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Por , e agências internacionais* — Washington

Em uma votação histórica, o republicano Kevin McCarthy foi destituído do cargo de presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos nesta terça-feira, após uma iniciativa movida por integrantes ultraconservadores do seu próprio partido. Esta foi a segunda vez na História moderna da Casa em que tal votação foi realizada, algo que não acontecia há mais de um século no país — e a primeira em que seu presidente é, de fato, deposto após o procedimento.

Com 216 votos "sim", sendo oito de seu próprio partido, contra 210 votos "não" (de um total de 221 republicanos e 212 democratas), McCarthy deixa o cargo vago após uma série de embates com a ala mais extremista dos republicanos, que tentou bloquear a sua ascensão para assumir a presidência da Casa e que o tem atormentado desde então.

A gota d'água veio no último sábado, após McCarthy aprovar uma medida bipartidária provisória de financiamento apoiada pela Casa Branca para evitar uma paralisia do governo, o que desencadeou a fúria da ala ultraconservadora do partido.

A resposta dos extremistas republicanos veio dois dias depois, com a moção para "deixar vago o cargo de presidente da Câmara", apresentada na segunda-feira pelo deputado republicano Matt Gaetz, da Flórida. O movimento obrigou democratas a decidirem às pressas se apoiariam ou não o presidente da Casa, que passou grande parte de seu mandato se opondo à sua agenda e que, recentemente, abriu uma investigação de impeachment do presidente Joe Biden.

A moção foi votada e aprovada também nesta terça-feira, com 218 votos a favor e 208 contra, poucas horas antes da sessão decisiva para McCarthy.

Antes da votação final — que encerraria o mandato de nove meses de McCarthy, o segundo mais curto de um presidente da Câmara na História do país (o recorde é do deputado Michael Kerr, de Indiana, que ocupou o cargo por 257 dias, morrendo em função em 1876) —, um acalorado debate de republicanos contra republicanos ocorreu no Plenário, enquanto membros do grupo de rebeldes de extrema direita criticavam seu próprio presidente e brigavam verbalmente com seus defensores. Os democratas, por sua vez, não participaram das discussões.

Em coletiva de imprensa após a votação, o republicano, que culpou os democratas e a Casa Branca pela destituição, também teceu críticas aos oito republicanos que votaram contra ele. Sobre Gaetz, ele afirmou que ele não é um "conservador de verdade" após votar com democratas.

"Posso ter perdido na votação hoje, mas lutei pelo que acredito. E eu acredito na 'América'. Foi uma honra servi-los", também escreveu no X (antigo Twitter).

Os oito congressistas republicanos que votaram para remover McCarthy do cargo foram Andy Biggs, do Arizona, Ken Buck, do Colorado, Tim Burchett, do Tennessee, Eli Crane, do Arizona, Matt Gaetz, da Flórida, Bob Good, da Virgínia, Nancy Mace, da Carolina do Sul e Matt Rosendale, de Montana.

— É para o benefício deste país que tenhamos um melhor presidente da Câmara do que Kevin McCarthy — comemorou Gaetz após a decisão, acrescentando que não será um concorrente a sucessor do cargo. — McCarthy não conseguiu cumprir sua palavra.

Nos dias que antecederam a votação, os democratas discutiram se deveriam ajudar McCarthy a sobreviver ou, pelo menos, permanecer fora do esforço para destituí-lo. Mas numa reunião na manhã desta terça-feira, o deputado Hakeem Jeffries, de Nova York, líder da minoria, instruiu os seus colegas democratas a não o fazerem, citando a "relutância dos republicanos em romper com o extremismo Maga [Make America Great Again, movimento político ligado ao ex-presidente Donald Trump]".

Sem sucessores

Com o posto desocupado, a Casa fica paralisada até que um sucessor seja escolhido, mas ainda não há um sucessor claro. Isso promete provocar outra eleição potencialmente confusa — como a de janeiro, que se estendeu por históricas 15 sessões — e num momento em que o Congresso tem pouco mais de 40 dias para evitar outra possível paralisação do governo. Até então, o deputado Patrick McHenry, da Carolina do Norte, assume como interino.

O presidente Biden espera que a Câmara eleja rapidamente um sucessor, e que "está disposto a trabalhar com membros de ambos os partidos para abordar as prioridades do povo americano", afirmou a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, em comunicado após a votação.

Os dois partidos realizarão reuniões nos próximos dias para escolher seus indicados ao posto. McCarthy já garantiu que não concorrerá.

— Vou continuar lutando, talvez de outra maneira — disse.

Proeminente dentro do pequeno grupo de extrema direita do partido, Gaetz afirmou a repórteres que, por ora, manterá as conversas entre ele e os potenciais sucessores de McCarthy em sigilo, mas mencionou membros importantes da liderança republicana, incluindo os deputados Tom Emmer e Steve Scalise. Outros nomes citados por ele incluíram os parlamentares Mike Johnson e Kevin Hearn.

Já a deputada Marjorie Taylor Greene, republicana da Geórgia e aliada de McCarthy, disse não ter certeza de quem poderia obter a aprovação de um número suficiente de republicanos da Câmara.

— Ninguém tem apoio como Kevin McCarthy — disse Greene a repórteres no fim da sessão.

Ala extremista republicana

O resultado desta terça-feira é um reflexo das concessões que McCarthy teve de fazer em janeiro, quando enfrentou oposição dentro do próprio partido para ocupar o cargo. O imbróglio ficou marcado na História do país como a votação mais longa para o cargo em mais de 160 anos, e a primeira vez em mais de um século que alguém não foi eleito para o cargo na primeira votação.

Na época, McCarthy foi obrigado a negociar com o bloco extremista partido, que não aliviou a pressão até obter garantias significativas, incluindo a implementação de um procedimento para facilitar o impeachment do presidente da Câmara. Além disso, durante as negociações, o McCarthy também concordou em permitir que um único parlamentar pudesse forçar uma votação rápida a qualquer momento — justamente o que aconteceu na segunda-feira, com a moção apresentada por Gaetz.

Um total de 21 congressistas linha-dura do partido foram contra McCarthy em diversas ocasiões nos últimos meses, como na votação do pacote temporário de gastos que foi aprovado na Câmara na noite de sábado. Desses, 11 votaram contra ele nas sessões de janeiro. Todos tendem a se agrupar ideologicamente na extremidade da extrema direita do espectro político.

As brigas internas do partido durante a votação desta terça provocaram a reação de Trump: "Por que os republicanos passam o tempo todo discutindo entre si? Por que não lutam contra os democratas radicais de esquerda que destroem o nosso país?", questionou o magnata em sua plataforma, a Truth Social.

O presidente da Câmara dos Representantes é o segundo na linha de sucessão da Presidência americana. Assim como muitos congressistas, McCarthy repreendeu Trump após os distúrbios no Capitólio em 2021, mas logo recuou e viajou à Flórida para fazer as pazes com o magnata, garantindo um apoio crucial para suas ambições como presidente da Casa.

Os procedimentos desta terça-feira ocorreram apenas uma vez na Câmara dos Representantes, em 1910. Naquela época, os republicanos progressistas tentaram destituir o então presidente da Câmara, Joseph Cannon, um conservador conhecido como "Tio Joe", por se recusar a levar as prioridades do partido para votação no Plenário. Ao contrário de McCarthy, Cannon sobreviveu à votação, mas ficou enfraquecido com o resultado. (*Com New York Times e AFP.)

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