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Por , Em The New York Times — Jerusalém

Nas últimas semanas, Israel tentou discretamente obter apoio internacional para a transferência de centenas de milhares de palestinos de Gaza para o Egito, de acordo com seis diplomatas estrangeiros de alto escalão ouvidos pelo New York Times. Segundo as fontes, as autoridades israelenses propuseram a ideia, em privado, a vários governos estrangeiros, vendendo a proposta como uma iniciativa humanitária que permitiria aos civis escaparem temporariamente de Gaza para campos de refugiados no deserto do Sinai, do outro lado da fronteira com o vizinho Egito.

A sugestão foi rejeitada pela maioria dos interlocutores, incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido, que temiam que o deslocamento em massa se tornasse permanente, o que, por sua vez, poderia desestabilizar o Egito e bloquear um número significativo de palestinos de sua terra natal.

A ideia também foi firmemente rejeitada pelos palestinos, que alegam que Israel estaria usando a guerra — que começou após o ataque terrorista do Hamas, que matou cerca de 1.400 pessoas — para deslocar permanentemente as mais de dois milhões de pessoas que vivem em Gaza.

Mais de 700 mil palestinos fugiram ou foram expulsos das suas casas durante a guerra que culminou com a criação do Estado de Israel, em 1948, um evento que ficou conhecido pelos palestinos como a a “nakba”, palavra árabe que significa “catástrofe”. Agora, muitos dos descendentes dos palestinos expulsos alertam que a guerra atual terminará de maneira parecida.

Dias após o ataque do Hamas, que administra Gaza, militares israelenses pediram a todos os residentes do norte do enclave — cerca de metade da população total do território — que fossem para o sul do enclave, enquanto se preparava para uma invasão terrestre. Pelo menos publicamente, o país não sugeriu que os palestinos atravessassem a fronteira egípcia, que está em grande parte fechada desde o início da guerra.

O Egito, por sua vez, rejeitou a ideia de um deslocamento temporário — e ainda mais de um deslocamento permanente.

Alguns dos aliados políticos de Netanyahu, no entanto, apoiaram publicamente a ideia. Danny Danon, legislador do Likud, partido do premier, e ex-embaixador de Israel nas Nações Unidas, disse que apoiava a retirada de civis de Gaza para dar a Israel mais espaço de manobra durante a invasão terrestre.

— Estamos tentando reduzir o nível de baixas de nossas tropas e dos civis —disse Danon ao New York Times. — Esperamos que não só os egípcios, mas toda a comunidade internacional faça um esforço genuíno para apoiar e aceitar os moradores de Gaza.

Danon acrescentou, no entanto, que a ideia precisaria do acordo do governo egípcio, que controla a fronteira sul de Gaza.

Planos pós-guerra

O impulso diplomático de Israel aumentou um sentimento crescente de incerteza sobre o que acontecerá se Israel assumir o controle de parte ou de toda Gaza, mesmo que temporariamente, ao fim de suas operações militares. Os objetivos declarados de Israel são o desmantelamento do Hamas e o resgate de mais de 240 civis e soldados capturados pelo grupo em 7 de outubro. Mas as autoridades israelenses afirmaram repetidas vezes que ainda estão avaliando quem deve liderar o enclave quando os objetivos forem alcançados.

Uma proposta é ceder Gaza a uma força internacional que poderia ajudar a reconstruir as suas infraestruturas e moradias antes de entregá-la à Autoridade Nacional Palestina (ANP), mais moderada, que administra partes da Cisjordânia ocupada. Mas a ANP já disse que não quer assumir o controle do território, a menos que Israel permita a criação de um Estado palestino em Gaza e na Cisjordânia.

Alguns israelenses linha-dura defendem a manutenção do controle de Gaza e a expulsão permanente dos palestinos. Um deputado do Likud, Ariel Kallner, apelou por outra outra nakba que “ofuscaria” a deslocação em massa da primeira, em 1948.

— Neste momento, um objetivo: nakba! — disse Kallner um dia após o ataque do Hamas: — Nakba em Gaza e nakba para qualquer um que se atreva a aderir!

O Egito desempenha um papel delicado em Gaza – em parte guarda de fronteira, em parte mediador, em parte facilitador de ajuda – mas não quer acabar como administrador de fato do enclave. Depois de mais de uma década de turbulência interna desencadeada pela Primavera Árabe, o país está atolado numa profunda crise econômica e teme que um grande afluxo de palestinos possa agravar ainda mais a crise.

O país também receia que a súbita imigração de palestinos possa perturbar o norte do Sinai, onde militares egípcios têm lutado para conter uma insurgência islâmica, ou que possa empurrar alguns palestinos a lançarem ataques a partir do Sinai contra Israel, o que, por sua vez, levaria o país a entrar em conflito com Israel.

Os palestinos em Gaza também rejeitaram a ideia de se mudarem para o Egito.

— Como palestino, não viverei a nakba novamente — disse Ameed Abed, 35 anos, morador de Jabaliya, no norte do território, região devastada nos últimos dias por ataques israelenses. —Não sairemos de nossas casas.

Danon afirmou que Israel não pretendia expulsar os moradores de Gaza do enclave e que qualquer pessoa que saísse teria permissão para retornar. Já o ministro da defesa, Yoav Gallant, disse no mês passado que Israel não tentaria manter o controle sobre Gaza após a invasão. Mas o assunto ainda é objeto de fortes discussões e divergências dentro do governo. Alguns membros da coligação de Netanyahu pediram expressamente a expulsão permanente dos palestinos de Gaza.

Um departamento do Ministério da Inteligência de Israel, que não tem poder executivo, publicou um documento em 13 de outubro recomendando “a retirada da população civil de Gaza para o Sinai”. Depois que o documento vazou para a imprensa israelense, o Gabinete do primeiro-ministro confirmou a autenticidade do texto, mas disse que era apenas um “documento preliminar”.

Na última quarta-feira, um ministro de extrema direita, Amichay Eliyahu, afirmou que as terras de Gaza deveriam ser doadas a ex-soldados israelenses que lutaram em Gaza, ou a ex-colonos israelenses que viviam no enclave antes de Israel se retirar em 2005. Dias depois, Eliyahu disse que Israel deveria considerar lançar uma bomba nuclear em Gaza, declaração que foi condenada por Netanyahu e outros membros do governo.

Também veio à tona um vídeo de um oficial militar pedindo recentemente que Israel reocupasse Gaza. Uma outra gravação mostra um cantor pop também pedindo a reocupação de Gaza, sendo aplaudido por soldados. Em resposta, os militares israelenses condenaram o oficial e disseram que estavam investigando o incidente com o cantor.

Israel capturou Gaza do Egito durante a Guerra Árabe-Israelense de 1967 e estabeleceu 21 assentamentos judaicos lá. Mas, em 2005, o governo desmantelou os assentamentos, evacuou seus moradores para Israel e entregou o território à Autoridade Nacional Palestina. Dois anos depois, o Hamas forçou a saída da ANP, levando Israel e o Egito a imporem um bloqueio ao enclave, que tem estado em vigor nos últimos 16 anos.

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