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Criada em 1949 pela Assembleia Geral da ONU, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos voltou aos holofotes na quarta-feira após anunciar que, pela primeira vez em mais de 70 anos, precisará interromper seu trabalho humanitário na Faixa de Gaza, devido à escassez de combustível provocada por um bloqueio israelense. A medida foi recebida com grande preocupação, já que a UNRWA (na sigla em inglês) abriga um quarto dos 2,4 milhões de habitantes da região e emprega 30 mil pessoas em seus escritórios, a grande maioria refugiados palestinos.

“Estamos extremamente preocupados com o fato de que as operações essenciais da UNRWA em Gaza estão em risco devido à escassez crítica de combustível”, comentou o Escritório de Direitos Humanos da ONU na rede social X (antigo Twitter) nesta quarta-feira. “A ajuda de combustível deve ser permitida para operar geradores essenciais para hospitais, saneamento, tratamento de água, alimentos e o trabalho da ONU em ajudar civis e proteger os direitos humanos em Gaza.”

Originalmente, a UNRWA era destinada a fornecer emprego e ajuda direta para os refugiados e seus descendentes afetados pela guerra árabe-israelense de 1948, que teve como consequência o êxodo de mais de 700 mil palestinos. No entanto, após diversos conflitos com o recém-criado Estado de Israel, seu mandato foi ampliado para incluir educação, assistência médica e serviços sociais em tempos de guerra e de paz. Além da Faixa de Gaza, a agência opera na Jordânia, no Líbano, na Síria e na Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental. Em 2019, mais de 5,6 milhões de palestinos estavam registrados na UNRWA como refugiados nesses territórios.

Gaza é altamente dependente da ajuda humanitária de organizações internacionais como a UNRWA. Israel mantém um bloqueio aéreo, terrestre e marítimo ao território desde 2007, limitando a entrada de alimentos, combustível, medicamentos e pessoas — uma situação que piorou vertiginosamente desde 7 de outubro, depois que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou um “cerco total” à faixa, em retaliação aos ataques do Hamas contra Israel. A travessia pelo Egito, única fronteira sem presença israelense, também é limitada.

Desde 1993, os territórios palestinos receberam mais de US$ 50 bilhões (quase R$ 250 bilhões em valores atuais) da ONU em desenvolvimento social e ajuda humanitária — uma das maiores intervenções internacionais desde a Segunda Guerra Mundial.

Em um território em que a taxa de desemprego chega a 45% e onde 89% dos trabalhadores do setor privado recebem menos do que um salário mínimo por mês, segundo dados de 2022 do Escritório Central de Estatísticas Palestino, os 30 mil postos de trabalho ofertados pela UNRWA em Gaza também são essenciais para oxigenar a economia local.

Conflito em Israel:

A UNRWA é a única agência da ONU dedicada a ajudar refugiados de uma região ou conflito específico. Ela é diferente do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), estabelecido em 1950 como a principal agência para ajudar todos os outros refugiados do mundo. Ao contrário da UNRWA, o Acnur tem um mandato específico para ajudar os refugiados a eliminar seu status de refugiado por meio da integração local no país atual, do reassentamento em um terceiro país ou da repatriação, quando possível.

Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, após os ataques terroristas do grupo armado palestino em 7 de outubro, o foco da UNRWA tem sido converter as escolas que administra na Faixa de Gaza em abrigos, onde profissionais de saúde podem prestar assistência médica e conselheiros e assistentes sociais oferecem ajuda psicológica e outros serviços. Banheiros e chuveiros móveis foram instalados conforme a necessidade, e pão e alimentos enlatados foram distribuídos.

No domingo, porém, a agência descreveu as condições de vida em seus abrigos como terríveis e alertou que os estoques de combustível e medicamentos corriam o risco de se esgotar. Disse ainda que 35 de seus 13 mil funcionários foram mortos e outros 18 ficaram feridos desde 7 de outubro. Quarenta instalações da UNRWA também foram danificadas.

Dados atualizados mostram que mais de 613 mil pessoas deslocadas internamente estão abrigadas em 150 instalações da UNRWA na Faixa de Gaza, um número 2,7 vezes maior do que a capacidade instalada. Em alguns abrigos, o volume é 12 vezes superior à ocupação pretendida, segundo a agência. Na Área Central, uma escola está abrigando até 13.300 deslocados internos, enquanto outra instalação em Khan Younis está abrigando 21 mil pessoas.

Os oito centros de saúde da UNRWA que permanecem em funcionamento no sul de Gaza (de um total de 22) registraram 4.200 visitas em apenas um dia, na terça-feira, contabilizando refugiados e não refugiados. Além dos cuidados essenciais de saúde primária, os serviços de cuidados pós-natais e de gravidez de alto risco continuam sendo ofertados, assim como suporte de saúde para pacientes com doenças não transmissíveis (DNTs).

Mas todos esses serviços, vitais para a população local, correm o risco de serem descontinuados, à medida que o estoque de combustível se esgota. Embora tenha havido algumas entregas limitadas de alimentos, água e medicamentos desde sábado, não foi permitida a entrada de combustível em Gaza. Israel alega que está preocupado com o possível desvio das entregas de combustível para o Hamas.

O porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, descreveu as preocupações de Israel como legítimas, mas disse que "o combustível precisa chegar à população de Gaza". A coordenada de ajuda humanitária da ONU na Palestina, Lynn Hastings, disse ao Conselho de Segurança que sem combustível "não há hospitais funcionando, não há dessalinização de água e não há como cozinhar".

"Sem combustível, falharemos com o povo de Gaza, cujas necessidades estão aumentando a cada hora, sob nossa supervisão. Isso não pode e não deve acontecer”, declarou o comissário geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, em um comunicado no fim de semana.

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