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Quase 150 caminhões com ajuda humanitária aguardavam sinal verde para entrar em Gaza pela fronteira com o Egito nesta sexta-feira, dois dias após o país autorizar a passagem de suprimentos básicos para o enclave palestino. As autoridades locais, no entanto, adiaram a entrega "para o próximo dia ou depois" e afirmaram que somente 20 deles serão autorizados a cruzar a fronteira por Rafah. A medida suscitou apelos contundentes de organizações internacionais e das Nações Unidas, que falam em uma demanda diária cinco vezes maior para atender às necessidades básicas dos cerca de 2,3 milhões de pessoas que vivem na região e enfrentam um “certo total” desde 7 de outubro, depois que Israel foi atacado de surpresa pelo Hamas por terra, céu e mar, deixando 1.400 mortos.

Egito e Israel alegam que a abertura de um corredor humanitário por Rafah poderia facilitar o transporte de armas e munições para o grupo terrorista palestino— que, acredita-se, é apoiado pelo Irã — e servir também como rota de fuga para seus combatentes. O Cairo ainda teme que haja um afluxo de grandes proporções de palestinos para o seu território, o que o governo de Abdul Fatah al-Sisi pretende bloquear. Em paralelo, uma resolução sobre a guerra apresentada pelo Brasil no Conselho de Segurança da ONU foi vetada pelos Estados Unidos, contrários a uma pausa humanitária imediata na região para assegurar o direito de resposta militar de Israel aos ataques terroristas.

Planejar uma missão de ajuda humanitária pode demorar semanas ou até meses, dependendo de seu porte e do número de trabalhadores envolvidos. Mas em uma região como os territórios palestinos, que há décadas são palco de acirradas disputas, a resposta tende a ser imediata, já que muitas organizações internacionais operam no terreno há anos, explica Nathalia Quintiliano, consultora para projetos humanitários implementados no Oriente Médio. Apesar da infraestrutura disponível, os estoques estão se esgotando, devido ao bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza, e se um corredor humanitário não for aberto imediatamente haverá “uma catástrofe ainda maior”, alerta.

— As organizações humanitárias estão preparadas para atuar no conflito, mas não têm estoque para todo esse tempo — diz Quintiliano em entrevista ao GLOBO. — Temos insumos, temos infraestrutura, mas a fronteira não abre. É uma situação muito triste.

Uma das frentes humanitárias que aguardam a autorização para atravessar Rafah é a do Programa Mundial de Alimentos da ONU, cujo montante de suprimentos prontos para entrega na região gira em torno de 3 mil toneladas — uma carga que corre o risco de ser parcialmente descartada caso não seja consumida logo, já que contém itens perecíveis.

Além da demora para liberar a fronteira, é preciso considerar o tempo de fiscalização da carga, explica Quintiliano. Segundo a consultora, que tem ampla experiência na área, com passagens pela Síria e o Iêmen, mecanismos de inspeção e monitoramento são fundamentais e fazem parte da rotina dos trabalhadores humanitários. É uma espécie de “selo de garantia” da natureza humanitária do material — em corredores controlados pela ONU, essa fiscalização é feita pela organização; em Gaza, porém, deverá ser feita pelas autoridades egípcias e israelenses, ao menos neste primeiro momento.

Quintiliano destaca ainda o tempo de deslocamento dos comboios pelo território palestino — uma vez que nem todos os civis migraram para o sul de Gaza, como ordenado por Israel — e a falta de segurança à qual estão submetidos, pois o terreno continua perigoso, com uma perspectiva bastante remota de cessar-fogo, e nem mesmo o sul do enclave está livre de ataques das forças israelenses.

— No momento, toda a ajuda humanitária em Gaza é em escala muito pequena, devido ao bloqueio [imposto por Israel e o Egito] — afirma Mike Noyes, líder humanitário da ActionAid Reino Unido que está envolvido nas coordenações dos esforços humanitários da ONG em Gaza. — Não é possível dar dinheiro para as pessoas, por exemplo, porque elas não têm onde comprar os suprimentos e nem sempre é possível sair de casa em segurança.

Doações em moeda local são uma prática comum entre organizações humanitárias nas regiões de conflito. A iniciativa é um complemento à entrega de suprimentos específicos como água, comida e remédios, e facilita o acesso dos beneficiários aos itens que mais lhes fazem falta naquele momento, além de movimentar a economia local, explica Noyes.

A expectativa é de que ao menos 20 caminhões com ajuda humanitária atravessem a fronteira do Egito rumo a Gaza nesta sexta-feira, mas para atender às necessidades de um população de mais de 2 milhões, “20 caminhões não irão muito longe”, alerta Noyes. Além disso, Israel também limitou os itens que poderão ser transportados para o enclave.

— Nossa preocupação é com o que não está entrando, bem como com a pequena quantidade do que está entrando — pondera o líder humanitário da ActionAid. — Alimentos e suprimentos médicos serão permitidos, mas combustível não. E sem combustível não há geradores nem eletricidade, portanto os hospitais, as redes de telefonia e o bombeamento de água potável não podem funcionar.

Toda a população de Gaza está sem fornecimento de eletricidade, alimentos, combustível e água há mais de uma semana sob um "cerco total" ordenado por Israel após os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro. Os bombardeios incessantes das forças israelenses já deixaram centenas de milhares de desabrigados e provocaram protestos crescentes em todo o Oriente Médio, aumentando os temores de que a guerra possa se transformar em um conflito regional mais amplo.

— Há 50 mil mulheres grávidas em Gaza no momento, e a Organização Mundial da Saúde recomenda que essas mulheres precisam de cerca de sete litros e meio de água por dia. Os suprimentos atuais em Gaza, são de apenas três litros por dia, em média, mas muitas pessoas estão recebendo apenas um — alerta Noyes. — A isso se soma a falta de moradia. Milhares de pessoas que se mudaram do norte para o sul, após a ordem de retirada dada por Israel, estão dormindo ao relento. As condições são tão ruins que muitos decidiram voltar para casa e correr o risco.

Conflito em Israel:

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