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Por Peter Baker, The New York Times — Camp David, Estados Unidos

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e os líderes do Japão e da Coreia do Sul concordaram em expandir a segurança e a cooperação econômica entre seus países nesta sexta-feira, após uma cúpula em Camp David que buscou superar gerações de atrito entre as duas potências asiáticas e forjar um acordo trilateral contra a Coreia do Norte e a crescente influência da China.

Biden disse que os três líderes concordaram em realizar exercícios militares anuais e reuniões trilaterais todos os anos para aprofundar sua aliança, “não apenas este ano, não apenas no ano que vem, para sempre”, em um arranjo institucional semelhante às sessões regulares que os presidentes dos EUA têm com seus homólogos mexicanos e canadenses.

Também elogiou a “coragem política” do primeiro-ministro Fumio Kishida do Japão e do presidente Yoon Suk Yeol da Coreia do Sul por superar ressentimentos de longa data decorrentes da ocupação japonesa da Península Coreana antes da Segunda Guerra Mundial para criar uma nova aliança.

— Criamos uma estrutura de longo prazo para um relacionamento que durará e terá um impacto fenomenal não apenas na Ásia, mas em todo o mundo — declarou em entrevista coletiva durante a tarde. — É algo muito importante.

Foi a primeira vez que Biden convidou líderes estrangeiros para o retiro presidencial em Maryland e a primeira vez que os líderes dos três países se reuniram em uma sessão independente, e não à margem de reuniões internacionais maiores.

— Fortalecer os laços entre nossas democracias tem sido uma prioridade para mim há muito tempo, desde quando eu era vice-presidente dos Estados Unidos — disse Biden aos outros líderes na abertura da reunião, de manhã. — Isso porque nossos países e o mundo estariam mais seguros [se estivéssemos juntos]. Quero agradecer aos dois pela coragem política que os trouxe aqui.

Kishida e Yoon ecoaram os sentimentos de Biden, com Yoon dizendo que "hoje será lembrado como um dia histórico", e Kishida afirmando que o fato de os três estarem juntos “significa que estamos realmente fazendo uma nova História a partir de hoje”.

Apesar de ter transformado a China em um ponto central de sua política externa, trabalhando para costurar várias parcerias, Biden rejeitou que a cúpula tivesse como principal motivação a ascensão chinesa, afirmando que não era um evento "anti-China". Os três países, que se sentem pressionados por Pequim, concentrarem-se em afirmar, em vez disso, que a cúpula tinha o objetivo de fortalecer seus laços econômicos, tecnológicos, educacionais e estratégicos.

"Nos opomos fortemente a qualquer tentativa unilateral de mudar o status quo nas águas do Indo-Pacífico", disseram Biden, Yoon e Kishida em um comunicado conjunto. "Reiteramos a importância da paz e estabilidade no Estreito de Taiwan como um elemento indispensável de segurança e prosperidade na comunidade internacional. Não há mudanças em nossas posições básicas sobre Taiwan, e pedimos uma solução pacífica dos problemas através do estreito."

Hostilidades históricas

Embora os Estados Unidos sejam aliados individuais do Japão e da Coreia do Sul há muito tempo, as animosidades históricas entre Tóquio e Seul, decorrentes da ocupação brutal de 35 anos do Japão na Península Coreana, frustraram os esforços americanos para unir os três em uma parceria coesa. Mas os movimentos recentes de Yoon em direção à reaproximação com o Japão mudaram drasticamente a dinâmica no nordeste da Ásia, e Biden espera estabelecer um alinhamento mais próximo e duradouro.

Os líderes assinaram um “compromisso de consulta” formal, um entendimento de que as três nações tratariam qualquer ameaça à segurança de uma delas como uma ameaça a todas, exigindo discussão mútua sobre como responder. A promessa não vai tão longe quanto o Artigo 5 do tratado da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que obriga os aliados a “agir” no caso de um ataque a qualquer membro, mas reforça a expectativa de que os três atuariam em conjunto.

Os três também fortaleceram a cooperação na defesa contra mísseis balísticos, expandiram os exercícios militares trilaterais anuais e desenvolveram uma estrutura para assistência de segurança no Sudeste Asiático e nas ilhas do Pacífico. Inauguraram ainda a primeira linha direta trilateral para que possam se comunicar com segurança em caso de crise.

— Estamos abrindo uma nova era e garantindo que ela tenha poder de permanência — disse Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional do presidente Biden, a repórteres em Camp David nesta sexta pela manhã. — É um evento histórico e estabelece as condições para um Indo-Pacífico mais pacífico e próspero e para um Estados Unidos mais forte e seguro. Portanto, este é um legado digno para o presidente [Biden], para o presidente Yoon, para o primeiro-ministro Kishida.

'Mini-Otan'

Mas a aliança emergente tem seus limites. Tóquio não esteve disposto em aderir a um pacto que os Estados Unidos e a Coreia do Sul decidiram formar em abril com o objetivo de coordenar as respostas militares à Coreia do Norte. A recusa do Japão, único país que já teve armas nucleares usadas contra si, foi atribuída por autoridades americanas à sensibilidade do tema junto ao público interno.

— Não acho que o governo japonês sinta que isso seja necessário ou desejável — disse Sheila Smith, especialista em Japão do Council on Foreign Relations, um centro de pesquisa sediado em Nova York.

A China deixou claro seu descontentamento com a convergência entre os três países, vendo-a como mais uma prova de que os Estados Unidos estão conspirando para conter sua ascensão.

"A próxima cúpula entre os líderes dos três países em Camp David, em Maryland, no final desta semana, tem como objetivo formar uma estrutura de 'mini-Otan' que será destrutiva para a segurança regional, tornando a situação mais complexa com mais conflitos", escreveu esta semana o popular tabloide chinês The Global Times, controlado pelo Partido Comunista, citando especialistas regionais.

O domínio econômico da China na região torna as parcerias mutáveis complicadas para o Japão e a Coreia do Sul. A China é o maior parceiro comercial de cada um deles. Pequim já reagiu duramente aos crescentes laços da Coreia do Sul com os Estados Unidos: em junho, o embaixador da China em Seul advertiu que "aqueles que apostarem na derrota da China certamente se arrependerão mais tarde".

Como os Estados Unidos e seus aliados isolaram Moscou, a Rússia e a China se aproximaram e muitos na região temem que Pequim esteja aprendendo lições da guerra na Ucrânia para aplicar em em seu conflito de longa data com Taiwan. Nesta semana, o ministro da Defesa da China, Li Shangfu, visitou Moscou e alertou contra "brincar com fogo" quando se tratava de Taiwan, dizendo que qualquer esforço para "usar Taiwan para conter a China (...) certamente terminaria em fracasso".

Ninguém perdeu a mensagem enviada no mês passado quando a China e a Rússia realizaram exercícios militares conjuntos no Mar do Japão logo após os Estados Unidos, o Japão e a Coreia do Sul conduzirem exercícios trilaterais com mísseis. Também não passou despercebido por ninguém quando a Coreia do Norte recebeu delegações russas e chinesas de alto nível para um desfile militar em Pyongyang uma semana depois.

Sullivan insistiu que a diplomacia nesta sexta-feira não era sobre a China.

— Gostaria apenas de enfatizar que esta cúpula de hoje, esta parceria não é contra ninguém, é a favor de algo — afirmou. — É por uma visão do Indo-Pacífico que seja livre, aberta, segura e próspera. Essa é uma agenda afirmativa. Não se trata explicitamente de uma Otan para o Pacífico.

Equação regional mudou

Ainda assim, especialistas da região disseram que o acordo tripartite não teria sido possível há apenas um ou dois anos, um sinal de quanto a ascensão da China embaralhou a equação na região e de como a invasão da Ucrânia pela Rússia firmou o pensamento sobre a necessidade de segurança.

Victor Cha, vice-presidente para a Ásia do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais e ex-conselheiro para a Ásia do presidente americano George W. Bush, disse que a reunião em Camp David é "muito importante" e tem suas origens na mudança das percepções de ameaça na região.

— Essa consolidação das relações de aliança acontece agora porque o ambiente externo é muito incerto e instável — comentou. — Não há nada como uma guerra real e verdadeira, mesmo que seja em outra parte do mundo, para afetar ou mudar completamente a maneira como os líderes pensam sobre sua própria segurança.

Como parte de sua política externa centrada na China, Biden assinou, desde que assumiu o cargo, um acordo de segurança tríplice com Austrália e Reino Unido; reforçou o chamado grupo Quad formado por Estados Unidos, Índia, Austrália e Japão; aumentou a presença militar americana nas Filipinas; e estabeleceu o Quadro Econômico do Indo-Pacífico com 14 nações. (Com AFP)

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