários repudiaram a inabilitação de María Corina.
A saia-justa havia ganhado força em maio, quando Maduro esteve em Brasília para um retiro de chefes de Estado da América do Sul convocado pelo petista. A visita foi marcada pela polêmica declaração de Lula de que a Venezuela é "vítima" de uma "narrativa de antidemocracia e autoritarismo" — fala que foi posteriormente criticada pelos presidentes de Uruguai, Paraguai, Chile e Equador. Em outra ocasião, disse que o "conceito de democracia era relativo" ao ser questionado sobre o assunto.
As declarações do petista geraram reação da opinião pública brasileira, e a visita de Maduro foi mal recebida nas redes sociais, onde 59% de 326 mil menções ao assunto tiveram conotação negativa, de acordo com uma pesquisa da Qaest da época. María Corina, por sua vez, disse que a posição do presidente brasileiro é "inadmissível a esta altura do jogo", enquanto Capriles afirmou que as declarações de Lula foram um "tapa na cara".
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