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Por O Globo — Cidade de Gaza e Jerusalém

O bombardeio de um hospital lotado que servia de abrigo a milhares de pessoas deslocadas na Cidade de Gaza na terça-feira deixou centenas de mortos, desencadeou uma guerra de versões entre Israel e o grupo terrorista Hamas, gerou uma onda mundial de repúdio e tornou ainda mais complicadas as já difíceis iniciativas internacionais de diálogo para a criação de um corredor humanitário e a saída de estrangeiros do território palestino sob pesado bombardeio israelense. O ataque ocorreu no 11º dia de guerra, na véspera da chegada do presidente dos EUA, Joe Biden, a Israel.

Como consequência imediata do ataque, foram cancelados o encontro de líderes árabes com Biden, na Jordânia, e a reunião do Conselho de Segurança da ONU que iria votar uma resolução patrocinada pelo Brasil sobre o conflito e a ajuda humanitária a Gaza.

O ataque ao Hospital Árabe al-Ahli, o mais antigo da Faixa de Gaza, fundado em 1882, ocorreu no fim da tarde. Um foguete atingiu o prédio e, segundo o Ministério da Saúde do território, deixou ao menos 500 mortos — de acordo com o Hamas, as vítimas fatais passariam de 870. O grupo terrorista culpou Israel, que vem fazendo uma pesada ofensiva em Gaza como resposta aos ataques do grupo terrorista no sul do país, em 7 de outubro, que deixaram ao menos 1.400 mortos e entre 199 e 250 reféns nas mãos dos extremistas, além de milhares de feridos.

Colapso humanitário

As Forças Armadas de Israel disseram inicialmente, em comunicado, que hospitais não são alvos militares do país e que uma investigação estava em curso. Horas depois, um novo comunicado afirmou que “de acordo com informações de inteligência, provenientes de diversas fontes”, a organização extremista Jihad Islâmica seria a responsável pelo foguete que atingiu o hospital. Segundo os militares, ocorria um ataque de foguetes contra o território israelense, a partir de Gaza, no momento da explosão, e um dos artefatos teria tido uma falha e caído no hospital.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, acusou “terroristas bárbaros” de estarem por trás da tragédia e disse na rede social X (o antigo Twitter) que “aqueles que brutalmente mataram nossas crianças, também matam as suas crianças”. A Jihad Islâmica, no entanto, negou envolvimento na explosão. O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, disse que os EUA também são responsáveis por “dar cobertura para a agressão [de Israel]”. As Forças de Defesa de Israel chegaram a publicar um vídeo para acusar a Jihad Islâmica, mas retiraram a postagem do ar após conflito entre a hora exibida nas imagens e a do ataque ao hospital.

Médicos Sem Fronteiras (MSF) classificou a explosão que atingiu o hospital como um “massacre” e “absolutamente inaceitável”. “Nada justifica este ataque chocante a um hospital e aos seus muitos pacientes e profissionais de saúde, bem como às pessoas que aí procuravam abrigo. Os hospitais não são um alvo. Este derramamento de sangue deve parar”, disse o MSF em sua conta no X.

— Estávamos operando no hospital, houve uma forte explosão e o teto da sala de cirurgia caiu. Isto é um massacre — disse Ghassan Abu Sittah, do MSF.

O ataque ao hospital também teve forte repercussão internacional, com implicações importantes para os esforços de vários países de deter a escalada da guerra e a busca de um entendimento para permitir a libertação dos reféns, a saída dos estrangeiros de Gaza e o estabelecimento de um corredor humanitário ao território. Entidades internacionais como a ONU e a Organização Mundial da Saúde (OMS) vêm alertando nos últimos dias que Gaza está à beira de um colapso humanitário devido ao bloqueio israelense, com escassez de água, alimentos, remédios e energia.

A situação é agravada pela fuga de ao menos 400 mil pessoas do norte para o centro e o sul do território, depois que Israel deu um ultimato para a evacuação geral do 1,1 milhão de pessoas que vivem na área, em antecipação a uma ofensiva terrestre.

A Jordânia cancelou um encontro de cúpula que teria a participação do presidente Biden, nesta quarta-feira em Amã. O presidente americano se reuniria com o rei Abdullah II, além dos presidentes do Egito, Abdel Fatah al-Sisi, e da ANP, Mahmoud Abbas, que já havia cancelado a participação mais cedo, logo depois da explosão. Biden se encontrará em Israel com Netanyahu.

Já o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que tem um bom relacionamento com o Hamas e cujo governo está buscando mediar a libertação dos reféns, encampou a versão de responsabilidade de Israel no ataque e disse que os ataques do país “são desprovidos de valores humanos”. Países árabes que têm se aproximado de Israel, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, também criticaram o Estado judeu.

Conflito em Israel:

Desafio para Biden

Além de manifestar solidariedade a Israel pelos ataques terroristas, Biden terá a tarefa de buscar o alívio do cerco israelense a Gaza, onde Netanyahu já disse que quer a destruição do Hamas. Desde o início da ofensiva de Israel, ao menos 3 mil palestinos já morreram e mais de dez mil ficaram feridos. Nesta terça-feira, em reação ao ataque ao hospital, a Casa Branca se limitou a dizer que Biden enviou “as mais profundas condolências” às vítimas.

Altos funcionários israelenses disseram ao site de notícias YNews que “há uma lacuna significativa entre o que Israel está disposto a permitir e o que os americanos estão exigindo no que diz respeito à ajuda humanitária a Gaza”. Segundo essas fontes, “Israel está preparado para permitir apenas que o mínimo indispensável entre em Gaza para impedir uma crise humanitária, mas requer garantias de que a assistência não vai chegar ao Hamas”.

Um dos mais veementes opositores a qualquer ajuda à Faixa de Gaza é um dos principais aliados de Netanyahu em sua coalizão, o ministro de Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, de extrema direita. Segundo ele, “enquanto o Hamas não libertar os reféns em seu poder, a única coisa que deveria ser enviada a Gaza são centenas de toneladas de explosivos pela Força Aérea, nem um só grama de ajuda humanitária”.

O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, chamou de “absolutamente necessária” a visita de Biden, a Israel. Para Borrell, Biden deve transmitir ao país do Oriente Médio a necessidade de respeitar o direito internacional.

— Pedimos a Israel que desenvolva suas atividades de defesa em respeito ao direito internacional, que sejam abertos corredores humanitários através dos quais leve ajuda a Gaza, que se protejam os civis. Estou certo de que esta será também a mensagem [de Biden] — disse Borrell.

Autoridades internacionais também condenaram o ataque. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou que o ataque “não está em linha com o direito internacional”.

Na Cisjordânia, protestos contra Abbas, tomaram as ruas de Ramallah e houve confrontos. O presidente da ANP, adversário do Hamas, é visto por muitos palestinos como inoperante diante de Israel. Por sua vez, o grupo fundamentalista islâmico libanês Hezbollah, que é aliado do Hamas e tem realizado ações contra Israel no sul do Líbano, convocou partidários a promoverem um “dia da fúria” nesta quarta-feira, em reação ao ataque ao hospital em Gaza.

O Hospital Árabe al-Ahli foi a 11ª unidade de saúde em Gaza atingida por bombardeios desde o início da guerra entre Israel e Hamas no dia 7 de outubro, de acordo com levantamento do jornal americano The Washington Post.

Em todo o território palestino, a situação é grave. As condições no sul de Gaza estão piorando rapidamente e algumas pessoas deslocadas já consideram voltar para o norte, de onde acabaram de fugir após um ultimato israelense, segundo trabalhadores humanitários.

— O sul não é seguro — disse Shaina Low, do Conselho Norueguês para os Refugiados, numa entrevista por telefone a partir de Jerusalém. — Muitas pessoas estão dormindo nas ruas.

A agência da ONU de assistência aos refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) informou que um bombardeio israelense atingiu uma escola matando ao menos 6 pessoas e deixando dezenas de feridos. A escola mantida pela organização fica na região central do enclave e vinha servindo de abrigo para centenas de pessoas no campo de refugiados de Al-Maghazi.

— Isto é ultrajante e mostra mais uma vez um flagrante desrespeito pela vida dos civis. Nenhum lugar mais é seguro em Gaza, nem mesmo as instalações da UNRWA — afirmou Philippe Lazzarini, comissário-geral da agência.

Mais recente Próxima Chanceler de Lula vai ao Senado explicar posição do Brasil sobre conflito entre Israel e Hamas

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