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Por O Globo e agências internacionais — Boston

Uma carta assinada por mais de 30 grupos de estudantes de Harvard, depois do ataque terrorista do Hamas contra civis em Israel, incluindo centenas de jovens num festival de música, tem gerado perdas para a universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Os “eventos não ocorreram no vácuo”, escreveram os alunos, atribuindo a responsabilidade pela violência a Israel. Empresários cobraram uma resposta da instituição aos signatários da carta, pediram os nomes para não contratarem os envolvidos e, mais recentemente, encerraram vínculos e cortaram investimentos.

O ex-CEO da Victoria's Secrets Leslie Wexner anunciou, nesta segunda-feira, por exemplo, o fim da parceria de sua entidade de filantropia, a Fundação Wexner, com Harvard. Empresários como ele consideram que Harvard demorou a responder à carta dos estudantes.

"Estamos chocados e enojados com o lamentável fracasso da liderança da Harvard em tomar uma posição clara e inequívoca em relação aos bárbaros assassinatos de civis inocentes de Israel", afirmou a fundação, em nota. Para a entidade, a universidade "estava vacilando" e reagir à manifestação dos estudantes pró-governo palestino "não deveria ter sido tão difícil".

Antes de Wexner, empresários egressos de Harvard já haviam anunciado cortes. Na sexta passada, o bilionário israelense Idan Ofer — filho de Sammy Ofer, que fora em vida um dos homens mais ricos do Estado judeu — deixou o conselho executivo da universidade.

O Hamas controla Gaza desde 2007. Ganhou o poder no voto e na bala. Gaza virou um mundo à parte, base do extremismo palestino e principal frente da oposição violenta a Israel, como relatou Marcelo Nínio. O isolamento de Gaza aumentou o sofrimento de seus residentes, mas beneficiou o Hamas, que investiu em sua capacidade militar. Sob bloqueio de Israel — e também do Egito, com o qual Gaza divide um pedaço de sua fronteira — , o Hamas passou a ter um Estado de fato. Convencionou-se dizer que Gaza virou a maior prisão a céu aberto.

Desde o início do conflito, o governo palestino acusa Israel de bombardear serviços essenciais, como hospitais, escolas e instalações de saneamento. Tel Aviv impôs um "cerco total" de comida, água e energia na região, onde vivem mais de 2 milhões de pessoas, após a ofensiva terrorista do Hamas. A Organização das Nações Unidas (ONU) alerta que Gaza passa por uma crise humanitária, com escassez de suprimentos e hospitais sobrecarregados.

À medida em que a notícia da carta dos estudantes de Harvard se espalhou, aumentaram as reações dos colegas. As redes sociais de ex-alunos e a página inicial do tradicional jornal dos estudantes Harvard Crimson foram tomadas pela controvérsia que atraía pessoas como o investidor Bill Ackman e o ex-presidente da universidade e ex-Secretário do Tesouro no governo de Bill Clinton, Larry Summers.

Summers disse nas redes sociais que ficou “enojado” com o "fracasso" de Harvard em condenar os “ataques terroristas” do Hamas e comparou a "omissão" com a reação de Harvard à invasão da Ucrânia pela Rússia e à morte de George Floyd nas mãos de a polícia, um dos catalisadores do movimento Black Lives Matter.

Horas mais tarde, a atual presidente de Harvard, Claudine Gay, e outras estrelas de uma das mais prestigiadas universidades americanas emitiram uma carta intitulada “Guerra no Oriente Médio”. O documento fala da “morte e destruição desencadeada pelo ataque do Hamas, que teve como alvo cidadãos israelenses neste fim de semana, e pela guerra entre Israel e Gaza agora em curso”, mas não mencionou as opiniões dos estudantes.

O que, claro, gerou mais críticas.

Nem Harvard sabe ao certo o que falar sobre o conflito entre Hamas e Israel

Jason Furman, professor da Escola Kennedy, uma das mais celebradas de Harvard, que foi um dos principais conselheiros econômicos no governo de Barack Obama, escreveu no X (ex-Twitter) que se sentiu "compelido a falar abertamente (sobre a polêmica)".

“Reconhecer que matar centenas de inocentes é errado deveria ser um ponto de partida fácil”, disse Furman em um post.

As tensões em torno das opiniões sobre Israel e Palestina têm aumentado nos campi dos EUA, notadamente nas coroadas universidades de Yale, da Pensilvânia e da Califórnia, em Berkeley. A Liga Anti-Difamação, ONG judaica internacional sediada no país, denunciou que um "segmento estridente "de estudantes e professores americanos "com opiniões anti-Israel e antissionistas" tem aumentado expressivamente. Já os críticos de Israel argumentam que o ativismo aumentou devido às ações de um governo mais linha-dura e ao tratamento dispensado aos palestinos.

As universidades americanas têm debatido sobre como preservar o direito à liberdade de expressão e à liberdade acadêmica em meio os apelos a uma maior supervisão e reflexão sobre a linguagem usada e as ações de estudantes, professores e administradores.

Conflito em Israel:

Alguns estudantes de Berkeley defenderam abertamente o apoio aos ataques terroristas do Hamas e o reitor da Faculdade de Direito, Erwin Chemerinsky, afirmou que eles têm o direito de expressar a sua opinião.

“Por mais que deteste aqueles que defendem o que o Hamas fez, também apoio o direito à liberdade de expressão para o fazer”, disse Chemerinsky, coautor de "Free Speech on Campus". “É uma situação muito difícil. As emoções estão elevadas”.

Críticas a Israel não podem significar apoio ao terrorismo, diz Summers

Na Universidade de Nova York (NYU), o reitor da Faculdade de Direito, Troy McKenzie, emitiu um comunicado afirmando que uma mensagem do presidente da Ordem dos Advogados Estudantis – que também culpou Israel pelo conflito – não reflete a posição da NYU sobre o conflito.

“E certamente não expressa os meus próprios pontos de vista, pois condeno o assassinato de civis e os atos de terrorismo, sempre repreensíveis”, disse McKenzie.

O escritório de advocacia Winston & Strawn, especializado por Direito Internacional, rescindiu uma oferta de emprego a um estudante após saber de seus "comentários inflamatórios”.

Summers, que além de professor da Universidade de Harvard é colaborador da Bloomberg TV, diz que não há nada de errado em criticar a política israelense, mas que isso é “muito diferente da falta de clareza em relação ao terrorismo”.

Um grupo de organizações ligadas à Universidade de Harvard, incluindo Hillel – o centro judaico da escola – e o Ice Hockey Club, assinaram uma petição instando a universidade a denunciar as ações do Hamas. Nesta terça-feira, contava com mais de 3.000 assinaturas.

A presidente de Harvard, Claudine Gay, divulgou outra declaração no mesmo dia, na qual denunciou explicitamente o ataque e citou a carta dos estudantes.

“À medida que os acontecimentos dos últimos dias continuam a repercutir, não há dúvidas de que condeno as atrocidades terroristas perpetradas pelo Hamas”, disse Claudine. “Tal desumanidade é abominável, quaisquer que sejam as opiniões individuais sobre as origens dos conflitos de longa data na região.”

“Permitam-me também afirmar que, embora nossos estudantes tenham o direito de falar por si próprios, nenhum grupo estudantil fala pela Universidade de Harvard ou por seu comando”, disse ela.

Há quem defenda que Harvard vá mais longe.

Bill Ackman – ele mesmo um ex-aluno de Harvard – escreveu em uma postagem no X que lhe perguntaram se a universidade divulgaria uma lista com os nomes dos que assinaram a carta para que os empregadores possam evitar contratá-los.

“Não se deveria poder esconder atrás de um escudo corporativo ao emitir declarações de apoio às ações de terroristas”, disse.

Summers, no entanto, opôs-se a isso numa entrevista na última quarta-feira na Bloomberg Television, dizendo que Ackman estava “exagerando um pouco”. Pedir listas de nomes é “coisa de Joe McCarthy”, disse ele, se referindo ao macarthismo, a caça às bruxas contra esquerdistas iderada pelo senador ultra-conservador durante a Guerra Fria.

Em Harvard, alguns estudantes "podem ter agido precipitadamente ou não compreenderam totalmente o que estavam assinando", disse Summers. Ele acolheu favoravelmente os últimos comentários de Claudine Gay e disse: “Temos que manter a temperatura baixa”.

O jornal Harvard Crimson, dos estudantes, informou que, na noite da última terça-feira, pelo menos cinco dos 34 grupos originais que assinaram a controversa carta retiraram o seu apoio à mesma.

Protestos em outras universidades

Enquanto Harvard enfrentava duras críticas de políticos, acadêmicos e grupos judaicos, outras universidades começavam a viver a realidade dos protestos causados pela polêmica.

Na noite da última segunda-feira, uma vigília foi organizada por estudantes pró-Israel na Universidade da Flórida. No dia seguinte, na Universidade do Estado da Califórnia, em Long Beach, um grupo de estudantes realizou um protesto pró-Palestina. E a organização estudantil Bears for Palestine, em Berkely, organizou uma vigília no campus para "lamentar o assassinato de nossos mártires na Palestina", na sexta-feira.

Com várias declarações semelhantes de grupos de estudantes pró-Palestina, vários presidentes de universidades emitiram notas país afora que colocam a culpa pelo conflito firmemente no Hamas.

No sábado, Ron Liebowitz, presidente da Universidade Brandeis, uma das mais importantes na área de Humanas no Massachusetts, soltou declaração condenando "o terrorismo, como o que vimos hoje, perpetrado contra civis inocentes".

E uma declaração na última terça-feira da NYU condenou o "assassinato indiscriminado de civis" como "repreensível" mas reconheceu que a violência "provavelmente intensificará os sentimentos daqueles que, em nosso campus, têm opiniões fortes sobre o conflito".

(Com NYT e Bloomberg)

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