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Por — Buenos Aires

O sucessor do presidente Alberto Fernández — que segundo pesquisas tem 80% de desaprovação — receberá, no dia 10 de dezembro, uma Argentina que é terra arrasada. Os indicadores sociais, econômicos e financeiros são dramáticos. E o processo inédito de fragmentação da política obrigará o futuro chefe de Estado, seja Sergio Massa — que é ministro da Economia — seja o opositor ultraliberal populista Javier Milei, a encarar difíceis negociações no Congresso. Até o fechamento desta edição, com 81% das urnas apuradas, esse era o cenário para o segundo turno do dia 19 de novembro.

Para a sociedade argentina, o maior problema a ser resolvido é, sem dúvida, a inflação. Nos últimos quatro meses, o país registrou aumento do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) de dois dígitos, e, segundo analistas, poderia estar caminhando para uma nova hiperinflação. Seria, se de fato ocorrer, a quarta hiperinflação que o país teria em menos de 50 anos: a primeira foi em 1975; a segunda, em 1989 (que obrigou o então presidente Raúl Alfonsín a antecipar em seis meses sua saída do poder); e a terceira, em 1990, já no governo do presidente peronista de direita Carlos Menem (1989-1999).

Mais grave que em 1989

Entre abril de 1989 e março de 1990, a Argentina acumulou inflação de 20.263%, e a lembrança de uma época conturbada do ponto de vista político e econômico ainda é forte entre os argentinos que têm mais de 40 anos. Muitos temem que a História se repita, e num cenário muito mais trágico do ponto de vista social. Atualmente, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec, o IBGE local), a taxa de pobreza atinge 41%. Em outubro de 1989, dados do Centro de População, Emprego e Desenvolvimento da Universidade Nacional de Buenos Aires indicavam que 38% dos argentinos viviam abaixo da linha da pobreza.

Na crise dos anos de 2001 e 2002, época em que o país viveu dramas como o confisco dos depósitos bancários e calote da dívida pública, a taxa de pobreza chegou a superar 50%. Mas a grande diferença de todas as crises anteriores é que atualmente mais de 40% dos argentinos não podem satisfazer suas necessidades básicas de alimentação, mesmo sendo beneficiados por programas de ajuda social do governo — que se multiplicaram durante os governos de Néstor e Cristina Kirchner, entre 2003 e 2015 — ou tendo emprego, formal ou informal. Trabalhadores também são pobres, algo inédito para o país .

— Sem a ajuda social do governo, a taxa de pobreza dispararia, e isso não existia em 1989 nem em 2001 — aponta Mario Riorda, presidente da Associação Latino-Americana de Pesquisas em Campanhas Eleitorais, (Alice, na sigla em espanhol).

Entre setembro de 2022 e o mesmo mês de 2023, a inflação foi de 138,9%. Mês passado, a inflação chegou a 12,8%. Nos primeiros nove meses do ano, a inflação acumulada foi de 103,2%, e as projeções para o ano de 2023 oscilam entre 140% e 190%.

Os presidentes argentinos desde 1983

Os presidentes argentinos desde 1983

Os argentinos vivem com a sensação de que os preços estão descontrolados, e um dos comentários mais frequentes em conversas informais é “os preços não têm mais sentido, ninguém sabe o que é caro e o que é barato”. E o dólar é outro enorme problema para o próximo governo.

O presidente Fernández assumiu o poder, em dezembro de 2019, com uma cotação do dólar paralelo ou blue em torno de 80 pesos. Na sexta-feira a cotação do blue chegou a bater 1.300 pesos em operações realizadas através de grupos de WhatsApp — em meio a ações do governo para limitar as atividades das casas de câmbio, as chamadas cuevas (cavernas). A expectativa do mercado, disseram fontes do setor financeiro, é de que a desvalorização do peso se acelere nos próximos dias e semanas, o que provocará, também, um aumento da inflação, já que todos os preços da economia argentina estão vinculados às oscilações do dólar, e sobretudo do blue — que convive com outros cerca de 50 tipos de dólar.

Congresso fragmentado

O governo de Fernández, que enfrentou a pandemia da Covid-19 e a pior seca sofrida pelo país nos últimos cem anos, encerrará seu período com queda do PIB, segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), de 2,5%.

Na arena política, o futuro governo também terá enormes desafios, num cenário inédito de fragmentação. Segundo explica a analista Ana Iparraguirre, da GBAO Strategies, “a chegada de Javier Milei à política nacional provocou uma mudança de época, e terminou com o bipartidismo entre peronismo e antiperonismo”. As negociações serão mais complexas.

— Teremos muitas mudanças. Um Congresso Nacional muito mais diverso, e, pela primeira vez, o peronismo terá menos governadores do que a aliança opositora Juntos pela Mudança. Negociar será essencial para todos — comenta Iparraguirre.

Mais recente Próxima Massa diz que, se eleito, fará um governo de união nacional

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