O número de pessoas deslocadas pela guerra na Faixa de Gaza aumentou cerca de 30% nas últimas 24 horas. São até o momento 338.934 habitantes em deslocamento, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários. Muitos deles estão abrigados em escolas administradas por uma agência de ajuda humanitária da ONU, e pelo menos duas dessas unidades foram danificadas por ataques aéreos.
As forças israelenses iniciaram uma contraofensiva após o país ter sofrido um ataque de terroristas do Hamas, no último sábado. As forças de Tel Aviv determinaram a instalação de um "cerco total" à região, sem o abastecimento de comida, água e energia. A região vive uma crise humanitária.
Um grupo de 13 brasileiros, por exemplo, está alojado em uma escola católica situada na Faixa de Gaza, enquanto aguarda o retorno para o Brasil. O Escritório de Representação do Brasil em Ramallah, na Cisjordânia, informou nesta quarta-feira que vai avisar ao governo de Israel sobre a presença dessas pessoas, para que a unidade de ensino não seja bombardeada.
A forte reação de Israel contra o Hamas, após o pior ataque terrorista da história do país, atrai cada vez mais preocupação da comunidade internacional, à medida que os bombardeios contra a Faixa de Gaza causam a morte de civis e provocam danos a infraestruturas críticas da região.
Organizações internacionais denunciam possíveis violações de direitos humanos na resposta israelense e cobram um mínimo de trégua para que atividades humanitárias possam ser realizadas no território palestino, enquanto os temores sobre excessos na reação ganham espaço no discurso político.
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Israel vem bombardeando de maneira incessante a Faixa de Gaza desde o ataque do Hamas, como parte do anunciado "cerco total" ao enclave palestino — já denunciado pela ONU como uma violação do direito humanitário internacional. Para cumprir a promessa do ministro da Defesa, Yoav Gallant, de deixar Gaza "sem eletricidade, sem comida, sem água e sem gás", as Forças de Defesa de Israel (IDF) intensificaram os bombardeios contra a zona portuária e outras posições distribuídas pelo enclave palestino. De acordo com autoridades palestinas, o território ficou completamente sem energia elétrica nesta quarta-feira, após a usina que atende mais de 2 milhões de pessoas parar de funcionar por falta de combustível.
O diretor médico do Hospital Al-Wafa na cidade de Gaza, Hassan Khalaf, afirmou que os hospitais no enclave sitiado estão dependendo de geradores que não estão equipados para alimentar muitos equipamentos médicos, colocando em risco 100 recém-nascidos e 1,1 mil pacientes em diálise. Em entrevista à Al-Jazeera, ele previu que as unidades médicas teriam apenas "alguns dias" de autonomia.
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Os militares de Israel afirmam que todos os alvos bombardeados têm relação com o Hamas e outros grupos terroristas, como a Jihad Islâmica, mas relatos de organizações palestinas e internacionais mostram um cenário diferente. A Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) comunicaram a morte de nove trabalhadores humanitários em meio aos bombardeios, além de notificar danos estruturais a 18 instalações da organização. Ao menos dois hospitais e dois centros de saúde foram atingidos, segundo a mesma agência.
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Com uma contagem parcial de 1.055 mortos em Gaza, equipes de saúde e de resgate tentam continuar trabalhando enquanto a escassez de recursos e os bombardeios frequentes ameaçam gravemente a capacidade operacional. Na manhã desta quarta-feira, equipes de resgate palestinas tentavam alcançar vítimas soterradas em prédios destruídos pelos disparos israelenses, em meio à movimentada zona de guerra e a iminente falta de combustível. Até o momento, todas as tentativas de negociar com Israel corredores humanitários para o envio de insumos essenciais para a população civil do território palestino foram ignorados, apesar dos alertas graves.
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou, na terça-feira, que não há mais suprimentos médicos prontos para uso em Gaza, com unidades hospitalares operando acima de suas capacidades regulares. O Programa Mundial de Alimentos da ONU, por sua vez, pediu a criação de um corredor humanitário para enviar equipes humanitárias e comida para a zona de guerra, expressando preocupação com o bem-estar da população civil do enclave. Os EUA continuam a tentar negociar a criação de uma passagem segura.
Diante do agravamento da situação dos civis em Gaza, autoridades tiveram que afinar o discurso para incluir as preocupações com as violações. O chanceler da União Europeia, Josep Borrell, afirmou na terça que o direito de Israel de se defender deveria ocorrer em concordância com a violação internacional.
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— Algumas das ações [de Israel], e as Nações Unidas já disseram isso, cortando água, cortando eletricidade, cortando comida para a população civil, vai contra a lei internacional. Então sim, há algumas ações que não estão de acordo com a lei internacional — disse Borrel.
Na manhã desta quarta, o Papa Francisco apelou pela libertação “imediata” dos reféns capturados em Israel pelo Hamas e disse estar “muito preocupado” com o cerco à Faixa de Gaza.
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— Peço que os reféns sejam libertados imediatamente. Aqueles que foram atacados têm o direito de se defender, mas estou muito preocupado com o cerco total em que vivem os palestinos de Gaza, onde também há muitas vítimas inocentes — declarou.
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