A Câmara Nacional Eleitoral (CNE) buscou neste sábado aproximar as posições entre as forças que disputarão amanhã o segundo turno da eleição presidencial, após as denúncias de suposta fraude insinuadas pelo partido La Libertad Avanza (LLA), que tem Javier Milei como candidato à presidência. De acordo com o La Nación, fontes que participaram da reunião afirmaram que o encontro foi "bom e franco". E os representantes da Unión por la Patria (UP), a coalizão do atual ministro da Economia, Sergio Massa, consideraram "descartada" a acusação dos libertários no plano judicial.
- Foi descartado que a apresentação (feita pela LLA) fosse uma acusação de fraude - disse Juan Manuel Olmos, vice-chefe de gabinete e representante da UP, após a reunião, que também contou com a presença de Karina Milei, a principal referência da campanha de seu irmão.
- A posição da campanha de Massa foi a de que as eleições na Argentina são totalmente transparentes. A LLA sustentou que não se falou de fraude, nem se questionou o resultado da eleição de outubro, mas que há um número infinito de irregularidades no processo eleitoral como resultado do sistema argentino - disse um colaborador de Milei a este jornal.
Antes da reunião, o secretário de procedimentos da Justiça Eleitoral, Sebastián Schimmel, havia descrito as alegações de possíveis fraudes como infundadas. A reunião deste sábado foi convocado com a finalidade de "preservar a coexistência democrática".
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Nesta semana, Karina Milei, uma das procuradoras e irmã do candidato presidencial, acusou a Gendarmaria Nacional, principal força de segurança da Argentina, de alterar o conteúdo das urnas nas eleições gerais e roubado votos em detrimento de Javier Milei. Santiago Viola, também procurador do partido, compareceu ao tribunal na sexta-feira e disse que não tinha provas a oferecer.
Perante o promotor, Viola não apenas não apresentou provas, nem ratificou a acusação, mas admitiu que "a apresentação foi feita em virtude de comentários em redes sociais e alguns artigos de jornal e testemunhos coletados pessoalmente que se referiam aos fatos levados ao seu conhecimento, dos quais estou anexando alguns exemplos neste ato". Foi nesse contexto que Schimmel disse que essas versões geram desconfiança.
O partido do candidato presidencial Javier Milei, que enfrentará amanhã o segundo turno contra o o atual ministro da Economia, Sergio Massa (UP), alertou sobre algumas irregularidades nas eleições gerais de 22 de outubro e também questionou o resultado de domingo.
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- Eles esclareceram que não se tratava de uma denúncia, mas de uma apresentação solicitando medidas preventivas para a custódia das urnas eletrônicas, o que está expressamente previsto no Código Eleitoral - disse Schimmel à Rádio Mitre. - São versões absolutamente infundadas, que nem sequer são comprovadas nas redes, mas que geram um clima de desconfiança.
Resultados parciais até as 21h
Na mesma linha, ele transmitiu tranquilidade sobre o procedimento eleitoral, a transparência e os dados:
- A verdade é que tudo isso foi dissipado até agora e não há nenhuma reclamação, nenhum fato que justifique essa preocupação, mas obviamente o que nos cabe é gerar a confiança necessária no processo eleitoral, e é por isso que estamos aqui para informar, esclarecer e explicar aos atores políticos e também aos cidadãos como funciona um processo eleitoral cercado de tantas garantias.
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Além disso, o secretário disse que é possível ter resultados provisórios até as 21h de domingo (hora local), já que não há mais cinco candidatos, mas apena dois. No entanto, dada a possibilidade de um resultado equilibrado, o primeiro resultado poderia ser uma tendência variável.
- Teremos que esperar que a apuração provisória termine de carregar os dados, até 98,5%, e mesmo assim, se houver empate técnico, teremos que esperar a apuração definitiva- afirmou.
Investigação preliminar
Na sexta-feira, Viola compareceu aos tribunais de Retiro porque foi convocado pelo promotor eleitoral Ramiro González, que abriu uma investigação preliminar depois de receber uma carta da LLA pedindo que os controles fossem garantidos e semeando dúvidas sobre o resultado de 22 de outubro.
O procurador declarou que o que eles apresentaram sobre a suposta fraude nas eleições gerais "não foi uma reclamação, mas uma apresentação feita com o objetivo de tomar o máximo de cuidado na transferência das urnas" no domingo e "com a única intenção de contribuir para a transparência e a legalidade das eleições".
A situação que surgiu com Viola se soma às acusações que o próprio Milei vinha fazendo e que se tornaram mais agudas em uma entrevista com o jornalista peruano Jaime Bayly, na qual ele disse que "houve irregularidades de tal dimensão que colocam em dúvida o resultado", em referência ao que aconteceu após as eleições gerais, nas quais ele perdeu para Sergio Massa.
Na conversa com o entrevistador, que lhe perguntou: "Quem controla o poder eleitoral, ele é independente? Milei insistiu em sua posição e apontou para a Câmara Nacional Eleitoral (CNE), a mais alta autoridade judicial no processo eleitoral, dizendo: "Não, esse poder é muito influenciado pelo poder político. É bem sabido que quem controla os votos, controla tudo.
Alguns dias antes, após as primeiras acusações do partido ultradireitista, o CNE havia declarado em um comunicado que as "alegações infundadas de fraude que atualmente estão desinformando a opinião pública e minando a democracia". Em seguida, enfatizou que nesses 40 anos de democracia houve 33 "processos eleitorais nacionais completos, de diversas características; todos com resultados aceitos e legitimidade reconhecida e indiscutível".
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Diante desse cenário, o CNE convocou os representantes de ambos os partidos neste sábado - apenas 24 horas antes da eleição, o que é atípico.
- Faz parte de uma série de diálogos que em outras eleições a Câmara Eleitoral e a Justiça em geral têm com os candidatos para ouvir suas preocupações e adotar, se necessário, as medidas de administração eleitoral que gerarão a tranquilidade necessária para o ato eleitoral - continuou Schimmel.
A reunião, que durou uma hora, contou com a presença dos juízes Alberto Dalla Vía e Javier Corcuera; dos representantes libertários Santiago Viola e Santiago Caputo; de Karina Milei e do próprio Olmos, pelo partido governista.
"Tudo foi discutido. Foi uma reunião boa e franca", acrescentaram as fontes consultadas por este jornal.
Nesta semana, a Justiça Eleitoral expressou sua preocupação com a suficiência de cédulas para a fórmula Milei-Villarruel, já que a LLA entregou o número mínimo de cédulas por urna, que é de 100, mas um máximo de 350. Nesse contexto, Schimmel disse:
- Como não é uma obrigação, o partido pode se limitar a entregar essa quantidade mínima para a instalação inicial da mesa e depois assumir o compromisso de reabastecer as cédulas por conta própria.
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