O presidente colombiano, Gustavo Petro, não sabia que o dinheiro de um ex-traficante entrou como verba de financiamento de sua campanha à Presidência em 2022, disse seu filho Nicolás Petro em entrevista publicada ontem pela revista colombiana Semana. A informação foi divulgada após Nicolás ter recebido liberdade condicional de sua prisão, há uma semana, por lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito. Na entrevista, ele admitiu estar afastado do pai desde que o caso veio à tona.
— Nem meu pai nem o chefe de campanha, Ricardo Roa, sabiam do dinheiro que eu e Daysuris [Vásquez, sua ex-mulher] recebemos de Santander Lopesierra e Gabriel Hilsaca — disse o político de 37 anos à revista. — Eu nunca disse a ele. Ele não tinha como descobrir essas contribuições.
Petro, por sua vez, negou neste sábado que sua campanha eleitoral tenha sido financiada pelo narcotráfico. "A campanha não recebeu nenhum dinheiro de natureza ilegal e fiquei sabendo do ocorrido em uma reunião que tive com a ex-mulher de Nicolás em meu escritório há poucos meses, quando pedi que meu filho fosse investigado", disse o governante no Twitter.
O presidente também disse que o que aconteceu com o filho "é terrível e muito lamentável" para ele, e afirmou que, "como presidente, não pressionarei a Justiça no seu caso, os funcionários judiciais que intervierem no seu processo serão respeitados por mim".
Em meio a um processo judicial, Nicolás, preso há uma semana, recebeu liberdade condicional nesta sexta-feira, por colaborar com a Justiça no caso. A medida foi adotada sob a condição de que ele não saia de Barranquilla, cidade onde mora, não participe de eventos políticos e não tenha contato com nenhuma das pessoas investigadas no processo que tramita na Justiça.
O filho mais velho do presidente colombiano foi detido no sábado da semana passada. Na quinta-feira, como parte de um processo de colaboração com a Justiça, ele confessou o suposto financiamento ilegal da campanha que levou Gustavo Petro à Presidência em 2022, incluindo fundos repassados por Samuel Santander Lopesierra, extraditado por narcotráfico para os Estados Unidos, onde ficou preso entre 2003 e 2021.
Também afirmou ter recebido dinheiro de um filho de Alfonso "El Turco" Hilsaca, negociante acusado no passado de financiar grupos paramilitares e planejar homicídios, e de outros empresários.
Vítima de assédio e intimidações
A Promotoria havia solicitado a prisão domiciliar para o político de 37 anos. Por sua vez, o advogado David Teleki expressou preocupação com a segurança de Nicolás Petro, que seria vítima de "assédio" e "intimidações".
— Se ele for para uma prisão, meritíssimo, não dura nem 24 horas — disse Teleki. — É uma testemunha-chave para desbaratar por completo uma estrutura corrupta que deve ser investigada e que deve levar os responsáveis aos tribunais. Para isto é indispensável que Nicolás Petro, sua voz, suas palavras não possam ser caladas (...) por pressões de nenhum tipo.
O juiz tomou conhecimento nos últimos dois dias de mais evidências apresentadas pela Promotoria, segundo as quais Nicolás Petro e sua ex-mulher, Daysuris Vásquez, movimentaram grandes quantias em dinheiro.
Relacionamento rompido
O depoimento de Nicolás à Justiça abalou o primeiro governo de esquerda Colômbia. O presidente estabeleceu distância do filho e afirmou que nunca seria cúmplice de crimes, mas ainda não está claro ele rompeu em definitivo o relacionamento. Em uma lista dos envolvidos elaborada pelos investigadores, o nome de Gustavo Petro não aparece, mas sim o nome de sua esposa e madrasta de Nicolás, Verónica Alcocer.
Em um comunicado anterior, o presidente afirmou que recebia "com dor as informações sobre supostas irregularidades no desenvolvimento da campanha campanha presidencial" e nomeou um representante da Suprema Corte de Justiça para representá-lo.
O Parlamento, onde Petro perdeu a maioria há alguns meses, iniciou uma "etapa de investigação prévia", segundo o presidente da Comissão de Investigações e Acusações, o deputado Wadith Manzur. (Com AFP e El País.)
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