O presidente Luiz Inácio Lula da Silva instalou, nesta quinta-feira, a estrutura administrativa para a presidência brasileira no G20 (grupo que reúne as maiores economias do mundo), que começa em 1º de dezembro. Durante a abertura da reunião, Lula citou os pontos prioritários da gestão brasileira, entre eles o combate à fome, às mudanças climáticas e energia verde, e voltou a criticar o funcionamento de instituições multilaterais de crédito, afirmando que a questão será discutida no G20.
O Brasil defende que instituições multilaterais de crédito, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, deem prioridade às necessidades das nações em desenvolvimento, sobretudo na área de infraestrutura, e estudem formas de renegociação de dívidas de países em dificuldades, como a Argentina. Lula afirmou que quer "aproveitar o Brasil (na presidência), e fazer essa grande discussão".
— Um terceiro tema que vamos discutir é a questão da governança mundial. Não é possível que as instituições de Bretton Woods, Banco Mundial, FMI, e tantas outras instituições financeiras continuem funcionando como se nada tivesse acontecendo no mundo, como se tivesse tudo resolvido, muitas vezes instituições que emprestam dinheiro, não com o objetivo de salvar o país que está tomando o dinheiro emprestado, mas para pagar dívida, e não para produzir um ativo produtivo, em uma demonstração que não há contribuição para salvar a vida dos países, estamos vendo o que aconteceu na Argentina, estamos vendo o continente africano com US$ 800 bi de dívida e que se não houver uma rediscussão de como fazer financiamento para países pobres a gente não vai ter solução.
A Comissão Nacional para a Coordenação da Presidência Brasileira do G20 é formada por 39 órgãos do governo, divididos em dois grupos principais: um para representar os líderes do G20 e outro voltado para questões financeiras. Na reunião desta quinta-feira, Lula estava acompanhado por ministros de estado e pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) e pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso.
Na presidência do G20, o Brasil terá o desafio de emplacar as prioridades da política externa de Lula nos debates entre os líderes das maiores economias do planeta. A presidência do Brasil terá mandato de um ano, que terminará com um encontro de líderes do bloco em novembro de 2024, no Rio de Janeiro. Antes disso, haverá centenas de reuniões ministeriais, técnicas e envolvendo representantes da sociedade civil em várias cidades brasileiras.
O Brasil trabalhará com três pilares até novembro de 2024, quando passará a presidência do bloco para a África do Sul: combate à fome, à pobreza e à desigualdade; desenvolvimento sustentável a partir da harmonização entre meio ambiente, economia e políticas sociais; e governança global, que, na visão de Lula, não atende às necessidades das nações em desenvolvimento.
Na reunião desta quinta-feira, Lula afirmou que criou três forças-tarefa para tratar de alguns dos pontos priritários: fome, desigualdade e mudança do clima, além de uma iniciativa para a bioeconomia.
— E a gente vai criar aqui, e hoje é importante anunciar para vocês, hoje estamos criando duas força-tarefas, uma contra a fome e a desigualdade e outra contra a mudança do clima. Também vamos lançar uma iniciativa para a bioeconomia.
O presidente disse ainda que a presidência do Brasil no G20 terá ampla participação popular para que seja possível apresentar algo "concreto" no final da gestão.
— Vamos ter uma novidade que vamos fazer aqui um grande evento de participação popular. Vamos tentar envolver a sociedade brasileira, sem nenhum veto a qualquer segmento da sociedade, para participar e construir propostas para que a gente possa ao terminar o G20 a gente ter algo concreto para que a gente possa dizer ao povo brasileiro e ao mundo que vamos começar a mudar
O presidente afirmou ainda que haverá um grupo de trabalho sobre empoderamento das mulheres e citou uma iniciativa do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) para um encontro de mulheres parlamentares.
— O Lira tava me dizendo uma coisa que que ele pretende fazer que é tentar fazer um encontro de mulheres, porque as mulheres vão ser muito empoderadas no G20. É importante as companheiras mulheres que estão aqui tenham em conta que ele está pretendendo fazer um encontro de mulheres parlamentares, mas não vamos deixar nenhum segmento da sociedade fora do debate do G20 [...] Ainda vamos instalar um grupo de trabalho sobre empoderamento das mulheres implementando as decisões adotadas por todos nós na cúpula de líderes de Noa Deli.
Nesta quarta-feira, Lula participou de uma reunião de cúpula virtual do G20 para encerrar o mandato da Índia na presidência do grupo. Na ocasião, Lula elogiou o acordo anunciado por Israel, que envolve a libertação de reféns, mulheres e crianças, em troca de uma trégua temporária de quatro dias e a libertação de prisioneiros palestinos. Lula afirmou esperar que a medida contribua para uma solução pacífica na guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
Na reunião com a cúpula, Lula afirmou que a partir de 1º de dezembro, quando assumir a presidência do grupo, o governo brasileiro vai divulgar um calendários e notas conceituais que vão orientar os trabalhos nas várias instâncias do G20.
No dia 13 de dezembro, Lula vai receber em Brasília representanters das áreas políticas e financeiras do bloco. Na presidência do G20, a diplomacia brasileira terá de demonstrar capacidade de construir consensos em torno das soluções, em um mundo polarizado entre Estados Unidos e China e com conflitos que atingem regiões importantes,, como o Leste Europeu (Ucrânia x Rússia) e Oriente Médio (Israel x Hamas).
O fim do estado de paralisia da Organização Mundial do Comércio (OMC) e a reforma do Conselho de Segurança da ONU, que hoje conta com apenas cinco países como membros permanentes e com direito a veto — Estados Unidos, França, Reino Unido, China e Rússia — também estão na pauta.
O lema da presidência brasileira é "construindo um mundo justo e um planeta sustentável". Segundo Lula já afirmou em outras ocasiões, a ideia é buscar resultados concretos, que gerem benefícios para os mais pobres e vulneráveis.
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