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Por O Globo e agências internacionais — Washington

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, recebeu nesta quinta-feira um pacote de defesa aérea no valor de US$ 325 milhões dos EUA, onde se reuniu com o chefe de Estado americano, Joe Biden, na Casa Branca pela segunda vez desde o início da invasão russa em seu país, em fevereiro de 2022. Mas o anúncio pareceu pouco após Zelensky defender durante todo o dia a causa ucraniana no Congresso e na Casa Branca, com aparente pouco progresso imediato em persuadir a Câmara, liderada pela oposição republicana, a alocar outro montante de US$ 24 bilhões em ajuda militar e humanitária.

Apesar de ter anunciado o pacote, que inclui US$ 128 milhões (R$ 631 milhões) em assistência militar e US$ 197 milhões (R$ 972 milhões) em arsenal, o governo americano negou-se a fornecer os mísseis de longo alcance ATACMS (sigla para Sistema de Mísseis Táticos do Exército) solicitados por Kiev em um momento em que os ataques aéreos se tornaram a principal ferramenta para atingir posições além das linhas inimigas.

Com capacidade de atingir alvos a 300 km de distância com uma ogiva com cerca de 375 quilos de explosivos, o ATACMS poderia ajudar Kiev a recuperar a Crimeia, anexada pela Rússia em 2014. Mas os Estados Unidos expressaram receios sobre uma escalada.

— Estamos tentando evitar a Terceira Guerra Mundial — disse Biden antes de se reunir com Zelensky nesta quinta-feira.

A reunião com Biden ocorreu enquanto Zelensky tenta reforçar os laços com a aliança ocidental, principal base de apoio de Kiev, em um momento em que divergências internas começam a se tornar públicas — na quarta, a Polônia anunciou que não vai enviar mais armas para a Ucrânia para além do já acordado, após protestos de Kiev à decisão de Varsóvia de proibir a venda de grãos ucranianos.

Diferentemente de sua primeira aparição em Washington em dezembro, quando os legisladores o receberam de forma calorosa após uma onda de sucessos no campo de batalha, a visita de Zelensky nesta semana foi mais discreta enquanto alguns legisladores republicanos expõem um ceticismo cada vez maior com a contraofensiva ucraniana, iniciada em junho.

Cansaço crescente

Pesquisas também indicam um cansaço crescente do público americano com o conflito de 18 meses, que mostra avanços inexpressivos no campo de batalha em meio a recentes denúncias de corrupção envolvendo recursos doados pelo Ocidente. Durante a visita do ucraniano, porém, as declarações dos líderes se esquivaram do contexto difícil:

Na Casa Branca, o presidente ucraniano classificou o encontro com Biden como "muito importante", agradecendo o governo americano por ajudar o país a combater o "terrorismo russo".

— Hoje estou em Washington para fortalecer nossa coalizão em defesa das crianças ucranianas, das famílias, de nossos lares, da liberdade e da democracia no mundo. E comecei meu dia no Congresso dos EUA para agradecer a seus membros e ao povo americano por seu enorme apoio — disse Zelensky.

Durante a coletiva conjunta entre os líderes, Biden disse que se certificaria de que o mundo continuaria ao lado da Ucrânia na guerra. O presidente americano ainda garantiu que tanques Abrams, solicitados por Kiev há meses, chegariam na próxima semana ao país.

— No início desta semana, na Assembleia Geral da ONU, deixei claro que nenhuma nação pode estar realmente segura no mundo se, de fato, não nos levantarmos e defendermos a liberdade da Ucrânia diante da brutalidade e agressão russas — disse Biden no Salão Oval. — Juntamente com nossos parceiros e aliados, o povo americano está determinado a fazer todo o possível para garantir que o mundo esteja ao seu lado.

Antes de se reunir com Biden, Zelensky foi ao Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, onde conversou com o secretário de Defesa, Lloyd J. Austin III, e visitou o memorial dedicado às vítimas do 11 de Setembro.

Em seguida, Zelensky se encontrou com parlamentares no Capitólio, incluindo o presidente da Câmara, o republicano Kevin McCarthy — crucial para a manutenção do apoio financeiro ao país. Nesta quinta, a maioria republicana na Câmara, profundamente dividida sobre corte de gastos, fracassou mais uma vez em alcançar um acordo sobre o projeto de lei de gasto militar que incluirá à ajuda à Ucrânia.

Na terça, McCarthy adotou um tom duro ao questionar a prestação de contas dos recursos destinados a Kiev, em um aceno à ala mais extremista do partido, que se opõe à ajuda à Ucrânia.

— Onde está a prestação de contas pelo dinheiro que já gastamos? — disse McCarthy a repórteres na terça. — Qual é o plano para a vitória? Acho que é isso que o público americano quer saber.

Nos bastidores, porém, a postura foi mais amena nesta quinta. Segundo o deputado Michael McCaul, republicano do Texas, McCarthy perguntou a Zelensky o que ele precisava para vencer a guerra, além de pedir que considerasse as preocupações do Congresso americano sobre a prestação de contas e compartilhasse um plano para a vitória — instrumentos que usaria para convencer seus correligionários a continuar apoiando a Ucrânia.

Eleições americanas

O presidente ucraniano teme um enfraquecimento do apoio fundamental dos EUA, sobretudo, no caso da vitória de um candidato republicano na eleição presidencial ano que vem. O ex-presidente Donald Trump lidera as pesquisas para as primárias do partido e já afirmou ser contrário ao apoio irrestrito a Kiev. Na semana passada, o presidente russo, Vladimir Putin, defendeu Trump das acusações das quais é alvo da Justiça americana, afirmando ser uma "vingança" que evidencia a "podridão do sistema americano".

Em paralelo aos encontros diplomáticos nos EUA, Moscou lançou um bombardeio nesta quinta-feira com mísseis contra várias cidades, incluindo Kiev, em um dos ataques simultâneos com maior distribuição territorial, deixando dois civis mortos.

Em contrapartida, o governo ucraniano anunciou que atingiu uma base aérea russa na Crimeia. "Na noite de 21 de setembro, as Forças de Defesa da Ucrânia lançaram um ataque combinado à base aérea militar na cidade de Saky, na temporariamente ocupada Crimeia", diz o aviso publicado pelos militares nas redes sociais.

Mapa dos ataques aéreos nesta quinta-feira, 21 — Foto: Arte/O Globo
Mapa dos ataques aéreos nesta quinta-feira, 21 — Foto: Arte/O Globo

Lançada em junho, a contraofensiva ucraniana foi retardada pelas sólidas linhas de defesa russas, e um rápido avanço das tropas de Kiev parece improvável em um momento de desgaste e guerra de atrito no solo.

— A Rússia provavelmente aproveitará este tempo para cavar ainda mais [trincheiras] e construirá novas fortificações para se preparar para a primavera (no Hemisfério Norte) — disse Margo Grosberg, diretor dos Serviços Secretos da Estônia, em entrevista ao portal The Insider.

— Está claro, inclusive para aqueles que apoiam a Ucrânia com maior convicção, que essa guerra pode durar até 2024 ou mesmo 2025 — comentou à AFP Mick Ryan, um general australiano reformado.

Corrupção

Zelensky voou para Washington após uma participação da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, marcada pela condenação à guerra e uma esperada reunião bilateral com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Além das rusgas com velhos aliados e do avanço lento da contraofensiva ucraniana, uma onda de críticas sobre a corrupção de autoridades ligadas às Forças Armadas e ao governo de Kiev corroeram a confiança ocidental. Zelensky tomou ações enérgicas sobre o tema nos últimos meses, demitindo uma série de oficiais e trocando o comando da Defesa.

A corrupção foi um tabu durante o primeiro ano de guerra, à medida que os ucranianos se uniam em torno do seu governo em uma luta pela sobrevivência nacional. Mas a destituição do ministro da Defesa, Oleksii Reznikov, no início do mês elevou a questão ao mais alto nível da política ucraniana em um momento crucial da guerra, quando a Ucrânia depende fortemente dos aliados ocidentais para assistência militar.

Cerca de US$ 980 milhões (cerca de R$ 4,8 bilhões) em contratos de armas perderam as datas de entrega, de acordo com dados do governo deste ano, e alguns pré-pagamentos de armas desapareceram em contas estrangeiras de intermediários, segundo relatórios apresentados ao Parlamento.

Reportagens da mídia ucraniana também apontam para pagamentos com valor superfaturado de suprimentos básicos para o Exército. Jornalistas investigativos mostraram que o Exército pagou 17 hryvnia (ou R$ 2,29) por unidade de ovo – muito acima dos preços vigentes, de acordo com uma reportagem do Dzerkalo Tyzhnia.

A corrupção é uma ferida aberta na Ucrânia há anos. Quando virou candidata à adesão à União Europeia, em junho de 2022, a Comissão Europeia apontou que a melhoria dos níveis de corrupção, especialmente por parte de altos funcionários do governo, seria uma prioridade inevitável para a adesão.

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