Alunos que tiveram Javier Milei como professor na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Nacional de Buenos Aires (UBA) lembram que o agora candidato presidencial da extrema-direita argentina sempre foi impulsivo, com tendência a zangar-se quando é contrariado, e temperamental. Esse mesmo Milei tornou-se um personagem frequente em programas de debate na TV nacional, e até mesmo em peças de teatro nas quais, em épocas em que ninguém imaginava que faria uma carreira política, já dizia que o Banco Central devia ser destruído. Tudo o que Milei defende como candidato é conhecido faz tempo pelos que o seguem nas redes sociais, onde sua presença é dominante e expressiva há muitos anos.
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Mas Milei não era levado a sério pela política argentina que tanto abominava. Isso mudou nas Legislativas de 2021, quando foi eleito deputado, com 17% dos votos na cidade de Buenos Aires, representando o partido que acabara de fundar, A Liberdade Avança. Naquele momento, Milei iniciou sua campanha pela Presidência, considerada um delírio por analistas e jornalistas locais, que, em muitos casos, subestimaram a força do candidato — e ridicularizaram seus eleitores — até as Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (Paso) de 13 de agosto passado. O candidato ficou em primeiro lugar e, somente então, o sistema político assimilou o fato de que o primeiro outsider da História da Argentina tem chance de ser presidente.
Até entrar para a política, Milei trabalhou como assessor de grandes grupos econômicos, que, segundo fontes de sua equipe, ajudaram a financiar sua campanha, entre outros.
Milei é uma figura exótica, em vários sentidos. Nunca se casou, mora com cinco cachorros e sua principal colaboradora é sua irmã, Karina, que o candidato chama de “chefe”. Até anunciar em setembro um midiático namoro com a humorista Fátima Florez, famosa por imitar Cristina Kirchner, o líder de extrema-direita dizia que, se fosse eleito, sua irmã seria primeira-dama.
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Milei, que tem apelidos como leão e peruca (o candidato jura que seu cabelo é natural), tem uma conexão emocional com seus seguidores. Em seus atos de campanha, seus seguidores gritam “serra elétrica” — um dos símbolos da campanha — quando o candidato fala em acabar com os privilégios da casta política, entre outras promessas.
Bolsonaro e Trump
Milei adotou o judaísmo como religião, tem como tutor um rabino marroquino, e já avisou que, se for presidente, seu alinhamento será com os Estados Unidos e Israel. Muitas de suas decisões, confirmaram ex-colaboradores do candidato, são tomadas com base no tarô, uma das ferramentas usadas por sua irmã para, por exemplo, determinar se aliados e colaboradores são ou não confiáveis.
Milei já foi cantor de rock, goleiro do clube Chacarita e assessor de políticos. Como candidato, seus assessores são, em sua grande maioria, jovens sem experiência política, que nos últimos dois anos turbinaram a campanha de Milei nas redes sociais. As principais inspirações políticas do candidato são, na Argentina, os governos do peronista Carlos Menem (1989-1999), e, no exterior, os de Jair Bolsonaro e Donald Trump.
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