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Por O Globo e agências internacionais — Cidade de Gaza

O subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários disse estar "horrorizado" com a operação militar de Israel dentro do Hospital al-Shifa, o maior da Faixa de Gaza, como parte da guerra contra o grupo terrorista Hamas. A ação, que começou na noite de terça-feira e terminou nesta quarta, também foi condenada por outras entidades internacionais, como a OMS e a Cruz Vermelha.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, confirmou a operação do Exército e disse que "não há lugar em Gaza" que as Forças de Israel não consigam alcançar. Israel alega que o Hamas mantém um centro de comando no local.

Antes de deixar o hospital, após horas de ocupação, os soldados interrogaram dezenas de civis, que foram liberados, segundo um jornalista da AFP. De acordo com a ONU, o complexo hospitalar abriga, hoje, 2.300 pessoas, entre pacientes, profissionais da saúde e deslocados.

"Estou horrorizado com as informações sobre operações militares no Hospital al-Shifa de Gaza. A proteção dos recém-nascidos, pacientes, profissionais da saúde e de todos os civis deve se sobrepor a todas outras questões", escreveu Martin Griffiths, diretor do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), na rede social X (antigo Twitter). "Compreendo a preocupação dos israelenses em tentar encontrar a liderança do Hamas. Esse não é o nosso problema. O nosso problema é proteger o povo de Gaza do que está sendo feito contra ele".

O chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, concordou que "os relatos de incursão militar no Hospital al-Shifa eram profundamente preocupantes". E alertou que a agência de saúde da ONU perdeu novamente contato com o pessoal de saúde do hospital. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha, por sua vez, disse em comunicado que "está extremamente preocupado com o impacto para pacientes e feridos, profissionais da saúde e civis".

Além das organizações internacionais, o Ministério das Relações Exteriores da Jordânia condenou a entrada das forças israelenses no al-Shifa como uma violação do direito internacional, especialmente da Convenção de Genebra, responsabilizando Israel pela segurança dos civis e do pessoal do hospital.

O Catar, principal mediador entre Israel e o Hamas para a libertação dos reféns, denunciou a incursão ao al-Shifa como "crime de guerra". O Ministério das Relações Exteriores do país também exigiu "uma investigação internacional urgente", com investigadores independentes da ONU, para averiguar "os ataques aos hospitais pelo Exército de Israel".

Em seu discurso de investidura, o premier espanhol, "exigiu um cessar-fogo imediato por parte de Israel em Gaza" e o "estrito cumprimento do direito humanitário internacional, que hoje claramente não é respeitado", em referência à operação no centro hospitalar.

Até os Estados Unidos, maior aliado de Israel, disseram não ter dado qualquer tipo de luz verde para a operação:

— Não aprovamos as suas operações militares em torno do hospital — disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, a jornalistas, depois que o Hamas acusou o presidente dos EUA, Joe Biden, de ser “totalmente responsável” pela incursão.

'Operação precisa e direcionada'

As Forças Armadas anunciaram ter encontrado armas do Hamas no Hospital al-Shifa e uma ampla infraestrutura terrorista. Um porta-voz das Forças de Defesa de Israel garantiu que não houve confronto dentro do complexo, mas o grupo fala em até 40 mortes na operação.

"Durante buscas dentro de uma das enfermarias do hospital, os combatentes localizaram uma sala contendo recursos tecnológicos, equipamentos de combate e equipamentos militares utilizados pela organização terrorista Hamas", escreveu a IDF no X, onde publicou algumas imagens de armas que estariam no hospital. "Num outro departamento, foram localizados um quartel-general operacional".

Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da Palestina, ligado à Autoridade Palestina, disse que "o Exército [israelense] está no hospital e ninguém sabe o que eles estão fazendo ou qual tipo de armas levaram com eles para depois alegarem que foram encontradas dentro do complexo".

O Ministério da Saúde de Gaza, em um novo desdobramento da disputa de narrativas que envolve o conflito, rebateu as informações do Exército israelense, afirmando que eles não encontraram "qualquer equipamento [militar]" no complexo.

"Essencialmente, não permitimos isso [armas no hospital]", afirmou Munir al-Bursh, diretor-geral da pasta, em comunicado.

Em resposta às críticas, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, alertou mais uma vez que não há lugar seguro para os terroristas do Hamas, durante uma visita à base de treinamento das Forças Armadas de Israel em Zikim.

— Nos disseram que não chegaríamos ao arredores da Cidade de Gaza e nós chegamos. Nos disseram que não entraríamos no [Hospital] al-Shifa e nós entramos. — disse em um vídeo divulgado pelo seu Gabinete: — Não há lugar em Gaza que nós não consigamos alcançar.

Em uma publicação na rede social X, o porta-voz das Forças Armadas de Israel, Daniel Hagari, reiterou que o Exército estava realizando "uma operação precisa e direcionada contra o Hamas numa área específica" do complexo, salientando estar "em guerra apenas com o Hamas".

Hagari ainda afirmou que as forças israelenses enviaram tradutores de árabe e pessoal médico para se unirem à incursão. Um colaborador da AFP presente no hospital descreveu a operação. Segundo ele, nos corredores do complexo hospitalar, alto-falantes informavam, em árabe, ordens dos soldados israelenses aos pacientes: "Todos os homens com 16 anos ou mais, [coloquem] as mãos ao alto e saiam dos edifícios para o pátio interior para se renderem".

Testemunhas descreveram, nos últimos dias, condições horríveis dentro do complexo hospitalar, com partos realizados sem anestesia, escassez de comida ou água e famílias inteiras vivendo nos corredores, além do fedor de cadáveres em decomposição. Uma vala comum foi aberta no local, onde já foram enterrados 179 corpos, segundo o diretor do hospital, o médico Mohammed Abu Salmiya.

Ao menos nove bebês prematuros morreram depois que foram retirados de suas incubadoras por falta de energia elétrica, em consequência do cerco imposto por Israel desde 9 de outubro. Além disso, 27 pacientes que estavam no CTI morreram porque não tinham um respirador, segundo o Ministério da Saúde palestino, controlado pelo Hamas.

Israel disse ter enviado encubadoras ao hospital, mas não há escassez do equipamento e sim de combustível para os geradores que mantêm os aparelhos funcionando.

Troca de acusações

Israel afirma que o Hamas construiu um centro de comando militar por baixo do hospital, transformando os seus pacientes em escudos humanos. Na terça-feira, a Casa Branca afirmou que fontes do serviço de Inteligência americano corroboraram a afirmação israelense.

Ainda assim, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, disse que os EUA — aliado mais próximo de Israel — não queriam ver "um tiroteio num hospital onde pessoas inocentes, pessoas indefesas, pessoas doentes que tentam obter cuidados médicos que merecem sejam apanhadas no fogo cruzado".

Para os palestinos, o centro médico é uma instituição civil, e qualquer uso como base militar foi veementemente negado tanto pela liderança do hospital, quanto pelo Hamas, que já pediu visitas de comissões de investigação internacionais.

A ministra da Saúde da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mai al-Kaila, citada pela agência de notícias palestinas WAFA, disse que as forças israelenses "estão cometendo um novo crime contra a humanidade, os médicos e os doentes". Al-Kaila afirmou ainda que Israel é "responsável pelas vidas dos funcionários do hospital, pacientes e as pessoas que buscam abrigo no al-Shifa".

A ANP administra a Cisjordânia, mas não a Faixa de Gaza.

O braço político do Hamas acusa o Exército israelense de cometer "um crime de guerra e um crime contra a Humanidade". Em um comunicado nesta quarta, o grupo disse que "considera a ocupação [de Israel] e o presidente [Joe] Biden totalmente responsáveis pelo ataque do Exército israelense ao complexo médico de al-Shifa".

Para os críticos de Israel, o foco do país no hospital, que nas últimas semanas também tem sido um refúgio para milhares de moradores de Gaza deslocados, além de pessoas gravemente doentes, demonstra o que consideram ser um desrespeito pela vida palestina.

No dia 7 de outubro, o Hamas executou um ataque surpresa no sul de Israel que matou 1.200 pessoas, a maioria civis, segundo as autoridades israelenses. Desde então, o Exército israelense bombardeia a Faixa de Gaza diariamente. Mais de 11 mil palestinos morreram nos ataques, segundo o Ministério da Saúde palestino, a maioria civis.

A crise humanitária no enclave palestino tem se intensificado. A ONU, citada pela Ansa, alertou nesta quarta-feira que cerca de 70% da população de Gaza não terá mais acesso à água potável devido à falta de abastecimento de combustível. O produto não entra no enclave nos comboios de ajuda humanitária, porque Israel teme o seu desvio pelo Hamas. (Com AFP e New York Times.)

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