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Por O Globo e agências internacionais — Zhezkazgan, Cazaquistão

O astronauta Frank Rubio consagrou-se na quarta-feira como o americano que ficou mais tempo no espaço após completar 371 dias a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) junto com os cosmonautas russos Sergey Prokopyev e Dmitri Petelin na mais longa missão da ISS. Apesar do marco histórico — apenas dois meses atrás do recorde mundial alcançado pelo russo Valeri Polyakov, que passou 437 dias em órbita nos anos 1990 —, a viagem pode deixar mudanças significativas no corpo humano, que vão dos músculos ao DNA.

— Não estamos andando, não estamos suportando nosso próprio peso [no espaço] e, portanto, levará de dois a seis meses para que eu essencialmente diga que me sinto normal — disse Rubio, de origem latina, em entrevista quando ainda estava em órbita.

Assim que a espaçonave Soyuz MS-23 aterrissou na cidade de Zhezkazgan, no Cazaquistão, Rubio, Prokopyev e Petelin precisaram ser retirados da cápsula por uma equipe devido aos efeitos do tempo prolongado em baixa gravidade.

À princípio, a missão duraria apenas seis meses, mas acabou sendo prolongada em março depois que a espaçonave apresentou um vazamento líquido. A agência espacial russa (Roscosmos) decidiu, então, trocar a nave por precaução e enviou outra para a ISS, sem tripulação a bordo, para resgatá-los. O setor espacial é um dos poucos em que ainda existe cooperação entre a Rússia e os Estados Unidos em meio às tensões com a guerra na Ucrânia.

Além do trabalho na missão, a expectativa é que a viagem forneça informações valiosas sobre como humanos são afetados pelos voos espaciais a partir de um estudo, no qual o americano é o primeiro astronauta a participar, que examina a influência dos exercícios com equipamentos próprios para condições espaciais no corpo humano.

Os resultados da pesquisa podem ser vitais para o avanço da exploração do homem no Sistema Solar. Uma viagem tripulada a Marte, por exemplo, pode durar cerca de 1.100 dias (pouco mais de três anos), segundo as previsões atuais, e deverá ser realizada em uma espaçonave ainda mais estreita que as disponíveis na ISS, o que demandará equipamentos diferenciados.

Músculos e ossos

Sem a força constante da gravidade sob os membros, a massa muscular e óssea diminui rapidamente no espaço. Os mais afetados são os músculos das costas, pescoço, panturrilhas e quadríceps, responsáveis pela postura, uma vez que não são mais tão exigidos e, por isso, correm o risco de atrofiar. Dentro de duas semanas, a massa muscular pode cair até 20%, chegando a 30% em missões mais longas, de três a seis meses.

O mesmo ocorre com os ossos, já que não há mais tanta tensão mecânica sob o esqueleto, o que pode fazer com que percam a força. Em seis meses, até 10% da massa óssea pode ser perdida, com a diminuição de 1 a 2% por mês, aumentando o risco de fraturas e o tempo de recuperação. Na Terra, podem ser necessários até quatro anos para que o esqueleto do astronauta volta ao normal.

Como alternativa, os cosmonautas precisam fazer 2,5 horas de exercícios por dia quando estão em órbita, que incluem uma série de agachamentos, remadas e supinos, além de atividades aeróbicas em esteiras e bicicletas ergométricas adaptadas ao ambiente. Suplementos alimentares também são usados na dieta. No entanto, um estudo recente apontou que a rotina não foi suficiente para evitar a perda da massa muscular.

Perda de peso

Manter um peso saudável pode ser um enorme desafio quando se está em órbita, mesmo com uma dieta balanceada e exercícios. De acordo com um estudo feito com o astronauta Scott Kelly, que voou por 340 dias na ISS enquanto seu irmão gêmeo estava na Terra, a sua massa corporal diminuiu 7% durante a missão no espaço. Após seu retorno, pesquisadores descobriram que mesmo as bactérias e fungos que viviam em seu intestino haviam sofrido alterações em comparação com o período anterior à viagem.

Visão

No espaço, há a tendência de que o sangue se acumule na cabeça de forma anormal, podendo se concentrar na parte posterior do olho e ao redor do nervo óptico, provocando edema. Isso pode levar a alterações na vista, como diminuição da nitidez e mudanças na estrutura do olho dentro de até duas semanas no espaço — com maiores riscos em períodos prolongados. Embora muitas delas cessem depois de um ano que os astronautas estão de volta à Terra, há relatos de alterações permanentes.

Confusão neural

Ainda de acordo com o estudo feito no astronauta Scott Kelly, pesquisadores notaram que a velocidade e a precisão do seu desempenho cognitivo diminuíram nos seis meses que seguiram o seu retorno — provavelmente devido a uma readaptação do cérebro à gravidade.

Um outro estudo, realizado com um cosmonauta russo que passou 169 dias na ISS, revelou que o cérebro também pode mudar em órbita. Segundo a pesquisa, foram constatadas mudanças nos níveis de conectividade neural em partes responsáveis pela função motora, orientação e equilíbrio.

Bactérias

A pesquisa feita com Kelly também mostrou que bactérias e fungos que viviam no seu intestino sofreram mudanças significativas em comparação ao período anterior à missão. A alteração pode ter sido provocada por diversos fatores, como o consumo de alimentos incomuns, novas pessoas na rotina e exposição à radiação.

Pele

A pesquisa com Kelly também ajudou a ciência a perceber as mudanças do longo período em órbita na pele. No caso do astronauta, sua pele apresentou maior sensibilidade e erupções cutâneas nos seis dias depois do seu retorno. Para os pesquisadores, o motivo pode ser a falta de estímulos na pele no período em órbita.

Genes

Uma das descobertas mais significativas da viagem de Kelly foram os seus efeitos no DNA. No final de cada fita de DNA há estruturas conhecidas como telômeros, que ajudam a proteger os genes. À medida que o ser humano envelhece, essas estruturas ficam mais curtas. No entanto, pesquisas com Kelly e outros astronautas revelaram que a viagem espacial parece alterar o comprimento desses telômeros: aumentando em órbita e diminuindo mais rápido do que o normal no retorno à Terra.

Contudo, a ciência ainda não cravou os motivos para esse fenômeno. Uma das suspeitas é que a exposição à mistura de radiação durante longos períodos no espaço pode danificar o DNA.

Sistema imunológico

Outra descoberta a partir do estudo com Kelly foi em relação à imunidade. O astronauta americano recebeu uma série de vacinas antes, durante e depois da viagem e seu sistema reagiu normalmente. Pesquisas com outros astronautas, no entanto, mostraram uma queda no número de glóbulos brancos devido à radiação.

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