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Por , Em The New York Times — Atenas

Pela janela do escritório, no centro de Atenas, o empresário Paris Skouros aponta para os quatro arranha-céus que surgiram nos últimos seis meses na linha do hortizonte da capital grega. Os empreendimentos de construtoras gregas e estrangeiras serão vendidos para aluguel de turismo, investimento imobiliário e escritórios comerciais. Um pouco mais longe, outro grupo de edifícios desponta na paisagem.

A crise financeira na Grécia quase arruinou sua empresa, a Skouros & sons, uma companhia de elevadores. Anos de severas medidas de austeridade impostas pelos credores internacionais foram impiedosos, diz Skouros, paralisando as novas construções. Agora, a recuperação econômica está a pleno vapor.

— Durante a crise, só queríamos sobreviver. Agora somos rentáveis, e o negócio está tão sólido que não conseguimos encontrar trabalhadores suficientes para dar conta da demanda — disse Skouros, em meio ao som de pancadas em placas de metal que vem de fora da sua sala de trabalho.

Carregada de dívidas que não podia pagar, a Grécia quase quebrou a zona do euro há uma década. Hoje, é uma das economias que cresce mais rápido na Europa. Em um significativo reconhecimento da recuperação do país, as agências de crédito vem melhorando a sua avaliação da dívida da Grécia e abrindo a porta a grandes investidores estrangeiros.

A economia grega cresce a um ritmo duas vezes maior do que a média da zona do euro, e o desemprego, embora ainda em uma alta taxa de 11%, é o mais baixo em mais de uma década. Os turistas voltaram em massa, alimentando um boom da construção e a abertura de novas vagas. Empresas multinacionais, como Microsoft e Pfizer, estão investindo no país. E os bancos que quase faliram sanearam as contas e voltaram a emprestar, beneficiando toda a economia. De acordo com algumas projeções, o Produto Interno Bruto [PIB] grego deve crescer 5% este ano.

A Grécia ainda enfrenta riscos. A sua montanha de dívida diminuiu, mas ainda está entre as mais altas do mundo, equivalente a 166% do tamanho de sua economia. Os bancos do país ainda detêm uma pilha de empréstimos inadimplentes maior que a média europeia. E a miséria da austeridade ainda é recente para algumas pessoas, agravada pela inflação resistentemente elevada com o impulso da guerra na Ucrânia.

O primeiro-ministro do país, Kyriakos Mitsotakis, um político conservador favorável aos negócios, foi reeleito com uma vitória acachapante em junho, ao colher os louros da recuperação econômica creditada à redução de impostos e da dívida. O governo facilitou o ambiente de negócios e aumentou o salário mínimo. O país está até antecipando pagamentos das dívidas do socorro internacional. Mitsotakis comemorou a volta da Grécia às graças dos investidores.

— Nunca permitirei revivermos o trauma da falência nacional — disse ele um dia após a última revisão favorável das agências de crédito.

'Passos difíceis'

A Grécia se transformou no centro da crise de endividamento da Europa depois da implosão de Wall Street em 2008. Irlanda, Portugal e Chipre também foram forçados a aceitar resgates internacionais. Mas a Grécia viveu o pior cenário, com a necessidade de receber três pacotes de socorro de 2010 a 2015, totalizando 320 bilhões de euros [R$ 1,7 trilhão] submetidos a regras amargas de austeridade.

Os rendimentos das famílias e o pagamento de pensões sofreram duros cortes. A economia encolheu em um quarto e centenas de milhares de empresas faliram quando os bancos fecharam. Em 2013, quase um terço dos gregos estavam desempregados.

— Gostaríamos que a austeridade fosse mais branda, mas as medidas foram a contribuição da Grécia para se salvar — disse Yannis Stournaras, ex-ministro das Finanças grego, que é o chefe do Banco Central da Grécia e membro do conselho do BCE [Banco Central Europeu]. — A Grécia teve que dar esses passos difíceis para sobreviver — completou.

A Grécia saiu dos rigorosos controles fiscais dos programas de resgate em 2018, e as ações do governo desde então ganharam a confiança da União Europeia. Em 2021, Bruxelas aprovou mais 30 bilhões de euros [R$ 157 bilhões] para investimentos climáticos na Grécia, como parte de um esforço mais amplo para reforçar as economias do bloco após a Pandemia da COVID-19.

Este mês, a DBRS Morningstar, uma agência de avaliação de crédito global reconhecida pelo BCE, elevou a classificação da dívida da Grécia para grau de investimento, uma medida que abre a porta para que fundos de pensão e outros grandes investidores comprem títulos emitidos pelo governo. E isso reduzirá os custos dos empréstimos para as famílias, empresas e governo, depois do BCE ter aumentado as taxas de juros para combater a inflação.

Os investidores estão aproveitando. A Microsoft está construindo um centro de dados de um bilhão de euros a leste de Atenas. Mais a norte, a Pfizer está a ancorar um centro de pesquisas de 650 milhões de euros. Empresas americanas, chinesas e europeias estão buscando acordos sobre energias renováveis. E investimentos de Cisco, JPMorgan, Meta e outras multinacionais têm uma projeção de impacto econômico equivalente a bilhões de euros nos próximos anos.

Bem mais de 10 milhões de turistas invadiram a Grécia neste verão, apesar da onda de incêndios florestais, gerando receitas estimadas em mais de 21 bilhões de euros [R$ 110 bilhões]. A construção aumentou no continente e nas populares ilhas gregas, impulsionada pela crescente procura de hotéis, Airbnbs e por um programa que permite a estrangeiros obter visto para viver na UE ao comprarem imóveis no valor mínimo de 500 mil euros na Grécia [R$ 2,6 milhões].

Roula Skouros, gerente de um hotel na cidade de Trípoli, não espera que a melhora no grau de investimento da Grécia tenha impacto na sua vida.

— Talvez alguém que trabalhe em um banco ou no mercado de ações seja afetado, mas eu não — disse Skouros, que não é parente de Paris Skouros.

Seu contracheque sempre girou em torno do salário mínimo, disse ela, que ainda sente a inflação galopante nas bombas de combustível e nos supermercados.

— [A melhora econômica] Não significa nada se não pudermos comprar gasolina e comida — avalia ela.

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