A caçada humana pelo atirador que matou 18 pessoas e feriu outras 13 na cidade americana de Lewinston, espalhou-se por uma vasta região rural no sul do Maine, nesta sexta-feira. Centenas de policiais seguem mobilizados na tentativa de identificar o paradeiro de Robert Card, um veterano do Exército e morador da região, que abriu fogo contra pessoas reunidas em uma pista de boliche e um bar-restaurante na noite de quarta-feira. Apesar do apoio do FBI, passadas quase 48 horas do ataque, o suspeito ainda não foi localizado.
O primeiro fator adicional de dificuldade para localização do atirador, de acordo com especialistas ouvidos pela imprensa americana, é a experiência militar de Card. De acordo com o gabinete de relações públicas do Exército dos EUA, no Pentágono, Card é um sargento de primeira classe da Reserva do Exército. Ele foi treinado como especialista em abastecimento de petróleo, cujo trabalho envolve o transporte e armazenamento de combustível para veículos e aeronaves, e nunca serviu em missão de combate, o que não fez com que autoridades diminuíssem a importância do passado militar do atirador.
— Essa é uma pessoa com treinamento militar. Eles tem um nível elevado de intimidade com armas de fogo, mas também conhecimento de táticas militares, mais notadamente evasão e estratégias de como se manter fora do radar — disse o analista Jonathan Wackrow, na CNN americana, apontando a missão como desafiadora para as autoridades.
O anúncio público sobre a busca a Card também demonstrou uma preocupação da polícia com o fato do atirador, além de ter servido nas Forças Armadas, ser um instrutor de armas de fogo certificado. O coronel William G. Ross, da Polícia do Estado do Maine, afirmou que Card "se trata de alguém que não deve ser abordado" ao pedir cautela a moradores de cidades no entorno do incidente.
Dezenas de milhares de pessoas foram aconselhadas a ficar em casa por medida de segurança, e muitas escolas e empresas ficaram fechadas pelo segundo dia.
Intimidade com o terreno
Também pesa contra as autoridades o fato de Card ter morado a vida inteira no Maine, um Estado bucólico, cortado por rios e com vastas áreas verdes, incluindo fazendas e bosques. A família de Card tem uma série de propriedades na região, onde a operação policial concentrou as desde a noite de quinta-feira.
O conhecimento do terreno é uma vantagem tática dentro da lógica militar, principalmente considerando um alvo minúsculo (uma única pessoa) que tenta se evadir. O agente aposentado do FBI, Rob D’Amico, afirmou que o estilo de vida e a intimidade do atirador com a região daria uma vantagem de se sentir mais confortável ao ar livre do que os policiais (mesmo os do FBI) que procuram por ele.
— Eu diria que viver e crescer no Maine oferece mais experiência com a natureza do que a maioria das pessoas consegue em seus treinamentos do Exército — disse D’Amico, também em entrevista à CNN.
Preparação para o crime
Ainda não está claro o quanto de premeditação houve nos ataques do Maine. Embora o atirador pareça ter escolhido os alvos com antecedência, tendo atacado um deles primeiro para só depois se dirigir até o segundo e abrir fogo, as autoridades não detalharam se encontraram elementos de um plano de ataque — e de fuga.
Um plano de escape bem programado poderia dar uma vantagem ainda maior para o atirador, oferecendo minutos (ou mesmo horas) preciosos de frente na evasão da área de buscas.
O carro utilizado por Card ao deixar o bar-restaurante, um Subaru Outback branco, foi encontrado perto de um pier na cidade de Lisbon, vizinha a Lewiston, o que levou autoridades a considerarem uma fuga por rio ou em direção ao mar. O comissário de segurança pública do estado, Michael Sauschuck, afirmou que vai colocar "mergulhadores na água” perto do barco onde o veículo do suposto atirador foi encontrado.
Helicópteros e aeronaves de asa varreram quilômetros de campo e a Guarda Costeira patrulhou o rio Kennebec entre quinta e sexta-feira, enquanto as autoridades procuravam pistas sobre o paradeiro do atirador, que até o momento segue foragido.
(Com NYT e AFP)
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