Em um pequeno mercado no Bahrein, Jana Abdullah, de 14 anos, verifica com seu tablet se algum dos produtos que ela vai comprar está na lista de marcas ocidentais acusadas de apoiar a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza. Costumava comer no McDonald's com o irmão mais novo —mas isso até eles aderirem a uma campanha de boicote às marcas pró-israelenses.
— Começamos a boicotar todos os produtos que apoiam Israel em solidariedade aos palestinos — conta Jana à AFP. — Não queremos que nosso dinheiro contribua para prolongar os combates.
Essa campanha, divulgada pelas redes sociais, ganhou adeptos após o início do conflito, desencadeado por um sangrento ataque lançado em 7 de outubro pelo movimento palestino Hamas em Israel, que deixou 1.400 mortos, a maioria civis, segundo as autoridades israelenses.
Essa iniciativa lançada, especialmente por jovens, inclui extensões de navegador, sites e aplicativos para identificar produtos que estão na lista proibida. Mas eles também recorreram a métodos tradicionais, como outdoors. Na beira de uma das autoestradas do Kuwait, um enorme painel exibe imagens de crianças feridas com a mensagem "Você matou um palestino hoje?".
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O apoio do Ocidente à ofensiva israelense na Faixa de Gaza "reforçou o movimento de boicote no Kuwait", diz Mishari al Ibrahim, um ativista local.
— Criou uma imagem entre os kuwaitianos de que os slogans do Ocidente e o que eles dizem sobre direitos humanos não se aplicam a nós — afirma.
A rede de fast-food americana McDonald's está no centro da polêmica, porque a filial em Israel anunciou no mês passado que forneceria refeições gratuitas aos soldados israelenses. Após os apelos ao boicote da marca, a franquia do Kuwait anunciou que doará mais de 160 mil dólares (782 mil reais, na cotação atual) em ajuda para os habitantes de Gaza.
No Catar, o McDonald's prometeu doar 275 mil dólares (1,34 milhão de reais) para o território palestino e afirmou em um comunicado que é uma entidade diferente das filiais da rede em Israel.
O parlamento da Turquia, por sua vez, excluiu a Coca-Cola e a Nestlé do menu dos restaurantes, alegando que as marcas apoiam a atuação militar de Israel. De acordo com a agência de notícias Reuters, Numan Kurtulmus, chefe do legislativo no país, a medida atende um pedido público da população turca.
— (Essa decisão) apoia o clamor público em relação ao boicote de produtos de empresas que declararam abertamente seu apoio aos crimes de guerra de Israel e ao assassinato de pessoas inocentes em Gaza — disse do presifente da casa, segundo a agência.
'Não pague o preço das balas'
Alguns estabelecimentos ocidentais no Catar tiveram que fechar as portas após os proprietários expressarem opiniões nas redes sociais consideradas muito favoráveis a Israel. A cafeteria da rede americana Vida Miami e a confeitaria britânica Maitre Choux foram alguns deles.
Na Jordânia, várias mensagens nas redes pedem aos consumidores que "não paguem o preço das balas" e evitem comprar produtos israelenses. Em uma loja na capital, Amã, Abu Abdullah examina atentamente o rótulo de uma garrafa de leite.
— É fabricada na Tunísia — constatou este homem que defende com afinco o boicote. — É o mínimo que podemos fazer por nossos irmãos em Gaza.
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