O Parlamento Europeu atribuiu nesta quinta-feira o Prêmio Sakharov para a Liberdade de Consciência a Mahsa Amini, jovem iraniana que morreu no ano passado enquanto estava sob custódia policial, e ao movimento "Mulher, Vida e Liberdade", nascido no país após os protestos causados por sua morte. Ao fazer o anúncio, a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, disse que Amini desencadeou "um movimento liderado por mulheres que está fazendo história".
O anúncio ocorreu apenas duas semanas depois de a ativista iraniana Narges Mohammadi, de 51 anos, atualmente presa no país, ter recebido o Prêmio Nobel da Paz "pela sua luta contra a opressão das mulheres no Irã e pela sua luta para promover os direitos humanos e a liberdade para todos". A premiação causou revolta no regime iraniano.
Nesta quinta, a presidente do Parlamento Europeu afirmou que o prêmio foi uma "homenagem às mulheres, homens e jovens no Irã que, apesar de estarem sob pressão crescente, lideram o impulso para a mudança".
— O dia 16 de setembro de 2022 [quando a jovem foi morta] é uma data que permanecerá na infâmia — disse Metsola. — O movimento Mulher, Vida e Liberdade [que surgiu no Irã após a morte] baseia-se em três palavras que se tornaram um slogan de todos aqueles a favor da igualdade, da dignidade e da liberdade no Irã.
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A jovem curda foi presa no ano passado pela polícia da moralidade do Irã por supostamente violar o código de vestimenta do país, que exige que as mulheres cubram a cabeça com um véu e usem roupas discretas. Amini, de 22 anos, morreu três dias depois, enquanto estava sob custódia policial. Sua morte provocou uma onda de protestos em todo o Irã e deu origem ao movimento.
As manifestações e protestos, no entanto, foram severamente reprimidos. Diante deste cenário, a UE adotou sanções contra os responsáveis pela repressão, incluindo altos dirigentes do órgão especial Guarda Revolucionária do Irã.
No mês passado, o Parlamento iraniano aprovou um projeto de lei que endurece ainda mais as penas para meninas e mulheres que não usarem o véu obrigatório em locais públicos. A nova legislação, que terá um tempo experimental de três anos, estabelece que aquelas que forem denunciadas ou apanhadas violando o código de vestimenta iraniano sofrerão punição de “quarto grau” — o que significa entre cinco e dez anos de prisão e multas de até US$ 7,3 mil.
O Prêmio Sakharov para a Liberdade de Consciência é atribuído anualmente pelo Parlamento Europeu e presta homenagem ao físico nuclear e dissidente soviético Andrei Sakharov, vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 1975. O prêmio é acompanhado por uma recompensa de 50 mil euros (cerca de R$ 267 mil) e será entregue no dia 13 de dezembro.
O vencedor é decidido por votação no chamado Colégio de Presidentes, que reúne o líder do Parlamento Europeu e os chefes dos blocos partidários. No processo de seleção, Amini e o movimento inspirado nela obtiveram o apoio enfático dos três maiores blocos políticos representados no Parlamento Europeu.
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