Mais de 11 mil agentes das forças de segurança da Venezuela foram destacados nesta quarta-feira numa operação para “desmantelar” a gangue Trem de Aragua, que opera a partir de uma das prisões mais violentas do país, o Centro Penitenciário de Aragua, conhecido como Tocorón. A penitenciária, onde foram construídos um campo de beisebol, um zoológico, uma piscina e até uma discoteca de luxo, além de uma espécie de cidadela, era controlada com total impunidade pela organização criminosa.
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Vídeos que circularam nas redes sociais mostram a presença de mulheres e crianças no interior da prisão. Durante a ação, as autoridades informaram que um centro de "conspiração e crime" foi desmantelado.
“O governo da Venezuela informa que desde a madrugada está em andamento a operação Libertação Cacique Guaicaipuro, para desmantelar e acabar com as quadrilhas do crime organizado e outras redes criminosas que operam a partir do Centro Penitenciário Aragua", indicou uma nota do Ministério da Informação.
Forças de segurança da Venezuela fazem operação na prisão de Tocoron em Maracay
Com a operação, o centro "passará por um processo de reestruturação e será desocupado por completo", continua o comunicado.
— A penitenciária está totalmente tomada e a infraestrutura foi totalmente liberada — disse o general Remigio Ceballos, ministro de Interior e Justiça à TV estatal VTV.
A gangue Trem de Aragua recebe ordens de líderes detidos em Tocorón, conhecidos no jargão prisional como “pranes” — a prisão é conhecida por ser a “sede” da gangue. Estima-se que hoje cerca de 5 mil criminosos façam parte da Trem de Aragua, segundo uma investigação conduzida pela jornalista venezuelana Ronna Rísquez.
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— Tocorón não é uma prisão, é um refúgio — afirmou sob anonimato um funcionário da Polícia Estadual de Aragua ao site venezuelano Tal Cual.
Em entrevista à AFP, a jornalista Ronna Rísquez destacou que a operação foi realizada por pressão de países como Colômbia, Chile e Peru, "que denunciaram a presença de membros do Trem de Aragua operando em seus territórios de maneira impune".
— Foi a partir desses países que se identificou que a quadrilha comandava suas operações de dentro da prisão de Tocorón, por isso esses governos pressionaram a Venezuela para que tomasse medidas — disse Rísquez.
A Trem Aragua surgiu em 2014, primeiro atuando em atividades como sequestros, roubos, drogas, prostituição e extorsão. Depois, expandiu os negócios para a exploração ilegal, em um país que possui ricas jazidas de ouro. Seus tentáculos se expandiram para vários países da região.
Festas e prostituição infantil
Marcadas por denúncias de condições precárias, as prisões da Venezuela estão superlotadas em mais de 50%, segundo o Observatório Privado Venezuelano de Prisões (OVP). Em Tocorón, centro penitenciário construído em 1982 com capacidade para 750 reclusos, estão hoje cerca de 8 mil detentos, embora não existam números oficiais a esse respeito. É considerado um dos presídios com maior superlotação no país.
Em 2021, uma investigação da Aliança Rebelde Investiga (ARI) revelou que havia um estádio de beisebol dentro da prisão, segundo agentes de segurança e familiares de alguns presos. Tocorón também se tornou um destino atrativo para a prostituição: no local acontecem festas com menores de idade. Moradores dos bairros que trabalham para a gangue se encarregam de recrutar adolescentes.
— Também foram estabelecidos pontos em algumas praças de Maracay onde chegam veículos para buscá-las e levá-las a Tocorón — explicou um funcionário, em outra investigação realizada pela ARI.
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