Por 20 meses, o governo do presidente americano, Joe Biden, buscou estabelecer uma "superioridade moral" em relação à Rússia, condenando a guerra brutal contra a Ucrânia e a morte indiscriminada de civis. O argumento ressoou em grande parte do Ocidente, mas teve menos força em outras partes do mundo. No Sul Global, a guerra foi muitas vezes percebida como um conflito entre grandes potências e não houve adesão a sanções e ao isolamento de Moscou defendido por Washington. Agora, enquanto Israel bombardeia a Faixa de Gaza, matando mais de 4,3 mil pessoas desde 7 de outubro, o apoio inabalável de Biden aos israelenses corre o risco de criar novos obstáculos aos seus esforços para conquistar a opinião pública global.
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Em discurso no Salão Oval da Casa Branca, na quinta-feira, Biden igualou o apoio americano à Ucrânia e a Israel, descrevendo as duas nações como democracias que lutam contra inimigos determinados a “aniquilá-los completamente”. A Rússia invadiu e pretende anexar parte do territóiro da Ucrânia, enquanto o Hamas, grupo que controla Gaza e nega o direito de existência de Israel, deflagrou um ataque terrorista que matou pelo menos 1,4 mil pessoas no sul do país.
Mas o contra-ataque de Israel a Gaza, a iminente uma invasão terrestre em larga escala e o forte apoio dos EUA ao seu mais importante aliado no Oriente Médio, independentemente disso, motivaram acusações de hipocrisia.
![Cratera após um ataque russo no centro da cidade de Kharkiv, no leste da Ucrânia — Foto: Sergey Bobok/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/avPVo4TV-qr_lfJdVWHO6xqQWuQ=/0x0:6048x4024/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/4/w/O3P2sdSZ6TEauCvAAHAg/104571809-this-photograph-taken-on-october-6-2023-shows-a-crater-after-a-russian-strike-to-the-centr-1-.jpg)
Tais acusações não são propriamente novas no conflito do Oriente Médio. Mas a dinâmica da crise dupla foi além do desejo de Washington de reunir apoio global para isolar e punir a Rússia por invadir o seu vizinho europeu.
Cada vez mais, o Oriente Médio se torna uma frente renovada na luta por mais influência no Sul Global, opondo o Ocidente à Rússia e à China.
— A guerra no Oriente Médio aumenta o fosso crescente entre o Ocidente e países como o Brasil e a Indonésia, estados-chave do Sul Global — afirmou Clifford Kupchan, presidente da organização de avaliação de risco Eurasia Group. — Isso tornará a cooperação internacional na Ucrânia, assim como a aplicação de sanções à Rússia, ainda mais difícil.
Críticas de Lula e Widodo
O presidente da Indonésia, Joko Widodo, líder da nação muçulmana mais populosa do mundo — e que não reconhece Israel —, condenou as “injustiças em curso contra o povo palestino”. "A guerra em Gaza só irá piorar a situação global", disse ele, ameaçando apoiar o aumento dos preços do petróleo depois de a guerra na Ucrânia já ter desacelerado as exportações de trigo.
Guerra entre Israel e Hamas: na Faixa de Gaza, conflito mata e afeta crianças
![Mulher palestina carrega criança no colo em meio aos escombros na Faixa de Gaza — Foto: Said Khatib/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/ZQRKbMWbROSkWnSGeetZQY3s2os=/0x0:7926x5284/648x248/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/J/I/WZxmP7Rf2iF9n06DzKFw/mulherpalestinaseguracriancanocolo-saidkhatib.jpg)
![Mulher palestina carrega criança no colo em meio aos escombros na Faixa de Gaza — Foto: Said Khatib/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/bMSV81mI2cFHDfy5RY41iEyA5Sw=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/J/I/WZxmP7Rf2iF9n06DzKFw/mulherpalestinaseguracriancanocolo-saidkhatib.jpg)
Mulher palestina carrega criança no colo em meio aos escombros na Faixa de Gaza — Foto: Said Khatib/AFP
![Crianças palestinas buscam água em campos de fornecimento na Faixa de Gaza — Foto: Mohammed Abed/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/5q6kkaWl1qFpAjUv1T3Z0oPt5JY=/0x0:8192x5464/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/U/9/bhLpIeQOiC8shmeyb24Q/criancascarregandoagua-mohammedabed.jpg)
![Crianças palestinas buscam água em campos de fornecimento na Faixa de Gaza — Foto: Mohammed Abed/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/i0ywxqilStMko7JsF91B1USBwvM=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/U/9/bhLpIeQOiC8shmeyb24Q/criancascarregandoagua-mohammedabed.jpg)
Crianças palestinas buscam água em campos de fornecimento na Faixa de Gaza — Foto: Mohammed Abed/AFP
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![Crianças e adolescentes palestinos após ataques aéreos de Israel à Faixa de Gaza — Foto: Said Khatib/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/MlOnhY5Eb6_ehP6fPntDSCkYkAM=/0x0:4108x2739/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/H/z/YitOfiSHAB09j6E3fA3w/homemcarregacriancanosescombros-saidkhatib.jpg)
![Crianças e adolescentes palestinos após ataques aéreos de Israel à Faixa de Gaza — Foto: Said Khatib/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/ikEXQEBRF2WA3dVtiXoq2uwMQkM=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/H/z/YitOfiSHAB09j6E3fA3w/homemcarregacriancanosescombros-saidkhatib.jpg)
Crianças e adolescentes palestinos após ataques aéreos de Israel à Faixa de Gaza — Foto: Said Khatib/AFP
![Carro com crianças em meio aos destroços na Faixa de Gaza — Foto: Said Khatib/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/aKGkKSFSn4LBb7Mdfn4PCuEWVy0=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/K/o/7x95dbR1GhNA8qBvka1g/criancasemcarroquepassapelafaixadegaza-saidkhatib.jpg)
Carro com crianças em meio aos destroços na Faixa de Gaza — Foto: Said Khatib/AFP
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![Pai palestino com seus filhos em destroços na Faixa de Gaza, após bombardeio de Israel — Foto: Said Khatib/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/HIsuCg_WVYjsL9hO4XicNBfonO0=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/w/9/yzr5k8SOmwJKAjBa7A5w/familiapalestinanosescombros-saidkhatib.jpg)
Pai palestino com seus filhos em destroços na Faixa de Gaza, após bombardeio de Israel — Foto: Said Khatib/AFP
![Com guerra entre Israel e Hamas, famílias palestinas estão sem fornecimento de água, luz ou alimentos; na foto, criança busca garrafas de água — Foto: Mohammed Abed/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/AawgdbUgg5xGdl0xR6mn_5ztops=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/C/f/x1261TR9iAYbEpptHfAQ/criancacarregagarrafasdeagua-mohammedabed.jpg)
Com guerra entre Israel e Hamas, famílias palestinas estão sem fornecimento de água, luz ou alimentos; na foto, criança busca garrafas de água — Foto: Mohammed Abed/AFP
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![Crianças palestinas em ponto de distribuição de água na Faixa de Gaza, durante guerra entre Israel e Hamas — Foto: Mohammed Abed/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/9GUX_1Ypc5vPwQqtLf-1GntNApg=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/Z/5/sxbyS0Rpu1JgIKDvvtDQ/criancasempontodecoletadeagua-mohammedabed.jpg)
Crianças palestinas em ponto de distribuição de água na Faixa de Gaza, durante guerra entre Israel e Hamas — Foto: Mohammed Abed/AFP
![Família palestina espera por atendimento em hospital na Faixa de Gaza — Foto: Said Khatib/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/XIQ-WcTmyZQ4mwxLPNh2ioZP0gQ=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/r/J/TDWgINQ5iPOuww4T3YTQ/familiapalestinaesperanohospital-saidkhatib.jpg)
Família palestina espera por atendimento em hospital na Faixa de Gaza — Foto: Said Khatib/AFP
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No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o fornecimento de armas dos EUA à Ucrânia como “incentivo” à guerra, mas culpou os dois lados pelo conflito e ofereceu-se para mediar. O Brasil, como presidente rotativo do Conselho de Segurança das Nações Unidas este mês, elaborou uma resolução de cessar-fogo humanitário em Gaza, que também condenou explicitamente “hediondos ataques terroristas do Hamas”.
Após os EUA terem vetado a resolução por, segundo Washington, não mencionar o direito de Israel à autodefesa, o embaixador do Brasil nas Nações Unidas, Sérgio França Danese, expressou frustração.
Crianças 'brincam' de guerra na Ucrânia
![Crianças 'brincam' como se estivessem em trincheira da guerra na Ucrânia - Foto: Sergei Supinsky/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/31BkqnT0glmUVZIN8AFi4DsDCII=/0x0:8256x5504/648x248/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/W/a/lmwih1QDeNbLeL9sLpnA/33fc3gz-highres-1-.jpg)
![Crianças 'brincam' como se estivessem em trincheira da guerra na Ucrânia - Foto: Sergei Supinsky/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/TmggsvsV3SHilhKGxJLyAnHJQNs=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/W/a/lmwih1QDeNbLeL9sLpnA/33fc3gz-highres-1-.jpg)
Crianças 'brincam' como se estivessem em trincheira da guerra na Ucrânia - Foto: Sergei Supinsky/AFP
![Meninos usam roupas camufladas e armas de plástico para emular guerra em brincadeiras — Foto: Sergei Supinsky/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/fcKJ1_hi9Zp-CbrUzibuB8RyQ-A=/0x0:5076x3680/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/s/b/l5qVlWTuC3qAJlYjQTZw/33fc3xd-highres.jpg)
![Meninos usam roupas camufladas e armas de plástico para emular guerra em brincadeiras — Foto: Sergei Supinsky/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/emGntSKxSvLZIyT39bjqGhfC1hw=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/s/b/l5qVlWTuC3qAJlYjQTZw/33fc3xd-highres.jpg)
Meninos usam roupas camufladas e armas de plástico para emular guerra em brincadeiras — Foto: Sergei Supinsky/AFP
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![Crianças usam coletes à prova de balas feitos em casa durante 'brincadeiras' de guerra — Foto: Sergei Supinsky/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/sFd2hykmx5LFiP1fPn2hYfgU_N0=/0x0:8256x5504/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/I/0/RDmyoYQ7C5kLinNRisIQ/33fc3xj-highres.jpg)
![Crianças usam coletes à prova de balas feitos em casa durante 'brincadeiras' de guerra — Foto: Sergei Supinsky/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/ew-N83vu3X242HvSRnkx__eFgNk=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/I/0/RDmyoYQ7C5kLinNRisIQ/33fc3xj-highres.jpg)
Crianças usam coletes à prova de balas feitos em casa durante 'brincadeiras' de guerra — Foto: Sergei Supinsky/AFP
![Psicólogos afirmam que crianças 'brincam' de guerra para poderem 'processar vivências' em meio ao conflito — Foto: Sergei Supinsky/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/xccPwG196d3_RqHTOC-uMnF3hjo=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/v/G/ExNKSKT6Gk3Flzej3Smw/33fc439-highres.jpg)
Psicólogos afirmam que crianças 'brincam' de guerra para poderem 'processar vivências' em meio ao conflito — Foto: Sergei Supinsky/AFP
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![Crianças conversam em parque enquanto outra 'brinca' de guerra, nos arredores de Kiev — Foto: Sergei Supinsky/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/VY0ena4mIyN7L9nlUStCn0RhobY=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/7/2/xyqtuVRB2A0AEZjshVYA/33fc3le-highres.jpg)
Crianças conversam em parque enquanto outra 'brinca' de guerra, nos arredores de Kiev — Foto: Sergei Supinsky/AFP
![Crianças usam roupas militares e armas de plástico nos arredores de Kiev — Foto: Sergei Supinsky/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/OFRevUv4ITMsDW3H9mC2O5TJAqs=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/9/2/w7B1mOTmayTAgDr19YPQ/33fc3jv-highres.jpg)
Crianças usam roupas militares e armas de plástico nos arredores de Kiev — Foto: Sergei Supinsky/AFP
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![Andriy Shyrokyh, de 13 anos, e Maksym Mudrak, de 10 anos, vestindo uniformes de combate e coletes à prova de bala feitos em casa, nos arredores de Kiev — Foto: Sergei Supinsky/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/NF2VD6OcxinX7EoOt1ikytYlWkE=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/e/h/6LrbS9SiS0QwH1Qm2Fqw/33fc3jl-highres.jpg)
Andriy Shyrokyh, de 13 anos, e Maksym Mudrak, de 10 anos, vestindo uniformes de combate e coletes à prova de bala feitos em casa, nos arredores de Kiev — Foto: Sergei Supinsky/AFP
![Brincadeiras infantis na Ucrânia foram afetadas por invasão russa - Foto: Sergei Supinsky/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/76XbiZLGMorM6_7ob8hvB4SbTKU=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/P/Q/L6mdMpSMaH6jgCTAFHdQ/33fc3lw-highres-1-.jpg)
Brincadeiras infantis na Ucrânia foram afetadas por invasão russa - Foto: Sergei Supinsky/AFP
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— Centenas de milhares de civis em Gaza não podem esperar mais — disse ele. — Na verdade, eles (já) esperaram muito tempo.
Nesta segunda-feira, Lula falou com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, sobre os conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio. Por telefone, os dois presidentes concordaram quanto à necessidade de que Israel cesse os bombardeios na Faixa de Gaza e que haja uma imediata libertação dos reféns feitos pelos Hamas, de acordo com comunicado emitido pelo Itamaraty.
Dois pesos, duas medidas
Líderes árabes – incluindo o presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi, o rei da Jordânia, Abdullah II, e o ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, o príncipe Faisal bin Farhan al-Saud – atacaram o que chamaram de "padrões duplos", em discursos na Cúpula de Paz do Cairo, no sábado.
— Em qualquer outro lugar, atacar infraestruturas civis e deixar deliberadamente uma população inteira sem alimentos, água e necessidades básicas seria condenado, e a responsabilização seria imposta — disse o rei Abdullah. — O direito internacional perde todo o valor se for implementado de forma seletiva.
Os palestinos criticaram os maiores centros de poder do Ocidente por não expressarem indignação ao bombardeio de Gaza "similar" a que apontaram quando dos ataques com mísseis russos contra cidades e infraestruturas ucranianas, classificados como “bárbaros” e “crimes contra a humanidade”.
Quando a guerra na Ucrânia eclodiu, os palestinos ficaram exultantes com a posição dura assumida pelas capitais ocidentais contra "um país que ocupava terras de outro", afirmou Nour Odeh, comentarista político palestino baseado em Ramala.
![Imagens aéreas mostram destruição ao sul de Gaza após bombardeios Imagens aéreas mostram destruição ao sul de Gaza após bombardeios](https://s01.video.glbimg.com/x240/12046868.jpg)
Imagens aéreas mostram destruição ao sul de Gaza após bombardeios
— Mas parece que a ocupação só é ruim se os caras que a fazem não estiverem do seu lado — afirmou.
De certa forma, o conflito de Gaza tem sido uma bênção pro Kremlin, afastando os holofotes da guerra na Ucrânia e fortalecendo a imagem da Rússia no Oriente Médio e no Sul Global. Nos últimos anos, o presidente Vladimir Putin tem procurado restaurar parte da influência perdida da antiga União Soviética na região, intervindo militarmente em guerras civis na Síria e na Líbia. Ele fortaleceu enormemente os laços com o Irã, país que Israel considera uma ameaça à sua segurança nacional.
![Imagens aéreas mostram destruição após recaptura de Robotyne, no sul da Ucrânia Imagens aéreas mostram destruição após recaptura de Robotyne, no sul da Ucrânia](https://s03.video.glbimg.com/x240/11999674.jpg)
Imagens aéreas mostram destruição após recaptura de Robotyne, no sul da Ucrânia
O apoio russo ao Hamas tem sido visto como uma extensão desses esforços, e Putin tem comparado o cerco de Gaza ao de Leningrado, na Segunda Guerra Mundial, símbolo sagrado na Rússia por conta da resistência aos nazistas.
A China também tem procurado expandir sua influência no Oriente Médio, tendo recentemente mediado um acordo entre o Irã e a Arábia Saudita para restaurar as relações entre os países. Rússia e China se recusaram a condenar oficialmente o Hamas. Em vez disso, criticaram o tratamento dispensado por Israel aos palestinos, especialmente a decisão de cortar água e eletricidade de Gaza. E destacaram o número de mortes de civis. Os dois países pediram mediação internacional e um cessar-fogo.
Olhar para o Sul Global
Um estado independente palestino é defendido há tempos no Sul Global e a guerra em Gaza apenas aumentou ressentimentos na África, Ásia e América Latina de que o Ocidente trata a Ucrânia como um caso especial por se tratar de "um conflito europeu". Critica-se o montante gasto em armamentos para a Ucrânia, enquanto os objetivos de desenvolvimento internacional, argumenta-se, são ignorados.
— [Há uma percepção de que o Ocidente] preocupa-se mais com os refugiados ucranianos, com o sofrimento dos civis ucranianos, do que de refugiados no Iêmen, Gaza, Sudão, Síria — disse Hanna Notte, analista do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais da Eurasia Group.
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Isto ajuda a ilustrar a razão pela qual o Ocidente não conseguiu persuadir países como a Índia e a Turquia a apoiarem sanções contra a Rússia. Dada a situação em Gaza, é pouco provável que o esforço tenha sucesso tão cedo.
— É uma enorme dor de cabeça para os diplomatas ocidentais porque eles gastaram muito tempo este ano tentando encantar o Sul Global — disse Richard Gowan, diretor de ONU no International Crisis Group. — Vimos o apoio e o interesse pela Ucrânia desaparecerem entre os membros da ONU ao longo deste ano.
Na Europa, a discussão desenrolou-se em grande parte nas redes sociais, onde alguns comentaristas também criticaram a Europa pela "hipocrisia nas diferentes abordagens às guerras na Ucrânia e em Gaza", enquanto alguns poucos políticos comentaram o tema direta e publicamente.
Carl Bildt, ex-primeiro-ministro sueco, escreveu no X (antigo Twitter), que a maior parte do mundo percebe um duplo padrão na reação ocidental em relação às duas guerras. “Certo ou errado, isso é algo com o qual devemos lidar”, escreveu.
Acertando a narrativa
E há sinais de que isso está acontecendo. Josep Borrell, o principal diplomata da União Europeia, disse em um discurso no Parlamento Europeu na quarta-feira que cortar o abastecimento de água era uma violação do direito internacional, independentemente de onde acontecesse. “Está claro que privar uma comunidade humana sitiada do abastecimento básico de água é contrário ao direito internacional – seja na Ucrânia ou em Gaza”, disse.
Analistas sugeriram que a hostilidade em relação à política ocidental na Ucrânia em certos cantos do mundo deveria mesmo ser considerada inevitável, mas que ainda poderia ser tratada "com algum tato". Gaza mudou a equação.
Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos enfrentaram frequentemente um bloco hostil de nações não-alinhadas, bem como a União Soviética e os seus aliados, e ainda assim conseguiram prevalecer, disse John Herbst, ex-enviado dos EUA à Ucrânia e também diplomata em Israel e nos territórios ocupados, atualmente analista no Atlantic Council.
O conflito de Gaza pode tornar a conquista de apoio à Ucrânia “um pouco mais difícil”, disse, ainda que de forma alguma impossível.
O objetivo de Israel de destruir o Hamas é provavelmente ambicioso demais, disse ele, mas pode enfraquecer enormemente a capacidade militar do grupo armado. Os EUA sofrerão no curto prazo um golpe na opinião pública global por seu apoio a Israel, mas isso provavelmente desaparecerá com o tempo, previu ele, e não deverá dissuadir Washington de continuar a defender sua posição em relação à Ucrânia.
— Devíamos explicar que o que Moscou está fazendo na Ucrânia é perigoso para todas as nações, porque se o tipo de ordem internacional que o Kremlin está perseguindo, e que Pequim está a seguir, se tornar a ordem internacional, isso significa que todos os Estados pequenos e comparativamente fracos estariam à mercê de seus vizinhos maiores — disse Herbst, sem fazer paralelos, neste caso, com a situação no Oriente Médio.
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