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Por Elisa Martins — São Paulo

Entre a chegada ao consulado americano, na Zona Sul de São Paulo, e o atendimento para solicitar o visto de turismo, passaram-se duas horas. Foi o tempo de o comerciante Rafael Fiuka, de 35 anos, deixar os pertences em um guarda-volumes do outro lado da rua e, de pastinha na mão, entrar com os documentos no horário agendado. Mas o processo começou bem antes. Foram 11 meses de espera, da marcação on-line até ser recebido presencialmente.

— Marquei em setembro do ano passado, procurando em diferentes horários no site, na raça, mas consegui só para junho agora. Já sabia que estava concorrido, mas não tinha ideia do quanto — conta ele, que planeja viajar em agosto.

A queda do dólar atiçou o ânimo turista dos brasileiros e uma demanda reprimida ainda da pandemia apertou o gargalo nos serviços dos consulados americanos no Brasil. Na sexta-feira, a espera para agendar entrevista para retirada de visto de negócios ou turismo (B1/B2) marcava 414 dias em São Paulo, 351 dias em Porto Alegre, 301 dias no Recife e 115 dias no Rio de Janeiro. A fila vem caindo, mas em meados de junho chegou a ultrapassar 600 dias na capital paulista.

O consulado de São Paulo é o que mais emite vistos no Brasil, e um dos que mais emitem vistos no mundo. E a busca tem sido proporcional às dimensões da maior metrópole da América Latina. Para driblar a espera, muita gente passou a fazer “rondas” na madrugada ou de manhã bem cedo na página de agendamento, na expectativa de conseguir antecipar a data.

— Minha namorada marcou há duas semanas e conseguiu horário só para 2025. Como tenho jornadas flexíveis de trabalho, passei a tentar agendar em horários alternativos, antes das 6h da manhã. Fiz várias tentativas, consegui adiantar para setembro do ano que vem, depois agosto, em seguida julho, e, finalmente, junho deste ano — disse, sob anonimato, um rapaz que aguardava na calçada em frente ao consulado paulista.

Ele, o filho e a namorada planejam viajar de férias para os EUA em setembro.

— O dólar mais barato facilita — reconhece.

A “caça” por datas na madrugada nem sempre é garantida. Algumas pessoas contam com a sorte, como uma moça que, ao sair com a mãe do consulado em São Paulo, disse ter conseguido o horário ao entrar no site despretensiosamente uma tarde.

— Deve ter sido alguma desistência — arrisca. — Quando fui entrar depois para procurar um horário para mim, não achei mais para tão perto.

Segundo a assessoria de imprensa da embaixada e dos consulados dos EUA no Brasil, mais de 300 funcionários trabalham para oferecer novas datas para o agendamento de vistos por aqui. É um esforço acelerado para dar vazão aos pedidos acumulados com a emergência sanitária que parou o mundo em 2020.

“Estamos lidando com um problema global que foi majoritariamente causado pela Covid-19”, diz em nota.

Recentemente, um casal concluiu em São Paulo o pedido de visto de turismo que havia sido feito há dois anos.

— Marcamos em agosto de 2021, e conseguimos data só para 2023. Ficamos tentando entrar de madrugada para adiantar, mas não teve jeito — conta a mulher, servidora pública, que preferiu não se identificar.

De acordo com a assessoria da embaixada e dos consulados dos EUA no Brasil, o serviço já conseguiu reduzir o tempo de espera para quase todas as categorias de vistos para 15 dias ou menos. O gargalo maior está no tempo de espera da primeira concessão de visto de turismo/negócios — os mais requisitados — (B1/B2), que, como no caso de São Paulo, pode superar os 400 dias.

“Contratamos novos funcionários, estamos fazendo horas extras e ampliamos o período para renovações de vistos, com isenção de uma entrevista, de 12 para 48 meses”, enumera a assessoria, em nota.

Sobrando trabalho

Enquanto isso, as manhãs são movimentadas em frente ao consulado americano na capital paulista. Por volta de 7h, a fila sobe a rua. Com a abertura do consulado, quem tem horário agendado se organiza em filas internas, enquanto os seguranças agilizam o fluxo para o atendimento.

A entrada no consulado com mochilas ou celulares é proibida, e toda uma economia gira em torno das restrições, de locais com guarda-volumes a R$ 5 a serviços de papelaria, foto, estacionamento a R$ 30, além da cafeteria.

Mas um dos serviços mais disputados tem sido o de despachantes e agências, que prometem eficiência na marcação de uma data próxima por cerca de R$ 500. Em frente ao consulado, com um celular em cada mão, um despachante contava estar até recusando trabalho:

— A procura aumentou demais, e as vagas acabam rápido. Não marcou na hora, perdeu — contou ele, enquanto mostrava o site com algumas vagas abertas para setembro que, segundo ele, se esgotariam logo, logo.

É fácil deduzir o resultado da entrevista no consulado pelo semblante de quem sai dos portões: sorridente em ligação para contar a notícia à família ou cabisbaixo e de olhos marejados.

O médico Thiago Ravanelli, de 29 anos, recorreu a uma agência para marcar seu agendamento no fim de junho. Quando tentou por conta própria, diz, o site indicava data para novembro de 2024 para solicitar o visto de turismo.

— Consegui para o mesmo mês. Eu e minha mulher queremos viajar de férias e para fazer enxoval para a nossa filha — conta.

Encarando a Dutra

Ficar de olho na disponibilidade do consulado em mais de uma cidade é outra alternativa. A empresária carioca Vanessa Oliveira, de 40 anos, era só alegria com o comprovante do agendamento em mãos em frente ao consulado na capital paulista. No dia em que seria atendida, ela saiu com o marido de carro do Rio de Janeiro, à 1h da manhã, para chegar no agendamento marcado para horas depois em São Paulo.

— Estava esperando há um ano. Agendei em junho do ano passado para tirar o visto de turismo. Na época, no Rio, a fila estava maior ainda — conta ela. — Agora, o atendimento foi bem rápido.

De acordo com a assessoria da embaixada e dos consulados dos EUA no Brasil, no ano passado foram processados 15% mais vistos do que nos períodos de pico antes da pandemia. E foram entrevistados, em média, mais de 6 mil pedidos de visto por dia. A previsão é que, em 2023, ultrapassem a marca de um milhão de vistos processados por aqui.

“Embora não consigamos prever com precisão a diminuição do tempo de espera para o visto de turismo/negócios (B1/B2), esperamos resultados positivos até as férias de julho”, completa o texto.

Por enquanto, a orientação é que os solicitantes verifiquem frequentemente a página de agendamentos (ais.usvisa-info.com). “Novas vagas podem abrir sem aviso prévio”, afirma em nota. A busca pelo cobiçado agendamento continua.

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