A fronteira entre o Egito e a Faixa de Gaza continuou fechada no domingo, impedindo a passagem de um grupo de 32 pessoas, entre elas 22 brasileiros, que tentam sair do território sob cerco de Israel, além de dezenas de cidadãos de outros países, entre eles Estados Unidos, Turquia e vários europeus. A Embaixada do Brasil no Egito deslocou uma equipe de diplomatas para Ismaília, no norte do país, para acompanhar as negociações que buscam conseguir a abertura da fronteira. O embaixador do Brasil no país, Paulino Franco Neto, lidera a missão, que espera ter novidades positivas nesta segunda-feira.
Em entrevista à GloboNews no domingo, o Assessor Internacional da Presidência da República, Celso Amorim, se mostrou otimista, mas disse não ter certeza sobre quando os brasileiros poderão atravessar a fronteira. Amorim disse que existe “um certo jogo de empurra [entre Israel e Egito]” na hora de assumir responsabilidades sobre a decisão de liberar a saída através de Rafah:
— Se você fala com o lado israelense, eles dizem que os egípcios não abriram a passagem. E se você fala com os egípcios, eles falam, eu acredito que isso é verdade, que não abriram porque não têm garantia de que as pessoas poderão passar com segurança.
Os diplomatas brasileiros esperam autorização para se dirigir ao aeroporto de al-Arish — uma das opções para a saída dos brasileiros, no Egito — e, se for dado sinal verde, até a cidade palestina de Rafah, onde está uma parte do grupo que espera para sair. Outra parte está na cidade de Khan Younes, localizada a 15 quilômetros de Rafah, também no sul de Gaza. As 32 pessoas que o Brasil tenta trazer de volta ao país saíram da cidade de Gaza no sábado, de ônibus, após o ultimato dado por Israel a todos os que estavam na região norte do país.
— Nós e também outras embaixadas não podemos entrar no Sinai. Dependemos de uma autorização expressa do governo egípcio — disse o embaixador ao GLOBO.
O embaixador destacou que a abertura da fronteira não depende só do Egito:
— Israel e os palestinos de Gaza também estão envolvidos nessa negociação, de um modo ou de outro.
Ismaília fica a cerca de duas horas da fronteira e, por enquanto, foi o o local mais perto de Rafah para onde os diplomatas puderam se deslocar.
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Otimismo americano
O Brasil não é o único que tenta retirar seus cidadãos de Gaza. Também estão negociando com o Egito — e em alguns casos com Israel — os governos dos EUA, Filipinas, Noruega, Turquia, Ucrânia e países da União Europeia. A Casa Branca disse ontem estar confiante de que a fronteira do Egito com Gaza será aberta para permitir ajuda humanitária, disse aos jornalistas no Cairo o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken.
— Rafah estará aberto — afirmou o enviado do governo de Joe Biden, após se reunir com o presidente do país, Abdel-Fattah al-Sisi.
Ao secretário americano, al-Sisi afirmou que a reação de Israel ao ataque terrorista do Hamas “foi além da autodefesa” e virou “punição coletiva”, segundo a mídia estatal egípcia.
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As declarações de al-Sisi foram as mais duras ouvidas pelo chefe da diplomacia americana de um líder árabe durante seu giro pelo Oriente Médio, que começou em Tel Aviv na quinta-feira passada.
A situação na fronteira entre Egito e a Faixa de Gaza está ficando cada vez mais complicada. Caixas com ajuda humanitária vindas de de vários países se acumulam na região. Carregamentos de alimentos e outros produtos enviados pela Jordânia, Turquia e pelos Emirados Árabes Unidos, assim como material médico que cobriria as necessidades de 300 mil pessoas, despachados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), estão retidos no aeroporto de El Arich, no Sinai.
O Egito controla a passagem fronteiriça de Rafah para Gaza, mas, temendo uma onda de pessoas, sobretudo de refugiados, o governo ergueu barreiras de concreto. Na última sexta, o presidente egípcio pediu que os palestinos de Gaza “permaneçam em suas terras”.
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Nos últimos dias, a Faixa de Gaza foi bombardeada e sitiada por Israel, enquanto os esforços diplomáticos para abrir corredores humanitários não chegaram a resultados concretos, entre outros âmbitos, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, este mês presidido pelo Brasil.
Segundo fontes diplomáticas, a missão brasileira na ONU terminava ontem o processo interno de consultas para apresentar no conselho, possivelmente hoje, um projeto de resolução sobre o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Uma das últimas versões preliminares do texto, confirmaram as fontes consultadas, enfatiza a firme condenação e rechaço aos atos terroristas cometidos pelo Hamas, em 7 de outubro, e defende um cessar-fogo associado a uma necessidade humanitária, sobretudo de abertura de um corredor para que entre ajuda em Gaza.
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