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Por O Globo — Rio de Janeiro

Um avião com mais 214 brasileiros que estavam em Israel quando terroristas do Hamas lançaram uma ofensiva contra o país e deflagraram uma guerra no país do Oriente Médio chegou ao Rio de Janeiro na madrugada desta quinta-feira (12). O voo da Força Aérea Brasileira (FAB) aterrissou no Galeão, na Zona Norte da capital fluminense, por volta de 2h40, trazendo também cães e gatos. Foram, ao todo, 14 horas de viagem, sem escala.

O avião KC-30, um Airbus A330 200, decolou de Tel Aviv na tarde desta quarta com brasileiros que haviam ficado retidos em Jerusalém durante a invasão por terra e mar e o lançamento de foguetes dos terroristas, desde o último sábado. A viagem fez parte da Operação Voltando em Paz, iniciativa de repatriação de cidadãos nacionais promovida pelo governo federal.

Segundo o Itamaraty, idosos, grávidas e crianças são os três grupos prioritários no processo de repatriação. Outros 40 passageiros chegaram, nesta quarta, num jato da FAB de Israel ao Rio. Além deles, um grupo com cem brasileiros que ficaram presos em um hotel desembarcou no Galeão à tarde.

O governo federal estima que serão necessários 15 voos da FAB para trazer de volta os brasileiros que querem sair de Israel e outros países do Oriente Médio, devido ao conflito entre israelenses e o grupo palestino Hamas. De acordo com o governo, 900 brasileiros devem ser repatriados até sábado.

Primeiros repatriados

Os primeiro grupo de brasileiros resgatados pela Força Aérea Brasileira (FAB) em Israel demonstrou alívio e alegria ao chegar ao Brasil na madrugada desta quarta-feira. Na Base Aérea de Brasília, testemunhas da guerra relataram a tensão vivida com o zunido de mísseis sobrevoando os céus de cidades como Tel Aviv e Jerusalém, além dos momentos de angústia em abrigos.

O voo da FAB, um KC-30 levando 211 passageiros, pousou às 4h06 da madrugada. Parte dos passageiros ficou em Brasília, onde poderia fazer conexões para as regiões ondem moram, enquanto outra parcela de brasileiros, a maioria de turistas com a viagem interrompida, seguiu em avião da Aeronáutica para o Rio de Janeiro.

Brasileiros relatam momentos de tensão em Israel antes de serem resgatados pela FAB

Brasileiros relatam momentos de tensão em Israel antes de serem resgatados pela FAB

Horas depois, 104 passageiros desembarcaram Base Área do Galeão, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio.

A empresária Virgínia Salomé não vê a hora de abraçar a irmã mais nova, Andrea Martins, de 49 anos. A carioca viajou para Israel em uma excursão evangélica na segunda passada. A princípio, a ideia era ficar cerca de dez dias em Jerusalém. Mas o cenário mudou quando houve o ataque do grupo palestino Hamas a Israel, que começou no ultimo sábado.

— Todo a família estava em pânico. Cada dia que passa é uma novidade estrondosa. A gente está aliviado porque ela está sempre mandando noticias. E, agora, está voltando para casa. Ela está tentando acalmar a gente. Ela nos avisou que o país estava em guerra. Ela ficou em hotel e nada aconteceu. Não vejo a hora de vê-la. Acho que vou desmaiar quando acontecer nosso encontro — brincou a empresária.

Mulher viu míssil ser interceptado

Em viagem de oração a Jerusalém, Cristina Balbi, de São Paulo, estava no local apontado por religiosos em que Jesus foi sepultado, em Jerusalém, quando começou a presenciar o ataque terrorista do Hamas. Ela diz ter visto um míssil ser interceptado pelo sistema de defesa israelense.

— Não sabíamos o que fazer (com as sirenes). Passou dois minutos, ouvimos o estrondo do míssil, o Iron Dome (funcionando, sistema que intercepta a artilharia), por conta dos mísseis lançados pelo Hamas. Naquele momento, a gente estava já indo para o hotel, e fomos para o bunker, em Jerusalém — relatou Cristina Balbio — Fomos ao Jardim do Túmulo, nós vimos o míssil sendo abatido acima da nossa cabeça — relata a brasileira.

Primeiro avião da Força Aérea Brasileira (FAB) com brasileiros repatriados pousa em Brasília — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Primeiro avião da Força Aérea Brasileira (FAB) com brasileiros repatriados pousa em Brasília — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

No desembarque em Brasília, a nutricionista Giulia Maria Zarello era uma das passageiras emocionadas por retornar ao Brasil. Ela passou apenas três dias em Israel, onde teve que se abrigar em locais protegidos para esperar a situação melhorar.

— Não esperava as crianças aqui no aeroporto. Só esperava o marido — disse ela, emocionada, ao ser recebida pela família.

A mineira Fernanda Damasceno, de Belo Horizonte, ainda na saída da Base Aérea, estava emocionada e chorando por regressar ao Brasil.

— Três dias presa no hotel, correndo para o bunker por causa de sirene. Mas, com fé em Deus e Nossa Senhora, saímos. Teve um dia que não entrei em contato, e a família ficou desesperada. Mas depois eu consegui falar com eles.

O cineasta Júlio Mauro presenciou momentos de correria e pânico diante dos zunidos de mísseis, carros abandonados e tropas israelenses se movimentando em Israel. Também relatou o momento de angústia no trajeto de Jerusalém até Tel Aviv. Ele conta que iria gravar um documentário bíblico, mas teve que mudar o roteiro.

— A gente mudou a nossa história.

Ao todo, seis aeronaves da FAB foram mobilizadas para a operação de resgate, que começou no domingo, um dia depois dos ataques terroristas do Hamas. O conflito já deixou cerca de 3 mil mortos.

Antes do desembarque dos brasileiros, a secretária-geral do Itamaraty, embaixadora Maria Laura da Rocha, disse que ainda há 2.500 brasileiros que serão retirados de Israel pela operação da FAB.

— Continuamos atentos, junto com o Ministério da Defesa, com o comando da Aeronáutica. Nosso objetivo é trazer todos de volta. Ainda temos cerca de 2.500 brasileiros em Israel. Temos 50 pessoas na Faixa de Gaza neste momento, e nossa preocupação é com os nossos nacionais.

Ao lado do comandante da Aeronáutica, Marcelo Damasceno, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, disse nesta madrugada que recebeu uma ligação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para falar sobre a continuidade da missão de repatriação de brasileiros.

— Esse é o primeiro de muitos voos. Algumas pessoas me perguntam quantos voos vamos realizar. Vamos trazer todos os brasileiros na região. Esse é o primeiro que vem de Tel Aviv, mas o Itamaraty já está em contato com países vizinhos para ver se deslocamos os outros brasileiros que estão no entorno — disse Múcio.

De acordo com Múcio, o plano de retirado dos cerca de 50 brasileiros de Gaza ainda está sendo estudado. A ideia é que eles possam seguir de carro até o Egito, ao sul da fronteira, e naquele país ir a um aeroporto.

— A Aeronáutica já tem montado pelo brigadeiro Damasceno um esquema especial para trazer. São grupos pequenos, que lá têm que se deslocar por terra. Nós não temos acesso para que o avião pouse. E estamos trabalhando para levá-los a um lugar seguro para que possam voltar à sua terra. O presidente Lula tem orientado para que não fique nenhum brasileiros, todos que quiserem voltar, que nós possamos apresentar as condições. O Brasil é o primeiro país a realizar essa operação.

Na terça-feira, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, destacou o plano a diplomacia.

— Os voos de repatriação estão começando agora, foi uma grande manobra para repatriar e, evidentemente, feita em conjunto com a FAB, são seis aviões militares que vão trazer os brasileiros que já se inscreveram na Embaixada do Brasil — afirmou.

Alívio no embarque

Ao embarcar na aeronave em Tel Aviv, na terça-feira, brasileiros já demonstravam alegria pela saída. Entoaram o cântico que se popularizou nos estádios de futebol do país: "Eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor". Já dentro do avião, em registros postados em redes sociais, os brasileiros fizeram orações.

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