A caminho das primárias para escolher o próximo candidato presidencial do partido governista na Bolívia, o ex-presidente Evo Morales e o presidente Luis Arce, seu discreto ministro por mais de uma década, protagonizam a mais recente ruptura entre antigos aliados na política latino-americana.
- Contexto: Presidente Luis Arce perde favoritismo na Bolívia em meio a crise econômica (que ele nega existir)
- Dólares 'evaporam' na Bolívia: cidadãos enfrentam fila de até 6 horas para trocar dinheiro
E o roteiro é quase idêntico a de outros afastamentos: um presidente escolhe seu sucessor, pavimenta sua ascensão à Presidência e, já instalado no poder, o protegido rompe com o mentor e se torna seu rival. Álvaro Uribe e Juan Manuel Santos, na Colômbia; Rafael Correa e Lenín Moreno, no Equador; e agora Morales e Arce, na Bolívia.
Os dois muito provavelmente se enfrentarão nas primárias do Movimento ao Socialismo (MAS), que serão realizadas em dezembro e janeiro e das quais sairá o candidato para as eleições presidenciais de 2025.
Veja imagens do Salar de Uyuni, na Bolívia, o maior deserto de sal do mundo
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![O pôr do sol é um dos momentos mais bonitos no Salar de Uyuni, na Bolívia — Foto: Claudia Morales / Reuters](https://s2-oglobo.glbimg.com/kvTyJY32WCMTfqBsCwIc7Y0XUcQ=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/h/T/IEtB86QQOAQP8HXHvTfw/98831700-a-tourist-walks-along-the-water-at-dusk-at-the-uyuni-salt-flat-in-bolivia-march-29-2022-pic.jpg)
O pôr do sol é um dos momentos mais bonitos no Salar de Uyuni, na Bolívia — Foto: Claudia Morales / Reuters
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![Mulher com traje típico boliviano no Salar de Uyuni, o maior deserto de sal do mundo, na Bolívia — Foto: Claudia Morales / Reuters](https://s2-oglobo.glbimg.com/ZfXB70ZCEU6beiqlevpLd2Cs6Dg=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/s/6/QQLBvHSRmnagh41UA3NQ/98831732-a-woman-in-a-cholita-dress-poses-for-photos-at-the-uyuni-salt-flat-in-bolivia-march-26-2022.jpg)
Mulher com traje típico boliviano no Salar de Uyuni, o maior deserto de sal do mundo, na Bolívia — Foto: Claudia Morales / Reuters
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Subordinado?
Depois de sua tentativa fracassada de reeleição após 14 anos de mandato, Morales contou com o apoio de Arce para que o MAS recuperasse o poder. Desde seu breve autoexílio, o líder indígena atuou como chefe de campanha do atual presidente, que foi seu ministro da Economia de 2006 a 2019.
— Até 2019, no MAS, a liderança de Evo Morales era inquestionável — opina María Teresa Zegada, cientista política das universidades Católica e San Simón.
Segundo a analista, o próprio ex-presidente via Arce como um "substituto temporário, nunca o enxergou como um líder que pudesse disputar com ele o poder". Em entrevistas, inclusive, seguia o tratando como "seu ministro e subordinado".
Porém, Arce, que recebeu 55% dos votos, consolidou-se dentro do MAS como um líder tecnocrata, menos ideologizado e mais autoritário que Morales, de acordo com especialistas.
Carlos Borth, professor de direito constitucional, resume a divisão dentro do partido governante como "a luta aberta para conseguir a indicação oficial nas eleições de 2025".
‘Cuidado com Arce’
Morales, de 63 anos, tornou-se um crítico feroz do governo de seu antigo ministro da Economia, de 58, após expor a suposta corrupção e tolerância das autoridades com o narcotráfico.
No ano passado, acusou o ministro do Interior, Eduardo del Castillo, de roubar seu celular e pediu sua demissão, apontando também o vice-presidente, David Choquehuanca, que foi seu chanceler, como responsável por uma campanha de difamação contra ele.
Arce reafirmou Del Castillo no cargo, o que marcou o ponto de ruptura na relação com Morales.
— Entre os dois não há uma distância ideológica, não é um problema de projeto político, o que os diferencia nessa grande divisão que se abriu [são suas] lideranças personalistas — afirma Zegada.
Há um mês, em seu programa de rádio, Morales dirigiu-se aos líderes de seu partido para alertá-los sobre Arce e pedir que não cedessem às suas pressões.
— Líderes [sindicais] sãos e honestos, cuidado com Lucho Arce — declarou o chefe do MAS.
Até o momento, o presidente só questionou o bloco leal a Morales no Parlamento — dominado pelo MAS — por sua oposição a vários projetos de lei, mas uma colisão parece iminente.
— Há uma crise profunda no MAS. Como resultado dessa incerteza, surgiram duas correntes: uma, a arcista, que está ao lado do presidente do Estado, e a outra, mais tradicional e conservadora, ao lado do ex-presidente Evo Morales — explica Carlos Cordero, cientista político da Universidade Católica da Bolívia.
O desgaste de Morales
Elogiado em sua época de ministro pelo modelo de nacionalizações e redistribuição de renda na Bolívia, Arce teve que lidar com o pós-pandemia e uma crise derivada principalmente da falta de divisas, destinadas sobretudo a subsidiar combustível e alimentos, o que afetou o setor produtivo.
Hoje, sua desaprovação chega aos 50%, de acordo com a mais recente pesquisa da firma privada Diagnosis. No entanto, o grupo no poder dá como ganha a reeleição, diante da enfraquecida oposição e a rejeição despertada por Morales em muitos círculos.
— Evo está em desvantagem, foi perdendo popularidade por suas próprias declarações, por sua posição tão antagonista, confrontadora, crítica ao governo de Arce — indica Zegada.
Sem a origem indígena e o carisma de seu mentor, Arce sustenta sua liderança entre as bases sociais e sindicais com a distribuição de incentivos, além de apoiar-se na figura de seu vice, acrescentam os especialistas.