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Por O Globo e agências internacionais — São Petersburgo, Rússia

O presidente russo, Vladimir Putin, prometeu nesta quinta-feira enviar gratuitamente até 50 mil toneladas de grãos a seis países africanos que têm fortes elos com Moscou. O chefe do Kremlin é anfitrião da cúpula Rússia-África, em São Petersburgo, esforço que coincide com suas tentativas de tranquilizar os visitantes sobre o fim do acordo de exportação de grãos pelo Mar Negro, que aumenta a insegurança alimentar no planeta — e, em particular, nos seus países mais pobres. Para as Nações Unidas, porém, "punhado de doações" não corrigirá o impacto dramático do fim do acordo.

— É evidente que, ao retirar do mercado milhões e milhões de toneladas de grãos, isso levará a preços mais altos — disse António Guterres, secretário-geral da ONU, a repórteres. — Portanto, não é com um punhado de doações a alguns países que corrigimos esse impacto dramático que afeta a todos, em todos os lugares.

Alvo de sanções internacionais desde o lançamento da ofensiva militar, Putin vem apostando no apoio de aliados africanos para neutralizar o isolamento do Ocidente. É a segunda edição do encontro, que ocorreu pela primeira vez em Sochi, às margens do Mar Negro, em 2019. Desta vez, no entanto, apenas 17 chefes de Estado compareceram, menos da metade dos 43 que participaram da última cúpula.

O presidente russo anunciou durante a plenária que enviará de 25 mil a 50 mil toneladas de grãos nos próximos três ou quatro meses para Burkina Faso, Mali, Somália, República Centro-Africana, Eritreia e Zimbábue — para o presidente desta última nação, Emmerson Dambudzo Mnangagwa, Putin também prometeu um helicóptero. A quantia de cereais é significativa para tais nações, mas é uma pequena fração das exportações russas:

— Nós entendemos a importância de um fluxo de alimentos interrupto para os países africanos — disse Putin, na abertura da reunião, culpando os países ocidentais pela "crise" alimentar global e acusando-os de "obstruir" as exportações russas, apesar de um volume recorde de trigo e de as vendas de fertilizantes estarem voltando para níveis anteriores à guerra.

O presidente do Egito, Abdel-Fattah el-Sisi, criticou a retirada russa, enquanto uma autoridade importante do Quênia chamou o fim do pacto de uma "punhalada nas costas". O líder sul-africano, Cyril Ramaphosa, que deve se encontrar com Putin no sábado, também já demonstrou descontentamento com a decisão do Kremlin.

A questão é crucial na cúpula, já que o abandono de Moscou do acordo que permitiria à Ucrânia exportar seus grãos pelo Mar Negro, afeta em grande parte a África. Segundo o Centro Internacional para o Desenvolvimento de Política Migratória, quase metade das nações importam mais de um terço do seu trigo dos russos e ucranianos.

Em um ano, o pacto recém-esfacelado permitiu a exportação de quase 33 milhões de toneladas de cereais ucranianos, principalmente milho e trigo, ajudando a estabilizar os preços mundiais de alimentos e evitando o risco de desabastecimento e de inflação que assombrou o mundo e fez a inflação disparar nos meses iniciais da guerra.

— Nós estamos diante de uma crise alimentar que é em parte causada pela guerra entre Rússia e Ucrânia — disse o presidente do braço Executivo da União Africana, Moussa Faki Mahamat, a Putin em uma mesa redonda. — A África está sofrendo consequências negativas do conflito.

Tanto Rússia quando Ucrânia figuram entre os maiores exportadores de cereais do planeta. Nos cinco anos antes de a guerra estourar, foram responsáveis, respectivamente, por 10% e 3% da produção de trigo do planeta, de acordo com dados da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Ambos também são importantes produtores de cevada, respondendo por 20% da produção global. Moscou é a terceira maior exportadora do planeta e Kiev, a quarta.

Os russos fazem ataques maciços para inviabilizar o uso dos portos no Mar Negro pela Ucrânia — à AFP, porta-voz do Exército de Kiev disse nesta segunda que "praticamente" todos os protos estão bloqueados —, mas a guerra também os prejudicado. Apesar de seu setor agrícola não ser alvo de sanções, os empecilhos logísticos e dificuldades de garantir navios mercantes e seguro para mercadorias prejudicam Moscou.

Ainda assim, os russos vêm exportando quantidades recordes de trigo devido a uma safra particularmente boa. O maior destinatário foi a Turquia, que recebeu 12,3 milhões de toneladas, seguido do Egito, do Irã e da Arábia Saudita.

Eritreia e Mali, que já receberam grãos russos no último ano, segundo a agência Bloomberg, estão entre os sete países que votaram contra a condenação da Rússia pela invasão da Ucrânia na Assembleia Geral da ONU. Outro país que recebeu grãos e será beneficiado pela nova promessa de Putin, a Somália, votou para condenar.

Dos outros três países listados pelo Kremlin nesta quarta, República Centro-Africana e Zimbábue se abstiveram, enquanto Burkina Faso faltou a votação.

Cúpula esvaziada

Após o anúncio desta quinta, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, exortou os líderes africanos a exigirem respostas à crise dos grãos que, segundo ele, mergulha os países mais pobres na crise. Em uma visita à Nova Zelândia, ele afirmou que as nações da África "sabem exatamente quem é o responsável pela situação atual".

— Espero que a Rússia ouça claramente esta mensagem de seus parceiros africanos — disse Blinken.

Na terça-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, atribuiu o baixo quórum de líderes africanos na cúpula a tentativas dos países ocidentais de desencorajar os líderes africanos de participarem. Segundo ele, "praticamente todos os estados africanos foram submetidos a uma pressão sem precedentes dos EUA".

— Hoje, mais do que nunca, é importante nos encontrarmos com os africanos e conversarmos, em particular, a respeito do acordo sobre grãos — disse o porta-voz, que acusou ainda as embaixadas francesas na África de agirem contra o engajamento de lideranças do continente no encontro.

As tentativas russas de pavimentar terreno na região não vêm de agora. O ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, por exemplo, fez duas viagens à África este ano, na tentativa de atrair aliados para o campo de Moscou com um discurso de defesa da luta contra o "imperialismo" ocidental.

Segundo especialistas, o aumento da influência russa aparece especialmente nos contratos de cooperação militar e campanhas de comunicação nas redes sociais. Em países como Mali e República Centro-Africana, grupos paramilitares como o Wagner são essenciais para que Moscou se faça presente sem a necessidade de pôr soldados em solo.

O motim fracassado promovido pelo líder mercenário Yegveny Prigojin pôs brevemente em xeque a continuidade das ações do grupo no continente africano, mas a recruta continuou mesmo assim. Um dos termos do pacto que cessou a rebelião, mediado pelo líder bielorrusso Alexander Lukashenko, incluía o exílio de Prigojin na Bielorrússia, mas o mercenário transita livremente entre os dois países — foi visto, inclusive, nas coxias da cúpula Rússia-África, reunindo-se com autoridades de Repúvlica Centro-Africana.

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