Mundo
PUBLICIDADE

Por The New York Times — Roma

Ao longo de uma década como líder da Igreja Católica Romana, o Papa Francisco permitiu debates sobre temas antes tratados como tabus e desencadeou sutis mudanças liberalizantes que enfureceram conservadores por ter ido longe demais e frustraram progressistas por não avançar o suficiente.

Este mês, a partir de quarta-feira, o desejo de Francisco de que a Igreja discuta as preocupações dos seus fiéis, mesmo os temas mais delicados, terá vez no Sínodo dos Bispos, um encontro de religiosos do mundo todo que, pela primeira vez, permitirá que mulheres votem e terá maior participação de leigos. As questões em discussão incluirão padres casados, o celibato sacerdotal, a bênção a casais LGBTQIA+, a extensão dos sacramentos aos divorciados e a ordenação de mulheres.

Os críticos desconfiam da própria natureza do sínodo, apontado como uma maratona burocrática ou como um cavalo de Troia para os progressistas corroerem as tradições da Igreja sob o manto do colegiado. Mas há os que enxergam uma oportunidade de botar em prática a visão de Francisco sobre a Igreja, como uma instituição inclusiva e que busca subverter a hierarquia tradicional e a força dos bispos, e ouvir e a trabalhar mais com os fiéis.

Para estes, mais do que qualquer questão em debate, e para além dos principais temas da “guerra cultural” que ficaram de fora da pauta (aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo ou eutanásia, por exemplo), é o processo de bispos e leigos trabalhado e votando juntos que representa uma mudança potencialmente transformadora.

'Momento incrível'

— É um momento incrível — disse Renée Köhler-Ryan, reitora da Escola de Filosofia e Teologia da Universidade de Notre Dame Austrália, que participará e votará entre as primeiras mulheres a terem essa oportunidade.

Ainda assim, muitos observadores da Igreja analisam que resta saber se o encontro se tornará um instrumento para a transformação que os conservadores temem ou outra oportunidade frustrada na visão dos progressistas.

O Sínodo dos Bispos é uma instituição permanente de aconselhamento do Papa que reúne bispos de todo o mundo, em encontros periódicos para discutir e votar propostas sobre orientações da Igreja que são enviadas para deliberação do Pontífice. Se desejar, o Papa pode adotar o texto final como um documento papal ou decidir escrever sua versão ao fim do sínodo.

O tema geral deste sínodo realizado em duas sessões — uma que vai de 4 a 29 de outubro e a próxima em 2024 — gira em torno do estímulo ao maior envolvimento dos fiéis nas questões da Igreja, definido como um " Sínodo sobre a Sinodalidade", ou sobre a capacidade de religiosos e leigos trabalharem juntos pelo bem da Igreja.

Francisco convocou vários sínodos durante o seu papado, sobre a família e sobre a juventude, por exemplo. Mas este é diferente. Não tratará de um único tema e sim da prática de trabalhar em sínodo, um processo que o Vaticano explica como “caminhando juntos”. Em 2021, o Vaticano iniciou um processo de sondagem em Igrejas do mundo todo para levantar os temas que, em teoria, seriam os mais importantes apontados, em comum, pelos fiéis.

— Eu tenho plena consciência de que falar de um ‘Sínodo da Sinodalidade’ pode parecer um pouco obscuro, autorreferente, excessivamente técnico, e de pouco interesse para o público em geral — disse o Papa, em agosto, mas acrescentou que — é algo verdadeiramente importante para a Igreja.

Novas vozes

Em abril, o Papa publicou as novas regras para este ano, que marcaram uma mudança histórica nas normas da Igreja. Pelo documento, a maior parte dos participantes ainda é formada por bispos, mas o Papa adicionou 70 integrantes leigos além deles. Ao todo, 365 pessoas terão direito a voto no Sínodo, das quais cerca de 75% serão bispos, explicou Paolo Ruffini, prefeito do dicastério (equivalente a um ministério na estrutura eclesiástica) da Comunicação do Vaticano, na quinta-feira.

Entre os votantes haverá 54 mulheres. O Papa Francisco escolheu os 70 leigos entre 140 candidatos proeminentes e ativos nas igrejas locais. Para uma das subsecretárias do Sínodo, irmã Natalie Becquart, é um modo de “desconectar a participação na liderança da Igreja da ordenação”, como explicou, no ano passado. A instituição, no entanto, esclareceu que o movimento não significa que a Igreja está se democratizando, mas que o Papa vai passar a ouvir mais vozes, e se enriquecer pela maior diversidade de perspectivas. Nos Sínodos passados, as mulheres puderam apenas atuar como auditoras.

Vários temas delicados dentro da Igreja estão em discussão, como o celibato de sacerdotes e a inclusão de homens casados no sacerdócio, a bênção a casais LGBTQIA+ e a extensão dos sacramentos aos divorciados, além da ordenação de mulheres. O debate vai girar ainda em torno de pobreza, racismo, discriminação de classe e contra pessoas com deficiência, além do tráfico de pessoas.Ficaram de fora questões centrais para os embates de costumes, como eutanásia, direito ao aborto e casamento entre pessoas LGBTQIA+, que, de acordo com a Igreja, não apareceram entre as apontadas nos levantamentos entre fiéis.

Em 2019, ao fim do último Sínodo, que teve como tema a Amazônia, os 185 bispos reunidos aprovaram um relatório em que defenderam a ordenação de homens casados que vivem na região . O texto, dividido em 120 pontos e entregue ao Papa Francisco , atacou o desenvolvimento econômico predatório – classificado como “ pecado ecológico ” – e reconheceu a dificuldade de celebrar a eucaristia nas comunidades nativas, diante da falta de sacerdotes.

Mais recente Próxima Em debate, Milei diz que não houve 30 mil desaparecidos na ditadura argentina

Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY

Mais do Globo

Especialistas preveem que regras sejam publicadas ainda este ano. Confira o que está para sair

Depois do CNU: Banco do Brasil, Correios e INSS, veja os concursos com edital previsto

Em 2016, com recessão e Lava-Jato, rombo chegou a R$ 155,9 bilhões. Pressão política para investir em infraestrutura preocupa analistas, que defendem regras de gestão mais rígidas

Fundos de pensão de estatais ainda têm déficit de R$ 34,8 bi e acendem alerta sobre ingerência política

Ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, afirmou que Madri atendeu a um pedido de González ao conceder asilo e disse que portas estão abertas para outros opositores

Espanha não ofereceu 'contrapartida' a Maduro para retirar González Urrutia de Caracas, diz chanceler da Espanha

Dispositivos finalmente ganharão atualizações relevantes, depois de dois anos sem novidades

Além do iPhone 16: veja os novos Apple Watch e AirPods que serão lançados hoje

Suspeito do crime, Tiago Ribeiro do Espírito Santo foi preso momentos depois e autuado por feminicídio

Garota de programa é morta estrangulada em hotel no Centro do Rio

Fazendeiro receberá compensação anual de R$ 54 mil, pois a aeronave impede o plantio de grãos no terreno

Empresa aérea começa a desmontar avião preso em campo de trigo na Sibéria um ano após pouso de emergência

Gorki Starlin Oliveira conta como uma estratégia de aquisições garantiu a sobrevivência de sua empresa em meio ao colapso das grandes redes de livrarias do Brasil

‘Compramos editoras para brigar por prateleira’, diz CEO da Alta Books

Homem foi descredenciado sob a alegação de que tinha anotações criminais em seu nome

Uber é condenado a pagar R$ 40 mil a motorista de aplicativo por danos morais

Texto ainda depende de aval do presidente para ser enviado ao Congresso; proposta também prevê reduzir negativas a pedidos via LAI

Governo discute projeto para acabar com sigilo de 100 anos após críticas a Lula por veto a informações