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Por Pilar Bonet, El País

Vladimir Putin quer transformar a Rússia na potência global com maior influência no continente africano — nas relações econômicas, mas também a nível político e cultural. O presidente russo ambiciona ainda abrir acesso a pontos geográficos cruciais para uma nova configuração estratégica que daria a Moscou uma saída privilegiada para o Mar Vermelho, o Golfo Pérsico e o Oceano Índico. Estas são algumas das principais linhas de ação traçadas por Putin durante o discurso no fórum Rússia-África — que começou na quinta-feira, em São Petersburgo e termina nesta sexta-feira — e que teve a presença do chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigojin, um personagem central da influência russa no continente africano.

Os objetivos de Putin na África só podem ser avaliados em termos de resultados, mas já se pode dizer que as metas ambiciosas apresentadas pelo presidente russo no último fórum não corresponderam à realidade. Em 2019, em Sochi, diante de 45 chefes de Estado e de governo africanos, Putin afirmou que o volume comercial da Rússia com o continente era de US$ 20 bilhões em 2018. Agora, em São Petersburgo, garantiu que o mesmo índice foi de US$ 18 bilhões, no ano passado — 2 bilhões a menos, em cinco anos. Mesmo assim, Putin classificou o resultado como um sucesso.

— Este é um dos resultados evidentes da cúpula Rússia-África em Sochi — disse ele em São Petersburgo.

A retórica por trás da cúpula de 2019 era a ideia de um retorno da União Soviética (reencarnada pela Rússia) ao continente africano como uma potência libertadora, anticolonial, e disposta a ajudar os novos Estados africanos a se posicionarem diante do resto do mundo. Nesta segunda edição, a ênfase mudou e Putin destacou a capacidade dos grãos russos (e não ucranianos) de salvar a África da fome. O presidente russo fez promessas, incluindo o fornecimento gratuito de grãos para Burkina Faso, Mali, Zimbábue, Somália e República Centro-Africana. A estratégia de sedução dos aliados africanos inclui projetos de desenvolvimento de energia e exploração de hidrocarbonetos por grandes empresas russas. Também o desenvolvimento e expansão do ensino de russo e cooperação tecnológica e militar. Resta saber como os projetos da Rússia na África competem com os da China e do Ocidente.

Wagner não vai abandonar a África

O fórum de São Petersburgo também teve a presença de Prigojin, o arquiteto das unidades mercenárias do Wagner, que há anos mantêm uma intensa atividade econômica e militar na África. Prigozhin foi fotografado na companhia do representante da República Centro-Africana. O Agentstvo, um canal de redes sociais, analisou a fotografia que aparentemente foi tirada nas escadas de um hotel pertencente à família de Prigojin em São Petersburgo. O encontro com o representante centro-africano foi confirmado pelo canal GreyZone, que transmite informações do Grupo Wagner. Mais cedo, em entrevista à mídia africana, Prigozhin negou os rumores de que o Wagner está deixando a África.

A presença do homem conhecido como o “cozinheiro do Kremlin” no fórum de São Petersburgo indica que ele é um personagem necessário para a política russa na África e que sua utilidade para Moscou pesa mais do que sua responsabilidade no motim de junho passado, que Putin descreveu como "traição" em sua primeira declaração pública sobre o assunto e, aparentemente, pesa mais do que a vida de quinze pilotos russos e que os aviões abatidos quando sobrevoaram as posições dos amotinados. A influência de Prigojin também supera seus métodos para manter a disciplina de suas tropas, entre eles, marteladas na cabeça.

Após anos de obscuridade, Putin reconheceu que a Rússia financia as atividades do Grupo Wagner, embora em países africanos o chefe do grupo mercenário já fosse percebido como parte do Estado russo.

Após o motim de junho, o ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, afirmou que, para além do Wagner, os governos da República Centro-Africana e do Mali "têm contatos governamentais oficiais com nossos dirigentes". O chefe da diplomacia russa lembrou que "centenas de militares trabalham como instrutores na República Centro-Africana". Vários meios de comunicação ocidentais alertaram sobre viagens de autoridades russas ao Mali, o que foi interpretado como uma tentativa de acalmar as autoridades do país africano. A Rússia planeja construir uma base de assistência técnica para seus navios na costa do Sudão. Além de oferecer grãos de graça para a Somália, também tem uma intensa cooperação militar e técnica om a Eritreia.

Entre os projetos de aproximação com a África também está o investimento no hóquei, proposta que foi feita pelo vice-chefe da federação de hóquei de Moscou, Boris Rotenberg, da família de amigos de juventude de Putin, que construiu a ponte sobre o estreito de Kerch ligando a península da Criméia, ocupada pelos russos desde 2014, com a Rússia.

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