O jornalista e candidato presidencial equatoriano Fernando Villavicencio, de 59 anos, foi assassinado na noite desta quarta-feira durante um comício eleitoral na capital Quito. Villavicencio, que aparecia em quinto lugar nas pesquisas entre os candidatos à sucessão de Guillermo Lasso, apresentava-se aos eleitores como um combatente à corrupção sob o slogan "É hora dos corajosos".
Quem matou Fernando Villavicencio?
Um suspeito do crime foi morto em uma troca de tiros com a polícia. Outras seis pessoas já foram detidas, em ações supervisionadas pelo Ministério Público. A facção criminosa Los Lobos reivindicou a autoria do atentado, em áudio divulgado nas redes sociais (leia as informações completas). Vídeo, abaixo, mostra o momento do atentado.
Qual era a proposta de governo de Fernando Villavicencio?
Ele foi o primeiro a anunciar este ano sua intenção de participar como candidato presidencial nas eleições do próximo dia 20 de agosto. Em maio, sua chapa com a ambientalista Andrea González foi anunciada pelo partido Movimento Construye.
Uma de suas principais propostas de governo foi a aplicação do Plano Nacional Antiterrorista, que começou identificando as estruturas mais perigosas que operam no Equador: narcotráfico, mineração ilegal, corrupção e propina, ligadas entre si e à política de combate a elas.
Por que Fernando Villavicencio foi atacado em setembro de 2022?
Esta, contudo, não foi a primeira vez que o candidato foi atacado. Na madrugada do dia 3 de setembro de 2022, Villavicencio foi vítima de um atentado, quando balas atingiram sua casa. Sua esposa foi quem ouviu os disparos e pediu ajuda à polícia de Quito.
FOTOS: candidato à presidência é morto no Equador
— Villavicencio era um jornalista e político muito polêmico, conhecido pelos seus trabalhos de jornalismo de investigação. Denunciou diversos casos de corrupção durante o governo de Rafael Correa e, nos últimos tempos, realizou diversas denúncias contra políticos e grupos do crime organizado que atuam no país — explica Maria Villarreal, professora do Programa de Pós-graduação em Ciência Política na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Qual era a posição de Fernando Villavicencio nas pesquisas?
Para Villarreal, o candidato tinha muitos inimigos. Embora tenha aparecido em 5º lugar em uma pesquisa feita pelo jornal El Universo na semana passada, já havia aparecido em segundo e em quarto lugar "e tinha chances de ganhar as eleições em um possível segundo turno, mesmo não sendo o favorito", segundo a professora.
Villavicencio já vinha sendo ameaçado por diversos membros do crime organizado, em especial o grupo "Los Choneros". A professora de Ciência Política alerta, porém, para a instrumentalização da tragédia na política equatoriana. De acordo com Villarreal, a suspensão das eleições, marcadas para daqui 20 dias, e a implementação de um estado de exceção seriam do interesse de atores antidemocráticos do país.
— Trata-se a todas luzes de uma morte com intencionalidade política, que beneficia aqueles candidatos que pregam o modelo Bukele [presidente de El Salvador] — afirma.
Quem era Fernando Villavicencio?
Natural de Sevilha, no cantão (estado) de Alausí, Villavicencio viveu uma vida pobre em Quito, para onde foi com a família aos 13 anos. Mais velho de seis irmãos, ele disse em entrevista ao El Universo que trabalhava durante o dia como garçom e estudava à noite.
Villavivencio se definia como um apaixonado por literatura, chegando a ler 17 livros sobre a história de Simón Bolívar para participar de um concurso de oratória interescolar.
Deputado na Assembleia Nacional, presidiu a Comissão de Supervisão da Assembleia entre 2021 e 2023. Na legislatura, ele teve vários confrontos com grupos de oposição e com o governo. Denunciou o caso chamado León de Troya, investigação que ligava a máfia albanesa ao cunhado do presidente Guillermo Lasso, Danilo Carrera.
Apesar disso, durante seu período como presidente da Comissão de Auditoria da Assembleia ele foi questionado por vários partidos políticos, que o acusaram de ser um "defensor" do atual governo.
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