Deputados do Parlamento Europeu acusam o Azerbaijão de "limpeza étnica" dos armênios na região do Nagorno-Karabakh e condenou suas ações, de acordo com uma resolução não vinculativa adotada nesta quinta-feira. Para eles, os ataques violam os direitos humanos e constituem uma grave violação do direito internacional, além de atropelarem as tentativas de cessar-fogo na região, informou a assessoria de imprensa do parlamento.
No documento, os deputados consideram que “a situação atual equivale a uma limpeza étnica" e, por isso, "condenam veementemente as ameaças e os atos de violência cometidos pelas tropas do Azerbaijão".
Os eurodeputados apelam ainda aos países da União Europeia para que "tomem medidas específicas contra os membros do governo azerbaijano" por causa dos ataques em Nagorno-Karabakh. Estuda-se, por exemplo, suspender quaisquer negociações sobre uma parceria renovada com a capital azerbaijana, Baku, e caso a situação não seja normalizada, a suspensão da facilitação de vistos entre o bloco e o Azerbaijão.
A resolução foi aprovada por 491 votos a favor e apenas nove contra.
O conflito
Pelo menos 600 armênios étnicos morreram e mais de 100 mil fugiram do enclave, após uma ofensiva militar relâmpago lançada por Baku, nos dias 19 e 20 de setembro, para sufocar o ímpeto independentista dos separatistas armênios. O êxodo levou mais de 80% da população desse território do Cáucaso a buscar refúgio na Armênia com medo de represálias.
O afluxo ininterrupto e caótico alimentou as alegações armênias de "limpeza étnica", algo que o Azerbaijão nega categoricamente, e apelou mesmo aos armênios para que permanecessem no Nagorno-Karabakh. No domingo, chegou a Nagorno-Karabakh uma missão da ONU, a primeira do gênero em 30 anos na região.
A região é o centro de um longo conflito entre os países. Nagorno-Karabakh, de maioria armênia e cristã, separou-se do Azerbaijão, de maioria muçulmana, após a dissolução da União Soviética, em 1991, com o apoio da Armênia que, ao longo dos anos, continuou oferecendo apoio político, econômico e militar ao território.
Mesmo assim, sua independência nunca foi reconhecida por nenhum outro membro das Nações Unidas — apesar de ter maioria armênia e ser considerada por Yerevan, capital da Armênia, uma região de extrema importância para sua história.
Duas guerras já foram travadas pelo enclave: uma entre 1988 e 1994, e outra no fim de 2020. Neste último confronto, que durou seis semanas antes de um acordo de cessar-fogo, 6,5 mil pessoas morreram. Ainda assim, incidentes armados vinham acontecendo com frequência, apesar da presença das forças russas de interposição, com cada lado acusando o outro de ser o responsável.
As tensões recomeçaram no final de 2022, quando o Azerbaijão instalou postos de controle antes de bloquear a circulação no Corredor de Lachin, a única estrada que liga Nagorno-Karabakh à Armênia — o que ocasionou uma escassez grave de alimentos e medicamentos no enclave. Desta vez, apesar de mediações separadas da União Europeia, dos Estados Unidos e da Rússia, a Armênia e o Azerbaijão não conseguiram chegar a um acordo de paz.
No dia 28 de setembro, após a fuga de mais da metade da população, o governo armênio de Nagorno-Karabakh anunciou, através de um decreto, a dissolução de sua república separatista para janeiro de 2024. Isto significa que a "república de Nagorno-Karabakh", conhecida pelos armênios como Artsakh e fundada há mais de três décadas, "deixa de existir".
Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY