O presidente chinês, Xi Jinping, anunciou nesta sexta-feira uma nova parceria "estratégica" com a Síria durante visita do ditador Bashar al-Assad à China — a primeira em quase duas décadas após anos de isolamento da comunidade internacional, acusado de atrocidades contra opositores, incluindo o uso de armas químicas. Assad busca apoio financeiro para reconstruir o país arrasado por mais de uma década de guerra e por um terremoto devastador, além da reabilitação de sua imagem no cenário político regional e global.
Depois de reaparecer em fóruns regionais no Oriente Médio, agora Assad participará da abertura dos Jogos Asiáticos na cidade chinesa de Hangzhou, no sábado. Foi nessa cidade do leste da China que Xi recebeu Assad nesta sexta, informou a imprensa estatal.
"Hoje anunciaremos conjuntamente o estabelecimento da parceria estratégica China-Síria, que será um marco importante na história das nossas relações bilaterais", disse Xi a Assad, segundo o canal estatal chinês CCTV. "Ante uma situação internacional cheia de instabilidade e incerteza, a China quer continuar trabalhando com a Síria", acrescentou Xi, que afirmou que "a amizade entre os dois países se fortaleceu com o tempo".
A China é um dos poucos países fora do Oriente Médio visitados por Assad desde o início da guerra civil síria em 2011, quando a repressão de um levante popular durante a chamada Primavera Árabe se transformou em uma longa e sangrenta guerra, com cerca de meio milhão de mortos e milhões de refugiados e deslocados, destruindo grande parte da infraestrutura e da indústria locais.
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Analistas afirmam que o foco da visita de Assad estará concentrado na busca de fundos para a reconstrução. A China desempenha um papel cada vez mais dominante no Oriente Médio, como ficou explícito durante a mediação da aproximação diplomática, no início do ano, entre o Irã, forte aliado da Síria, e Arábia Saudita, que são rivais históricos e haviam cortado relações diplomáticas.
Nos últimos meses, o governo sírio iniciou a reaproximação com vários países árabes. A normalização das relações ganhou impulso em maio com o retorno de Damasco à Liga Árabe e a participação do líder sírio em uma cúpula na Arábia Saudita. O bloco decidiu reintegrar o regime após 11 anos de exclusão.
Especialistas dizem que a reconciliação entre os sauditas de origem sunita e o regime xiita dos aiatolás teve papel crucial nessa virada diplomática. Paralelamente, a solidariedade internacional diante do devastador terremoto de 6 de fevereiro, que deixou mais de 50 mil mortos entre a Turquia e a Síria, também colaborou para uma reaproximação internacional do país.
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