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Por — Buenos Aires

Um dia após uma vitória eleitoral histórica sobre peronistas e kirchneristas, o presidente eleito da Argentina, Javier Milei, confirmou sua decisão de fechar o Banco Central e anunciou que pretende privatizar empresas estatais, entre elas a companhia petrolífera YPF — estatizada pelos governos kirchneristas — e empresas de comunicação públicas. Mas o que ultradireitista não disse, e analistas locais alertam, é que, para avançar com sua agenda, precisará de aval do Congresso, onde não tem maioria mesmo com os deputados e senadores de seus principais sócios políticos: o ex-presidente Mauricio Macri e a ex-candidata presidencial Patricia Bullrich.

— Na transição que estamos pensando, na questão energética, a YPF e a Enarsa [petrolífera] têm um papel — declarou Milei, em entrevista a uma rádio local. — Quando essas estruturas forem racionalizadas serão colocadas para criar valor, para que possam ser vendidas de forma muito benéfica para os argentinos.

Na mesma entrevista, o presidente eleito disse que a TV pública virou um "mecanismo de propaganda".

— Do que foi dito sobre nosso lado [durante a eleição], 75% foram negativos, com mentiras e apoiando a campanha do medo — disse — Não vou aderir a práticas de ter um Ministério da Propaganda.

Em outra entrevista, o presidente eleito afirmou que "fechar o Banco Central é uma obrigação" — medida que também pode precisar de aprovação do Legislativo.

— Dolarizar [a economia] é para tirar o Banco Central do caminho — disse Milei, mantendo uma das principais promessas de campanha, à qual Bullrich se opõe.

Modelo Menem

O presidente eleito costuma dizer que o primeiro governo do peronista de direita Carlos Menem (1989-1999) foi o melhor da História da Argentina, e destaca, sobretudo, sua agenda de reformas e privatizações. Menem privatizou muitas empresas estatais, mas, para isso, contou com duas medidas-chave: a Lei de Reforma do Estado e a Lei de Emergência Econômica.

Ambas, aprovadas com dois terços da Câmara e do Senado, deram a Menem amplos poderes para implementar as reformas almejadas por Milei. Contudo, a falta de apoio no Congresso deixa pairando no ar um fantasma de inviabilidade para seu futuro governo, cuja posse ocorre em 10 de dezembro.

— Só com Macri e Bullrich não será suficiente, porque Milei não terá sequer um terço dos votos na Câmara e no Senado — explica Ignacio Labaqui, consultor e professor da Universidade Católica Argentina (UCA), acrescentando: — Hoje ele não tem os votos para privatizar nada.

Milei tenta montar seu governo para alcançar apoio suficiente para suas propostas — recorrendo, inclusive, ao peronismo. Ontem, confirmou a incorporação à sua equipe do deputado Florencio Randazzo, ex-ministro do governo de Cristina Kirchner (2007-2015), que já estava distanciado do kirchnerismo. Segundo fontes do atual governo, outros peronistas poderiam seguir os passos de Randazzo.

Mas ainda não está claro se a parceria eleitoral bem-sucedida com o ex-presidente Macri e a ex-candidata Bullrich, ambos do Proposta Republicana (Pro), se transformará em uma coalizão de governo com o partido de Milei, A Liberdade Avança. O apoio do ex-chefe de Estado ao ultradireitista no segundo turno provocou, na prática, a ruptura da aliança de centro-direita Juntos pela Mudança. Resta saber se o Pro, sócio-fundador da Juntos pela Mudança, aderirá em massa a Milei.

— Milei é uma pessoa difícil de controlar — afirma Labaqui. — Imagino Macri como um assessor do presidente, uma pessoa de consultas, mas acho que rapidamente perceberá que Milei não pode ser domesticado.

Primeiras nomeações

O presidente eleito pretende reduzir de 18 para 8 o número de ministérios no Gabinete nacional, e os primeiros nomes anunciados na segunda-feira refletem um avanço nas conversas com Macri. O ex-presidente conseguiu a designação do advogado Mariano Cúneo Libarona para chefiar o Ministério da Justiça, nome que também é próximo de Milei. O economista Federico Sturzenegger, que presidiu o BC no governo Macri, é cotado para a pasta da Economia.

A economista libertária Diana Mondino continua firme para assumir o comando do Ministério das Relações Exteriores, embora tenham surgido boatos de que Macri e Bullrich pleiteiam alguém de sua confiança na Chancelaria.

O veterano Guillermo Francos, que atuou em governos peronistas e era, até há pouco tempo, representante da Argentina no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), será, como previsto, ministro do Interior. Segundo fontes próximas a Bullrich, o Pro tem interesse na secretaria de Transportes e no Ministério da Segurança.

— Macri sente que, sem seus votos e seu apoio para fiscalizar a eleição, Milei não teria obtido o resultado contundente que conseguiu e, com base nisso, está negociando [sua participação no governo] — contou uma fonte próxima da ex-candidata presidencial.

Poder nas sombras

Segundo essa fonte, o ex-presidente conseguiu que empresários interessados na vitória de Milei injetassem US$ 4 milhões na estrutura do Pro que fiscalizou a eleição de domingo.

Na opinião de Diego Reynoso, professor e pesquisador da Universidade de San Andrés, a aliança eleitoral entre Milei e Macri não necessariamente se transformará numa coalizão.

— Macri é um dos grandes vencedores da eleição e vai querer sua fatia do poder — aponta Reynoso. — Macri será, sem dúvidas, um poder nas sombras, mas também medirá com cuidado cada um de seus passos.

Em meio a isso, um encontro previsto entre Milei e o presidente Alberto Fernández foi adiado, enquanto a vice Cristina deve passar vários dias na Itália, onde dará uma palestra. Derrotado nas urnas, o ministro da Economia, Sergio Massa, flertou com a possibilidade de deixar o cargo, mas formou, no final da tarde de ontem, uma equipe para a transição — da qual não participará.

Nesse cenário, há uma sensação de vácuo político enquanto, até a posse de Milei, o país precisa saldar compromissos externos e renovar pactos de congelamento de preços, entre outras questões emergenciais.

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