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Por O Globo — Cairo

Dezenas de estrangeiros deixaram nesta quarta-feira a Faixa de Gaza e atravessaram para o Egito através da passagem de Rafah, que foi aberta ao trânsito de pessoas pela primeira vez desde o início da guerra entre Israel e Hamas. A informação foi confirmada por repórteres da AFP no local.

Depois de as autoridades egípcias terem anunciado a abertura excecional da passagem para evacuar cerca de 90 feridos e 450 estrangeiros, um primeiro grupo atravessou o posto, que já havia sido utilizado para o envio de ajuda humanitária. A lista, no entanto, não inclui brasileiros, que aguardam desde o início da guerra pela passagem para o território egípcio antes de serem resgatadas pelo governo federal.

Pouco depois dos ataques terroristas do Hamas, em 7 de outubro, o governo de Israel emitiu um ultimato aos palestinos de Gaza para esvaziarem o norte do enclave, antes de uma invasão por terra. “Saiam agora,” disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aos moradores da região que inclui a Cidade de Gaza, a mais importante e maior do território. Pelo menos 1 milhão de pessoas foram obrigadas a se retirar de uma vez só, em meio à destruição dos bombardeios.

Infográfico mostra como é passagem de Gaza para o Egito, via Rafah — Foto: Editoria de Arte
Infográfico mostra como é passagem de Gaza para o Egito, via Rafah — Foto: Editoria de Arte

A única saída viável de Gaza hoje é pela passagem de Rafah, no sul do enclave, na fronteira com a Península do Sinai egípcia. A passagem está sob controle do Egito desde um acordo fechado com Israel, em 2007, quando o Hamas tomou o poder na Faixa de Gaza e expulsou o grupo palestino laico Fatah para a Cisjordânia, onde controla a Autoridade Nacional Palestina, reconhecida pela ONU como legítima liderança dos palestinos.

Conflito em Israel:

Nos 16 anos seguintes, Israel e Egito mantiveram um duro controle do que, e de quem, entra e sai do território dominado pelo grupo terrorista. Pelo acordo, a passagem de suprimentos para Gaza por Rafah precisa de autorização israelense.

Em setembro, um relatório do Escritório da ONU de Coordenação de Assuntos Humanitários no território palestino denunciou o endurecimento das restrições na circulação pela passagem de Rafah, pela “ação recente do governo egípcio para conter atividades ilegais e a insegurança no Sinai”. De acordo com o texto, o Egito estava impondo “severas” restrições na movimentação de pessoas e “fechando túneis de contrabando”. De acordo com a organização, “consequentemente, a situação humanitária já frágil na Faixa de Gaza piorou”.

As rotas seguras da Faixa de Gaza para o deslocamento de civis palestinos do norte rumo ao sul — Foto: O Globo
As rotas seguras da Faixa de Gaza para o deslocamento de civis palestinos do norte rumo ao sul — Foto: O Globo

A Faixa de Gaza tem apenas outras duas passagens para saída e entrada de pessoas e mercadorias. Uma é a de Erez, que fica ao norte e leva ao sul do território israelense, e foi atacada pelo Hamas na invasão do dia 7 de outubro.

A outra passagem, de Kerem Shalom, serve apenas ao transporte de cargas e também está no sul de Gaza, na fronteira com Israel e perto do território egípcio. Segundo a rede de TV ABC News, vídeos mostram terroristas do Hamas cruzando por um buraco na cerca também na área deste posto de fronteira.

— Qualquer outra alternativa [além de Rafah, para a rota de fuga de Gaza] passaria por Israel, e isso é inviável — explicou ao GLOBO, em entrevista no mês passado, a professora do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) Monique Sochaczewski. — O espírito de união israelense é intimidante, inclusive entre aqueles que são considerados pacifistas ou de esquerda, como os habitantes dos kibutz e alguns ativistas, muitos deles sequestrados pelo Hamas.

O cenário de "cerco total" em Gaza e a ameaça de uma invasão por terra em alta escala ao norte, depositaram sobre o Egito a pressão da comunidade internacional pela abertura de um corredor humanitário em Rafah, por onde entrem suprimentos e saiam os estrangeiros que estavam em Gaza, entre eles um grupo de brasileiros. O governo egípcio chegou a sinalizar que liberaria o comboio humanitário estacionado na fronteira, mas voltou atrás.

Especialistas em Oriente Médio apontam algumas razões por trás da relutância do governo do presidente Abdel Fattah al-Sisi, um ex-comandante militar que foi eleito em 2014, após um golpe derrubar o então presidente Mohamed Morsi, um ano antes. A principal delas é o temor de uma crise interna provocada por um possível fluxo de pessoas em busca de refúgio.

Península do Sinai

Uma das ameaças que uma entrada em massa de palestinos traz para al-Sisi é o risco de infiltração de terrorista do Hamas no país. Na origem do grupo extremista palestino, na década de 1980, está uma forte ligação com a Irmandade Muçulmana, a organização islâmica fundamentalista que surgiu no Egito, na década de 1920, mas adquiriu relevância política e ideológica em diversas esferas do mundo islâmico.

A força da organização egípcia paira sobre o governo de al-Sisi. Após a Primavera Árabe, em 2011, e a queda do então ditador egípcio, Hosni Mubarak, os egípcios elegeram Morsi, ligado à Irmandade Muçulmana, e que, depois de deposto, morreu enquanto estava preso por acusações que incluíam vínculos com o Hamas e ameaça à segurança nacional.

Outro elemento na matemática política do presidente egípcio é o temor de ser arrastado para o centro da crise e se ver obrigado a se implicar diretamente na questão palestina. Por essa lógica, permitir a passagem de um grande número de habitantes de Gaza, mesmo como refugiados, para a Península do Sinai, no Egito, seria "reviver a ideia de que a região é o país alternativo para os palestinos", explicou Mustapha Kamel al-Sayyid, cientista político da Universidade do Cairo, ao jornal New York Times.

Em 1967, na Guerra dos Seis Dias, Israel anexou a região ao seu território, que foi retomado posteriormente em 1973, na Guerra do Yom Kippur. Em meio à pressão internacional pela abertura da passagem em Rafah, Al-Sisi instou os palestinos a não abandonarem sua terra e reafirmou a posição do país sobre a questão.

— O Egito não vai permitir que a causa palestina seja resolvida às custas de outras partes — afirmou, no mês passado.

Sochaczewski lembra que, além da questão interna, há também em jogo a relação com Israel.

— O Egito viveu uma contrarrevolução depois da Primavera Árabe e tenta se reconstruir, por isso o medo de uma nova instabilidade interna — disse Sochaczewski. — Além disso, a paz com Israel, que por muito tempo foi apenas um acordo formal entre Estados [desde 1979], hoje se tornou mais aquecida, com investimentos israelenses na economia egípcia.

O enclave sempre foi uma dor de cabeça para al-Sisi. Seus laços estreitos com Israel e os Estados Unidos colidem desconfortavelmente com as opiniões pró-palestinos do seu próprio povo.

— O presidente também desconfia do grupo terrorista Hamas, que governa a região desde 2007. Dezenas de milhares de palestinos invadiram em 2008 o Egito depois que o Hamas abriu um buraco na cerca da fronteira de Rafah — acrescentou oal-Sayyid.

Diplomatas ouvidos pelo New York Times apontaram que as negociações diplomáticas para a entrada da ajuda humanitária por Rafah ficaram empacadas durante um tempo porque Israel queria que os comboios fossem revistados em busca de armas e não houve acordo sobre o mecanismo de triagem. Por isso, o governo egípcio também não teria liberado a saída de estrangeiros.

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