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Guerras não acontecem apenas no campo de batalha. Em paralelo à luta armada, há sempre disputas acirradas pela “verdade” — que muitas vezes se sobrepõem ao confronto em si. As questões variam desde a dificuldade de se chegar ao número exato de mortos e feridos até apontar os culpados de fato por um ataque ou crime. “Você nunca vai saber o que realmente acontece o tempo todo” em um conflito aberto, disse ao GLOBO a jornalista ucraniana Margo Gontar, especialista em desinformação, mídia e política.

Para a pesquisadora visitante da Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getúlio Vargas (ECMI-FGV), guerras como as que estão em curso entre Israel e Hamas e entre Rússia e Ucrânia figuram nesse nível mais complexo de disputas: o de narrativas, que, segundo ela, vai além da mera desinformação, porque têm como principal ferramenta a manipulação das emoções humanas (“a maior ameça de todas”), tornando a busca pela “verdade” quase impossível.

Desde que estourou uma guerra entre Israel e o Hamas, em 7 de outubro, as partes têm se acusado mutuamente de bombardear escolas e hospitais na Faixa de Gaza. O grupo armado palestino diz que os disparos são das forças israelenses, enquanto os judeus alegam que a destruição foi causada por mísseis dos extremistas. É possível saber a verdade em um contexto de guerra?

Não há como saber exatamente o que acontece durante uma guerra o tempo todo, porque é uma situação em evolução e tecnicamente difícil de compreender. Se você souber tudo, isso significa que algo está muito errado e pode ser muito perigoso. Uma vez me perguntaram se eu sabia qual era a estratégia [do exército ucraniano] e eu respondi que somente o general-chefe conhecia a estratégia. E talvez nem ele mesmo saiba todo o plano, porque a guerra é um empreendimento grande e confuso, como todo conflito. Mas é possível saber informações aproximadas. O importante é reunir evidências suficientes e fazer todas as perguntas necessárias antes de transmitir uma informação.

Qual o impacto disso para uma guerra?

A principal ferramenta da desinformação é a emoção. Tanto a emoção que é o ponto fraco das pessoas, como a emoção que uma informação desperta em alguém — essa é a maior ameaça de todas. Vimos isso muito claramente na Rússia a partir de 2014: enquanto a mídia tradicional, geralmente pró-Ocidente, se baseava em informações objetivas, os canais estatais russos operavam no campo das emoções, dando ao público o que eles queriam ver. Não é como se as pessoas acreditassem em todos esses meios de comunicação, mas elas se sentem emocionalmente ligadas às informações que eles distribuem.

Emocionalmente ligadas, como assim?

Sim, a questão principal não é fazer com que as pessoas acreditem 100%, que os militares ucranianos mataram uma criança em um vilarejo russo e depois a crucificaram, por exemplo — tivemos jornalistas que foram até lá, conversaram com os moradores e descobriram que nada aconteceu. O importante numa guerra de informações [dentro de uma guerra armada] é deixar o público pensando que algo talvez tenha acontecido, talvez não. É um método. Não se trata mais apenas de uma história falsa que podemos refutar com os fatos. É uma narrativa diferente que está sendo tecida, e não necessariamente com mentiras. É diferente do que aprendemos através da História e dos clássicos de propaganda da Alemanha Nazista.

Conflito em Israel:

Está ocorrendo uma guerra de narrativas em Gaza?

Tento ser muito cuidadosa ao lidar com algo que não estou pessoalmente conectada — não sou da região nem domino o árabe ou hebraico, então faço muitas ressalvas ao comentar o assunto. Mas posso afirmar que a guerra muda tudo na maneira como você lida com as informações e, obviamente, eu esperaria que os dois lados [Israel e Hamas] se valessem disso. O que eu posso dizer é que, em minhas pesquisas, observei na narrativa sobre a Palestina o mesmo comportamento relativo à Rússia: uma atividade intensa de contas falsas no Twitter que dizem apoiar a Palestina e Gaza — não o Hamas — e publicam diversos contéudo anti-israelenses. Não estou dizendo de forma alguma que as pessoas não possam ir às ruas para defender seus pontos de vista e mostrar seu apoio a qualquer um dos lados, nem posso afirmar que todas as atividades pró-Palestina no Twitter são encenadas. Mas considerando a relação estreita da Rússia com o Hamas e a minha experiência sobre como a Rússia opera, eu suponho que eles poderiam ter ensinado o Hamas sobre isso. Mas é só uma suposição.

Redes sociais facilitam o acesso à informação, mas também ajudam a disseminar desinformação. Ao mesmo tempo, em contextos de guerra, há dificuldade de acesso a informações no local, até mesmo para a imprensa. Como lidar com isso?

O que precisamos fazer é entender as fraquezas desse ambiente digital, mas também sua força, porque a mídia social é o que nos dá a chance de realmente exercer nossos direitos como pessoas de uma forma democrática. Podemos nos unir de forma absolutamente independente de qualquer poder, podemos sair às ruas por causa da mídia social e chamar a atenção para uma causa. Ou, às vezes, apenas com uma hashtag, pressionar empresas ou políticos. Eu diria que as redes sociais são uma extensão da política tradicional.

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