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Por , Em The New York Times — Pequim

Há dois anos, enquanto caminhava pelo corredor de um hospital algemada para fazer o teste de Covid-19, Sun Junli se sentiu envergonhada e derrotada. Aos 45 anos, ela percorreu um longo caminho. A pobre menina de um vilarejo no Noroeste da China se tornou uma empresária de sucesso. Então ela foi "esmagada". Em 2018, os bancos estatais pararam abruptamente de financiar seu negócio, uma cadeia de cafés e restaurantes, e a pandemia destruiu o seu fluxo de caixa. Em maio de 2021, Sun havia perdido seus restaurantes e estava cumprindo 16 dias de detenção por dever a seus funcionários cerca de US$ 28 mil (R$ 135 mil) em salários.

Semanas após a sua libertação, um tribunal confiscou o seu apartamento de dois quartos em Xianyang, na província de Shaanxi, e o seu Toyota Camry porque ela estava inadimplente, e a pôs numa lista negra nacional. Agora, ela não pode mais reservar um quarto de hotel ou uma passagem de avião, nem fazer um empréstimo.

— Estou cercada por pessoas como eu — disse ela, contando com dezenas de amigos em apuros, empreendedores em áreas como moda, energia e fabricação de móveis. — Todos viemos do nada e trabalhamos duro para criar riqueza. Todos nós perdemos tudo e estamos profundamente endividados. Somos todos ruins no que fazemos? Estamos todos errados?

Há alguns anos, Sun era a epítome de como os proprietários de pequenas empresas, através do trabalho árduo, do "instinto assassino" e da sorte, tornaram-se a espinha dorsal da economia.

Agora, ela ilustra algo muito diferente: como a China, sob a liderança de Xi Jinping, sufocou o espírito empreendedor ao promover um maior controle estatal sobre a economia. O governo de Xi retirou ajuda quando os donos de negócios mais precisavam, puniu-os por seus riscos e falhas e tornou praticamente impossível para eles recomeçarem.

Em 2021, quando a China anunciava o seu sucesso no combate à pandemia, o número de pequenas empresas que fecharam as portas superou o número das que abriram, disse Zeng Xiangquan, professor da Universidade Renmin, em Pequim, a um jornal oficial.

A confiança empresarial ainda está abalada, sendo uma das razões pelas quais a China está enfrentando uma situação econômica complicada. Pequenas empresas representam cerca de 95% do setor privado chinês, o qual contribui com cerca de 50% da receita tributária nacional, 60%da produção econômica e 80% dos novos empregos.

A carreira de Sun começou na década de 1990. Depois de abandonar o ensino médio aos 17 anos para sustentar a família, ela trabalhou como agricultora, trabalhadora têxtil, vendedora de comida ambulante e motorista de táxi. Depois, em Hancheng, uma cidade com cerca de 400 mil habitantes perto da sua aldeia, abriu três lojas de roupa esportivas que vendiam Nike, Adidas e a marca chinesa Anta. Era 2008, o ano em que a China sediou seus primeiros Jogos Olímpicos, uma festa de apresentação para uma potência emergente. Foi quando ela conseguiu ganhar o que chamou de seu "primeiro balde de ouro".

Em 2013, quando o comércio eletrônico começou a afetar os negócios de varejo, Sun abriu o Manny Coffee, um café em Hancheng. Vendia café, filé, pizza e outras comidas e bebidas de estilo ocidental, uma novidade na cidade. Em 2018, ela expandiu para 20 filiais em seis cidades menores na província de Shaanxi.

Os bancos perseguiram Sun, que pegou emprestado US$ 1,3 milhões para expandir e construir uma cozinha central de produção para os seus restaurantes. Mas o crédito secou repentinamente em 2018. Os reguladores, preocupados com a dívida, emitiram novas orientações dizendo aos bancos para "prestarem atenção à qualidade dos empréstimos às pequenas empresas".

A mudança abrupta prejudicou muitas empresas. As consequências foram tão graves que os reguladores começaram a investigar as "práticas irracionais" dos bancos.

Mas era tarde demais para Sun. Em outubro de 2019, ela pediu dinheiro emprestado a familiares e amigos para pagar seu último empréstimo bancário, cerca de US$ 300 mil. Seus restaurantes estavam indo bem: a receita atingiu US$ 8 milhões em 2018. Ela estava confiante de que o Ano Novo Chinês em janeiro de 2020 traria fluxos de caixa saudáveis.

Na véspera do feriado, todas as suas filiais foram fechadas porque o coronavírus começou a se espalhar rapidamente. A paralisação foi suspensa após três meses, mas seu negócio nunca se recuperou. Para pagar aluguel e salários, Sun pediu mais empréstimos de pessoas próximas a ela e estourou o limite de seus cartões de crédito. Todo mês ela acreditava que o mês seguinte seria melhor. O governo não ofereceu ajuda.

Em novembro de 2020, ela tinha uma dívida de US$ 1,5 milhão e não conseguia continuar. Ela fechou completamente os seis restaurantes e abriu mão de uma participação de 70% que tinha nos outros 14, e em troca seus acionistas minoritários concordaram em pagar aluguel e salários.

A China não permite realmente a falência, o que em outros países pode permitir que os donos de empresas resolvam as dívidas que têm.

Sun devia seis semanas de salário aos seus 31 funcionários. Os funcionários a denunciaram à fiscalização do trabalho local, que a entregou à polícia.

Durante os 16 dias no centro de detenção, seus cabelos ficaram grisalhos. Ela passou a maior parte do tempo meditando. A polícia não a libertou até que a investigação confirmasse que ela não havia escondido nenhum bem. Um ano depois, o tribunal não encontraria "nenhum fato criminal" contra ela, de acordo com um documento judicial. Mas ela havia perdido seu negócio e sua reputação.

Sun tentou ganhar a vida ajudando a administrar as 12 filiais da Manny Coffee que ainda estavam em operação. Mas ela tinha pouco trabalho e rendimento em 2022 devido às medidas draconianas de "Covid zero" da China. O complexo de apartamentos onde ela aluga foi fechado oito vezes. O irmão dela, que entregava refeições, às vezes lhe dava dinheiro e trazia comida.

Como muitos chineses, Sun pensava que os negócios iriam se recuperar em 2023, depois de as restrições da Covid serem retiradas. Mas isso não aconteceu.

Para ganhar a vida, ela está tentando abrir um novo negócio de alimentos. Na crise econômica, ela calcula, os seus antigos clientes podem não querer pagar US$ 15 por um bife, mas podem comprar uma tigela de vegetais picantes por US$ 4.

Ela disse que não espera receber qualquer apoio financeiro do governo. No entanto, gostaria de ser removida da lista negra à qual foi adicionada em 2021.

A chamada lista de pessoas desonestas foi iniciada em julho de 2013, poucos meses depois de Xi assumir o poder. Em março, ela continha 8 milhões de pessoas. Muitos proprietários de empresas foram incluídos nessa lista, incluindo os fundadores de pelo menos 22 das 500 maiores empresas privadas na China, de acordo com relatos da mídia chinesa.

— Não estou pedindo que me deem dinheiro — disse Sun. — Mas eu realmente gostaria que eles tirassem meu nome da lista negra para que eu pudesse me tornar uma pessoa normal e começar um negócio novamente.

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